Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/10/2005 - 14h25

Vaticano aposta em ida do papa ao Brasil para recuperar fiéis

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

O comando da Igreja Católica aposta na viagem do papa Bento 16 ao Brasil, em 2007, para tentar reverter a tendência de perda de fiéis para outras religiões cristãs.

A visita, decidida depois de reuniões no Vaticano em que a situação do catolicismo na América Latina foi discutida, agradou o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes.

"Fiquei feliz (com a viagem do papa), por causa da situação do catolicismo no Brasil. Penso que isso vai trazer um impulso muito grande para a Igreja em sua atuação missionária", disse dom Cláudio à BBC Brasil.

Durante o sínodo que reuniu bispos do mundo todo no Vaticano até o último dia 23, o arecebispo de São Paulo havia falado abertamente sobre a crise do catolicismo na América Latina e no Brasil em particular.

Segundo ele, nos últimos 14 anos o número de católicos no país passou de 83% para 67% da população.

No encontro que teve com o papa, no qual estiveram presentes outros cardeais latino-americanos, dom Cláudio voltou a abordar o tema.

"Falei sobre a situação e argumentei que seria muito importante que a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano fosse na América Latina", disse Cláudio Hummes. "O papa então escolheu Aparecida e marcou para final de abril ou inicio de maio." Inicialmente Bento 16 havia pensado em realizar o encontro em Roma.

O arcebispo de São Paulo disse que o papa está preocupado com a situaçao da Igreja Católica no continente.

"Não digo que seja por isso que decidiu pela viagem, mas foi um dos motivos. A gente percebia que ele estava realmente preocupado com a América Latina e com o Brasil."

'Grande desafio'

O fenômeno da perda de fiéis na região foi examinado recentemente pelo cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a União dos Cristãos.

Ele esteve em São Paulo no final de setembro e fez um relatório para o papa sobre a situação na América Latina, definindo o problema como um grande desafio para a Igreja Católica.

"Seguramente há uma ligação entre esse problema e a decisão do papa de fazer a viagem ao Brasil", disse o caredal Kasper à BBC Brasil. "Na próxima sessão plenária da Celam devemos refletir sobre isso. Temo muito seriamente."

No discurso que fez durante o sínodo, dom Cláudio Hummes apontou o surgimento das igrejas neo-pentecostais como uma das principais causas do abandono de fieis católicos.

Mas o cardeal Kasper, que, como o papa, é alemão, disse que por enquanto não é possivel estabelecer um diálogo verdadeiro com as igrejas neo-pentecostais, como acontece com as pentecostais tradicionais.

"Há mais agressividade e proselitismo. Isso faz com que sofram todas as igrejas tradicionais, não apenas a Católica. E dificulta o diálogo, que pressupõe respeito recíproco", declarou.

Na sua opinião, para um diálogo teológico é preciso que haja especialistas preparados, o que não há.

"Então nós temos que tomar consciência pastoral, refletir sobre o que falta em nós, sobre por que esses fiéis deixam a Igreja, o que podemos e o que devemos mudar."

Responsabilidades da Igreja

O analista de assuntos vaticanos Giancarlo Zizola acredita que um exame de consciência da Igreja Católica seja necessario.

Ele considera que a situação na América Latina é "catastrófica do ponto de vista da prática religiosa" e que dom Cláudio Hummes foi corajoso ao expor o problema para o papa.

Segundo Zizola, é preciso mudar o sistema atual de catequese, e a Igreja deve reconhecer as próprias responsabilidades na crise.

"Por exemplo, reconhecer que foi um desastre ter condenado a teologia da libertação", disse o analista à BBC Brasil. "Isso levou a uma crise de identidade para toda a Igreja latino-americana."

Na opinião do arcebispo de Salvador da Bahia e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo, os católicos não são os únicos a perder com as neo-pentecostais e outras religiões.

"Todos perdem, porque a situação do mundo mudou muito", disse. "Neste mundo globalizado e subjetivista, a religiao é vista como um objeto."

Mas, segundo o presidente da CNBB, não há uma competição acirrada com os pentecostais. "Não estamos fazendo competição, no sentido de quem grita mais alto. Nós queremos é estudar e aprofundar a nossa fé."

A possibilidade de o papa Bento 16 visitar o Brasil já tinha sido oferecida antes pela CNBB. O convite era para participar do Congresso Eucarístico Nacional, em maio do ano que vem. Mas o papa disse que não podia.

Bento 16, de 78 anos, já demonstrou ter um ritmo diferente de seu predecessor, Joao Paulo 2º, principalmente no que se refere a viagens. Para o ano que vem, por ora estão programadas apenas duas: para Polônia e Turquia.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página