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29/11/2005
-
12h43
da BBC Brasil, em Paris
Na aparência, o Partido Socialista (PS) francês parece preparado para enfrentar a direita nas eleições presidenciais de 2007. No último sábado, dia 26, François Hollande, de 51 anos, foi reeleito primeiro-secretário do PS.
No Congresso do partido, na semana passada, em Mans, o grande trunfo de Hollande foi ter criado uma "síntese" entre as facções de seu partido. Mas até quando vai durar essa união, concebida num momento de emergência, no qual jovens de subúrbios estão prontos a destruir o país?
O PS lembra o Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: é um saco de gatos.
Na verdade, as divisões do PS são anteriores às revoltas desses jovens, marginalizados pela sociedade francesa.
Remonta a 29 de maio, quando uma ala, considerada mais à esquerda, do PS, votou em referendo nacional contra a proposta de Constituição Européia (CE). A ala de Hollande, por sua vez, era favorável à Carta – e ao seu mercado europeu único.
Resumindo: os chamados "nonistes" (os que disseram não à Carta), liderados pelo ex-premiê Laurent Fabius, seriam em tese antiliberais. Por sua vez, Hollande e seus asseclas seriam os neoliberais da esquerda.
Mas, apesar das supostas diferenças, o objetivo de Hollande é unir as esquerdas, incluindo o Partido Comunista Francês (PCF) e a Liga comunista revolucionária (LCR).
Assim, Hollande colocou também um fim no "divórcio" com Fabius (criado após o voto contra a CE, em 29 de maio). Hollande e Fabius foram fotografados como velhos amigos, que superaram uma pequena desavença.
E Hollande deu ao ex-primeiro-secretário do PS Henri Emanuelli (1994-1995), este à esquerda do PS, a tarefa de eliminar essa divisão entre pró-europeus e eurocéticos. Emanuelli é o homem que também poderia fazer o elo – fundamental – do PS com o PCF e a LCR.
Exemplo italiano
Essa suposta amizade entre as esquerdas – Hollande o diz abertamente –baseia-se no exemplo dado por Romano Prodi, ex-premiê italiano e ex-presidente da Comissão da União Européia (UE). Prodi, de 65 anos, organizou a primeiras primárias, à americana, na história da Europa.
Em 16 de outubro, mais de 4 milhões de italianos foram às urnas para votar num dos candidatos da Unione, a coalizão de centro-esquerda, na Itália. O democrata-cristão Prodi recebeu 74,1% dos votos. Portanto, será o candidato das esquerdas nas Legislativas de 9 de abril.
Dominique Moisi, reputado professor de Ciências Políticas e um dos fundadores do Instituto Francês de Relaçoes Internacionais (Ifri), disse à BBC Brasil: "A idéia das primárias não é ruim, é um mecanismo interessante. E pode funcionar na França. Mas você não vai, através delas, magnificar um homem, no caso Prodi – ou um político francês. Para um político ser eleito presidente, ele precisa de algo mais."
De fato, Hollande é articulado. É acessível. Adora falar de futebol, gosta de doces de chocolate, uma sensibilidade que parece enternecer os franceses.
Em 2007, ele terá ocupado, por dez anos, o importante cargo de líder do PS. Posto ocupado por François Mitterrand de 1971 a 1981 – e que lhe serviu de trampolim para a Presidência da França, de 1981 a 1995.
Mas Hollande está longe de ser o estadista que foi, com todas as suas falhas, Mitterrand. Como disse Emanuelli, ao diário Libération, "O novo Mitterrand ainda não chegou".
Ironicamente, a personalidade mais cotada no momento para a candidatura da esquerda em 2007 é a deputada socialista Ségolène Royal, mulher de Hollande. Mas essa é a opiniao da mídia, não o veredicto do público.
Durante o Congresso do PS, Royal declarou: "Este é o congresso de François (Hollande), não quero interferir".
Mas na hora da briga pela candidatura, talvez em primárias, há pelo menos seis candidatos socialistas na linha de partida. Nenhum, como os candidatos à direita, parece ter as respostas para os problemas que assolam a França.
