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11/11/2005
-
10h50
da BBC Brasil, em Tel Aviv
Um ano após a morte do líder palestino Yasser Arafat, o governo de Israel praticamente não mudou sua política em relação ao conflito com os palestinos.
Israel classificava Arafat como um "arquiterrorista" e o "principal obstáculo para a paz". Muitos políticos do país chegaram a dizer que sua morte poderia abrir um novo horizonte na tentativa de uma solução do conflito na região.
Passados 12 meses, porém, as negociações de paz continuam paradas, e Israel continua ampliando seus assentamentos na Cisjordânia e construindo a barreira que anexa parte dessa área aos territórios israelenses – a única mudança relevante foi a retirada da Faixa de Gaza, algo feito de forma unilateral.
O sucessor de Arafat, o presidente eleito poucos meses após sua morte, Mahmoud Abbas, é descrito por algumas autoridades israelenses como "fraco" e "impotente".
De acordo com boa parte do governo de Israel, a diferença entre Arafat e Abbas se encontra nas intenções: para eles, Arafat "não queria" enquanto Abbas "não é capaz" de fazer o necessário para levar adiante as negociações.
Do ponto de vista de Israel, porém, o resultado é o mesmo: eles continuam afirmando que não têm "um parceiro palestino" para avançar no processo de paz.
O primeiro-ministro Ariel Sharon diz que uma condição prévia para continuar qualquer negociação política com a liderança palestina é o desmantelamento dos grupos militantes.
"Sem a destruição da infra-estrutura terrorista não haverá qualquer avanço no processo de paz", afirma Sharon.
Já o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, é ainda mais incisivo: "Não é possível chegar a um acordo de paz com a atual liderança palestina, talvez isso seja possível na próxima geração".
A suposta inexistência de um parceiro torna muito difícil a negociação. E, enquanto uma solução não é encontrada, a construção de novos assentamentos de Israel na Cisjordânia aumenta cada vez as dificuldades para a criação de um Estado palestino.
De acordo com os cálculos de analistas, levando-se em conta as áreas já ocupadas e outras que estão começando a ser exploradas, Israel deverá controlar cerca de 58% da área total da Cisjordânia.
Nos 42% restantes do território, seria muito difícil, na opinião de analistas, criar um Estado palestino viável, pois o território seria pequeno e não teria continuidade – seriam criados quatro "cantões" desconectados, separados por assentamentos e áreas de controle israelense.
Para o jornalista israelense Uri Avnery, a desqualificação de Mahmoud Abbas como parceiro para as negociações é uma forma de "eliminá-lo politicamente".
"É impossível demonizar Abbas como foi feito com Yasser Arafat", afirma Avnery, "pois o mundo inteiro o considera um líder moderado".
"Também não é possível eliminar Abbas como foi feito com o Sheikh Ahmed Yassin, líder do Hamas, mas é possível eliminá-lo politicamente, o apresentando como incapaz. Desta maneira Ariel Sharon preserva seu principal slogan – 'não temos com quem conversar' – e pode continuar tomando medidas unilaterais e criando uma situação consumada na Cisjordânia."
Segundo o analista Akiva Eldar a paralisação das negociações de paz com a liderança palestina fortalece grupos radicais como o Hamas. "Sem negociações de paz, Mahmoud Abbas não tem o que 'vender' ao público palestino e a falta de esperança no caminho do diálogo fortalece as facções religiosas e ultra-nacionalistas que são contra qualquer concessão.
"O governo de Sharon e Peres destruiu a infra-estrutura política e física do governo de Arafat e agora está impedindo Mahmoud Abbas de reconstruir essa infra-estrutura. Dessa maneira, Israel transmite ao publico palestino a mensagem de que 'os heróis' do Hamas levaram os israelenses a se retirar da Faixa de Gaza enquanto os 'bons meninos' da Autoridade Palestina vão ate Washington para negociar, mas voltam de mãos vazias."
