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14/11/2005 - 20h48

Filme palestino estréia em Israel

KATHRYN WESTCOTT
da BBC Brasil

Um filme que trata de militantes suicidas, feito por um cineasta palestino, estreou em um dos cinemas de Tel Aviv, em Israel, após ter tido sua exibição cancelada em Londres depois dos ataques extremistas na cidade, em 7 de julho.

O diretor palestino Hany Abu-Assad disse que sabia que estava entrando numa espécie de campo minado quando foi a Nablus, por volta de junho de 2004, para filmar o longa "Paradise Now" ("Paraíso Agora", em tradução livre).

Clique aqui para ver fotos do filme

Abu-Assad corria o risco de ser acusado de glorificar atos extremos de terrorismo contra Israel ou então de trair a resistência palestina contra a ocupação israelense.

Mas, apesar de seu tema polêmico, o longa foi bem recebido em vários lugares, e estreou também na França, Alemanha e Estados Unidos.

"Paradise Now" fechou acordos de distribuição com 45 países e venceu vários prêmios. Também foi aceito como o concorrente palestino a uma vaga na disputa do Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro.

Surpresa

O filme, que ia ser exibido em Londres em um festival de cinema, conta a história de dois militantes que vão a Tel Aviv cumprir sua missão suicida.

Em uma entrevista por telefone, de Israel, o cineasta Hany Abu-Assad, de 43 anos, admitiu que estava "muito surpreso" pelo fato de que seu longa ter gerado pouca controvérsia.

Ele esperava uma reação mais forte de grupos que poderiam achar o longa favorável aos suicidas, mas também esperava uma resposta negativa por parte dos palestinos.

No entanto, o diretor afirma que um dos motivos para a falta de controvérsia é que seu longa "permite que as pessoas pensem, e é impossível lutar contra qualquer filme que permite que você pense".

O cineasta conta que quase todos os dias os jornais trazem notícias de ataques suicidas e ele começou a se perguntar o que levaria uma pessoa a cometer tais atos.

"Eu tive a idéia do longa enquanto pensava em fazer um filme de suspense. O ato de se matar e, ao mesmo tempo, matar o inimigo, era (perfeito para) um filme de suspense. É a coisa mais horrível que qualquer pessoa pode fazer e fica ainda mais horrível porque pouco se sabe a respeito das pessoas que cometem esta violência extrema", afirmou.

Abu-Assad conversou com pessoas que conheciam suicidas, coletou informações com advogados de militantes que tentaram ataques suicidas e estudou relatórios de autoridades de segurança israelenses que entrevistaram os militantes que tentaram e não conseguiram explodir seus dispositivos.

Autenticidade

Hany Abu-Assad queria fazer o filme da forma mais autêntica possível, gravando em Nablus, Cisjordânia, um dos centros de militância palestina.

O próprio cineasta reconhece que foi uma "idéia insana" filmar em tais circunstâncias.

As filmagens eram regularmente interrompidas por tiroteios entre palestinos e israelenses, além das incursões do Exército de Israel na área.

A equipe era exposta diariamente a ataques com mísseis de Israel e também às brigas entre facções palestinas.

Um membro da equipe foi seqüestrado depois que surgiram boatos de que o longa era contra os ataques suicidas. Seis integrantes da equipe, europeus, fugiram depois de um míssil israelense atingir um carro que estava próximo das locações. Algumas das cenas do longa tiveram que ser filmadas em Nazaré.

"A filmagem foi incrivelmente difícil. Além de filmar em uma área de ocupação, algumas facções palestinas pensaram que eu não estava apresentando de boa forma o que eles chamam de seus heróis, os suicidas. Eles ordenaram a interrupção das filmagens", disse o cineasta, que ignorou a ordem.

O longa se concentra na luta psicológica de Khalid e Said, dois amigos que têm empregos medíocres em Nablus.

Os dois jovens, amigos de infância, são voluntários para ataques suicidas. Depois de uma última noite com suas famílias, eles são levados à fronteira, com bombas atadas aos seus corpos.

Entretanto, a operação não sai como o esperado e eles se separam.

Em algumas cenas, os dois questionam o martírio. O cineasta explora as ansiedades humanas, os dilemas, a eficácia ou o fracasso dos ataques suicidas.

Humanizando heróis

"Uma facção palestina, em particular, não estava feliz com a idéia de humanização de seus heróis, queria que eles fossem retratados como super-heróis, que sabiam o que estavam fazendo. Não como humanos, cheios de dúvidas. Ironicamente, alguns israelenses tiveram uma resposta parecida, não gostavam da idéia de suicidas sendo mostrados como seres humanos", disse o cineasta Hany Abu-Assad.

Mas, segundo o diretor, as facções palestinas em geral ficaram satisfeitas com o longa, alguns até participaram como figurantes.

O filme tem um co-produtor israelense, conta com o apoio do Fundo Israelense para o Cinema e seu presidente, Katriel Schory, afirma que é importante que os israelenses assistam a "Paradise Now".

"O filme é de ficção, mas há elementos que estão próximos à situação na Cisjordânia. Se cria debate e levanta questões, então é algo bom. Seria bom para os israelenses ter uma visão do comportamento e da psique dos palestinos", disse Schory.

O cineasta afirma que espera gerar o diálogo, mas permanece realista e sabe que filmes "não mudam nada, apenas permitem o questionamento".

"Os israelenses estão ocupados com o lado feio da ocupação --o poder, e os postos de fiscalização, e os tanques-- para oprimir os palestinos. Para mim, o que é importante é fazer algo belo de tudo isso, contar uma história", disse Abu-Assad.

Em uma exibição recente de "Paradise Now" em Washington, Estados Unidos, o cineasta palestino disse à platéia que queria que a história fosse uma "metáfora para emoções que todos podemos ter... Esta é a história da humanidade".

"Eu queria desafiar a lógica e a força e produzir algo que a história não vai esquecer. Tudo é que posso ser é uma testemunha".
 

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