Análise: Oposição socialista continua dividida na França
GIANNI CARTAda BBC Brasil, em Paris
Na aparência, o Partido Socialista (PS) francês parece preparado para enfrentar a direita nas eleições presidenciais de 2007. No último sábado, dia 26, François Hollande, de 51 anos, foi reeleito primeiro-secretário do PS.
No Congresso do partido, na semana passada, em Mans, o grande trunfo de Hollande foi ter criado uma "síntese" entre as facções de seu partido. Mas até quando vai durar essa união, concebida num momento de emergência, no qual jovens de subúrbios estão prontos a destruir o país?
O PS lembra o Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: é um saco de gatos.
Na verdade, as divisões do PS são anteriores às revoltas desses jovens, marginalizados pela sociedade francesa.
Remonta a 29 de maio, quando uma ala, considerada mais à esquerda, do PS, votou em referendo nacional contra a proposta de Constituição Européia (CE). A ala de Hollande, por sua vez, era favorável à Carta – e ao seu mercado europeu único.
Resumindo: os chamados "nonistes" (os que disseram não à Carta), liderados pelo ex-premiê Laurent Fabius, seriam em tese antiliberais. Por sua vez, Hollande e seus asseclas seriam os neoliberais da esquerda.
Mas, apesar das supostas diferenças, o objetivo de Hollande é unir as esquerdas, incluindo o Partido Comunista Francês (PCF) e a Liga comunista revolucionária (LCR).
Assim, Hollande colocou também um fim no "divórcio" com Fabius (criado após o voto contra a CE, em 29 de maio). Hollande e Fabius foram fotografados como velhos amigos, que superaram uma pequena desavença.
E Hollande deu ao ex-primeiro-secretário do PS Henri Emanuelli (1994-1995), este à esquerda do PS, a tarefa de eliminar essa divisão entre pró-europeus e eurocéticos. Emanuelli é o homem que também poderia fazer o elo – fundamental – do PS com o PCF e a LCR.
Exemplo italiano
Essa suposta amizade entre as esquerdas – Hollande o diz abertamente –baseia-se no exemplo dado por Romano Prodi, ex-premiê italiano e ex-presidente da Comissão da União Européia (UE). Prodi, de 65 anos, organizou a primeiras primárias, à americana, na história da Europa.
Em 16 de outubro, mais de 4 milhões de italianos foram às urnas para votar num dos candidatos da Unione, a coalizão de centro-esquerda, na Itália. O democrata-cristão Prodi recebeu 74,1% dos votos. Portanto, será o candidato das esquerdas nas Legislativas de 9 de abril.
Dominique Moisi, reputado professor de Ciências Políticas e um dos fundadores do Instituto Francês de Relaçoes Internacionais (Ifri), disse à BBC Brasil: "A idéia das primárias não é ruim, é um mecanismo interessante. E pode funcionar na França. Mas você não vai, através delas, magnificar um homem, no caso Prodi – ou um político francês. Para um político ser eleito presidente, ele precisa de algo mais."
De fato, Hollande é articulado. É acessível. Adora falar de futebol, gosta de doces de chocolate, uma sensibilidade que parece enternecer os franceses.
Em 2007, ele terá ocupado, por dez anos, o importante cargo de líder do PS. Posto ocupado por François Mitterrand de 1971 a 1981 – e que lhe serviu de trampolim para a Presidência da França, de 1981 a 1995.
Mas Hollande está longe de ser o estadista que foi, com todas as suas falhas, Mitterrand. Como disse Emanuelli, ao diário Libération, "O novo Mitterrand ainda não chegou".
Ironicamente, a personalidade mais cotada no momento para a candidatura da esquerda em 2007 é a deputada socialista Ségolène Royal, mulher de Hollande. Mas essa é a opiniao da mídia, não o veredicto do público.
Durante o Congresso do PS, Royal declarou: "Este é o congresso de François (Hollande), não quero interferir".
Mas na hora da briga pela candidatura, talvez em primárias, há pelo menos seis candidatos socialistas na linha de partida. Nenhum, como os candidatos à direita, parece ter as respostas para os problemas que assolam a França.
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