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28/11/2005 - 15h37

Disputa com Kirchner derruba ministro da Economia

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, foi demitido nesta segunda-feira e será substituído pela presidente do Banco Nación, Felisa Miceli.

O anúncio feito pelo chefe de gabinete da Casa Rosada, Alberto Fernández, foi imediatamente divulgado pelas principais emissoras de televisão da Argentina.

Lavagna sai depois de um fim de semana de boatos sobre sua demissão e em meio a fortes críticas do presidente Nestor Kirchner contra o aumento da inflação.

O agora ex-ministro teria desafiado o presidente ao comparecer a um encontro de empresários, reunidos no balneário de Mar del Plata, na semana passada.

Ataque a empresários

Em discurso no dia anterior, na Casa Rosada, Kirchner atacou os empresários que estavam naquele encontro. Seus ataques foram especialmente contra os donos de supermercados.

Kirchner disse que eles estão estimulando a alta de preços. O presidente esperava, segundo assessores do governo, que o ministro não comparecesse àquele encontro, num gesto de apoio às suas críticas.

Para completar, Lavagna também disse na semana passada que o setor da construção civil estava “cartelizado” e insinuou que havia corrupção entre esta área e o governo federal.

As palavras foram interpretadas pela imprensa argentina e pela oposição como uma indireta ao ministro do Planejamento, Júlio de Vido, homem forte do governo Kirchner.

Surpresa no mercado

A saída de Lavagna surpreendeu analistas e o mercado financeiro, já que não era a primeira vez que surgiam boatos sobre sua eventual saída.

Com a decisão do ministro, que há dias não conseguia ser atendido pelo presidente sequer pelo telefone, Kirchner aproveitou para anunciar outros novos ministros.

Neste caso, os ministros da Defesa, José Pampuro, das Relações Exteriores, Rafael Bielsa, e do Desenvolvimento Social, Alícia Kirchner, irmã do presidente, deixam os cargos porque foram eleitos deputados federais na última eleição legislativa, de 23 de outubro passado.

No lugar de Pampuro entra a atual embaixadora da Argentina na Venezuela, Nilda Garré, no Desenvolvimento Social, Juan Carlos Nadalich, e na pasta das Relações Exteriores, Jorge Taiana, que até aqui era vice-chanceler de Bielsa.

Interferência

Analistas entendem que Felisa Miceli, que chegou ao governo pelas mãos de Lavagna, permitirá maior “interferência” do presidente na condução da política econômica, o que o ex-ministro não autorizava.

Lavagna até mostrava insatisfação, por exemplo, com o papel do presidente do Banco Central, Martín Redrado, que seria mais simpático às opiniões do presidente sobre como administrar a área financeira.

Consultado pela emissora de TV TN (Todo Notícias), o ex-ministro da Economia Ricardo López Murphy foi cauteloso quando perguntado sobre o que espera do papel de Felisa Miceli: “Nós até trabalhamos juntos, mas eu preferia esperar os anúncios que ela fará para depois emitir opinião. O fato é que o país tem um problema, a alta da inflação, e o problema existe com ou sem Lavagna”.

O economista Roberto Lavagna assumiu o ministério da economia em meio à pior crise da Argentina, em janeiro de 2002, poucos dias após a queda do presidente Fernando de la Rúa.

Escolhido pelo presidente interino Eduardo Duhalde, Lavagna reabriu bancos, apoiou a desvalorização do peso e o aumento de salários. Ele era ferrenho opositor do regime de conversibilidade, que atrelou o peso ao dólar durante os anos de governo de Carlos Menem, na década de 1990.

Para o economista Orlando Ferreres, da consultoria Ferreres e Associados, Felisa não fará uma administração diferente da que implementou Lavagna.

O ex-ministro sai, curiosamente, horas antes do encontro, nesta quarta-feira, entre os presidentes Lula e Kirchner para marcar os vinte anos do Mercosul.

Lavagna havia dito que esta reunião seria “apenas meramente protocolar” caso os dois presidentes não assinassem documento criando uma cláusula limitando as exportações de um país para o outro, em caso de “invasões” como a que ocorre agora, segundo ele, de diferentes setores do Brasil para a Argentina.
 

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