Israel manteve política mesmo após morte de Arafat
GUILA FLINTda BBC Brasil, em Tel Aviv
Um ano após a morte do líder palestino Yasser Arafat, o governo de Israel praticamente não mudou sua política em relação ao conflito com os palestinos.
Israel classificava Arafat como um "arquiterrorista" e o "principal obstáculo para a paz". Muitos políticos do país chegaram a dizer que sua morte poderia abrir um novo horizonte na tentativa de uma solução do conflito na região.
Passados 12 meses, porém, as negociações de paz continuam paradas, e Israel continua ampliando seus assentamentos na Cisjordânia e construindo a barreira que anexa parte dessa área aos territórios israelenses – a única mudança relevante foi a retirada da Faixa de Gaza, algo feito de forma unilateral.
O sucessor de Arafat, o presidente eleito poucos meses após sua morte, Mahmoud Abbas, é descrito por algumas autoridades israelenses como "fraco" e "impotente".
De acordo com boa parte do governo de Israel, a diferença entre Arafat e Abbas se encontra nas intenções: para eles, Arafat "não queria" enquanto Abbas "não é capaz" de fazer o necessário para levar adiante as negociações.
Do ponto de vista de Israel, porém, o resultado é o mesmo: eles continuam afirmando que não têm "um parceiro palestino" para avançar no processo de paz.
O primeiro-ministro Ariel Sharon diz que uma condição prévia para continuar qualquer negociação política com a liderança palestina é o desmantelamento dos grupos militantes.
"Sem a destruição da infra-estrutura terrorista não haverá qualquer avanço no processo de paz", afirma Sharon.
Já o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, é ainda mais incisivo: "Não é possível chegar a um acordo de paz com a atual liderança palestina, talvez isso seja possível na próxima geração".
A suposta inexistência de um parceiro torna muito difícil a negociação. E, enquanto uma solução não é encontrada, a construção de novos assentamentos de Israel na Cisjordânia aumenta cada vez as dificuldades para a criação de um Estado palestino.
De acordo com os cálculos de analistas, levando-se em conta as áreas já ocupadas e outras que estão começando a ser exploradas, Israel deverá controlar cerca de 58% da área total da Cisjordânia.
Nos 42% restantes do território, seria muito difícil, na opinião de analistas, criar um Estado palestino viável, pois o território seria pequeno e não teria continuidade – seriam criados quatro "cantões" desconectados, separados por assentamentos e áreas de controle israelense.
Para o jornalista israelense Uri Avnery, a desqualificação de Mahmoud Abbas como parceiro para as negociações é uma forma de "eliminá-lo politicamente".
"É impossível demonizar Abbas como foi feito com Yasser Arafat", afirma Avnery, "pois o mundo inteiro o considera um líder moderado".
"Também não é possível eliminar Abbas como foi feito com o Sheikh Ahmed Yassin, líder do Hamas, mas é possível eliminá-lo politicamente, o apresentando como incapaz. Desta maneira Ariel Sharon preserva seu principal slogan – 'não temos com quem conversar' – e pode continuar tomando medidas unilaterais e criando uma situação consumada na Cisjordânia."
Segundo o analista Akiva Eldar a paralisação das negociações de paz com a liderança palestina fortalece grupos radicais como o Hamas. "Sem negociações de paz, Mahmoud Abbas não tem o que 'vender' ao público palestino e a falta de esperança no caminho do diálogo fortalece as facções religiosas e ultra-nacionalistas que são contra qualquer concessão.
"O governo de Sharon e Peres destruiu a infra-estrutura política e física do governo de Arafat e agora está impedindo Mahmoud Abbas de reconstruir essa infra-estrutura. Dessa maneira, Israel transmite ao publico palestino a mensagem de que 'os heróis' do Hamas levaram os israelenses a se retirar da Faixa de Gaza enquanto os 'bons meninos' da Autoridade Palestina vão ate Washington para negociar, mas voltam de mãos vazias."
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