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15/12/2005 - 21h24

Argentina anuncia pagamento de dívida com o FMI

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

Quarenta e oito horas depois que o governo brasileiro informou que pagará, antecipadamente, a dívida do país com o FMI, o presidente argentino Néstor Kirchner anunciou que a Argentina fará o mesmo.

"Na data de hoje tomamos a decisão de destinar nossas reservas excedentes para o pagamento da dívida total com o FMI", disse ele, sob aplausos da platéia, reunida na Casa Rosada, edício da Presidência da República.

"Se trata de um passo conversado longamente com os presidentes do Mercosul, especialmente com os presidentes do Brasil e da Venezuela", destacou.

Segundo ele, a decisão, anunciada nessa quinta-feira, dará mais força ao país para pedir "uma profunda reestruturação deste organismo".

Única parcela

A Argentina pagará, nos últimos dias deste ano, com reservas do Banco Central, US$ 9,8 bilhões, numa única parcela, como informou o próprio presidente.

"Com esse pagamento estamos sepultando um círculo vicioso de endividamento eterno", afirmou.

Desse total, US$ 5,8 bilhões, da dívida com o organismo multilateral de crédito, venceriam no ano que vem.

Kirchner afirmou que a medida vai gerar uma poupança, em juros, de quase US$ 1 bilhão.

"Nossa decisão, nao provocará nenhum efeito monetário contrário", garantiu.

Atualmente, a Argentina tem cerca de US$ 27 bilhões de reservas na autoridade monetária e passaria a contar com aproximadamente US$ 18 bilhões, que seriam suficientes, de acordo com previsões do governo, para manter o equilíbrio monetário.

Críticas

Kirchner fez fortes críticas ao FMI, ao qual acusou de gerar "exclusão social, pobreza e concentração de renda".

No ano passado, Kirchner disse à BBC Brasil, logo após encontro com o presidente Lula, na província de Santa Cruz, na Patagônia: "Juntos, eu e Lula podemos dobrar o FMI".

O novo representante do Mercosul, o argentino Carlos "Chacho" Alvarez disse às emissoras de televisão que os países do bloco "estão muito bem coordenados", numa referência a possibilidade de que Lula e Kirchner tivessem acertado o momento para os anúncios sobre o pagamento total ao FMI.

Pouco depois de assumir o cargo, em maio de 2003, Kirchner passou a fazer críticas permanentes ao Fundo, ao qual responsabilizou, mais de uma vez, pela crise histórica vivida pelo país, em 2001.

"O FMI apoiou o regime de conversibilidade (quando o peso era atrelado ao dólar, nos anos noventa), chegou a desembolsar mais de US$ 3 bilhões ao país, pouco antes da queda de (Fernando) De la Rúa e agora nos negava ajuda", discursou. "Tivemos que pagar US$ 6,4 bilhões ao FMI. Não nos ajudaram em nada", reclamou.

Anúncio

O presidente falou diante de ministros, sindicalistas, empresários, militares, mães da Praça de Maio, entre outros que ele mesmo convocou para acompanhar o anúncio, na Casa Rosada.

"Nos livramos de um monstro", disse a presidente da entidade Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, que representa um setor das vítimas dos desaparecidos políticos durante a recente ditadura (1973-1983).

"O anúncio feito pelo Brasil, essa semana, permitiu que a Argentina faça o mesmo", disse o analista econômico Marcelo Bonelli, da emissora de televisão TN (Todo Noticias).

Para Kirchner, esse é "um momento histórico e fundamental". Segundo ele, "quiseram meter nas nossas almas que não podemos fazer nada novo". Mas erraram, disse.

Ainda de acordo com o presidente, a Argentina continua "tentando superar o inferno em que caiu", mas insinuou que agora começa uma nova etapa.

O presidente argentino destacou que a política monetária argentina será mantida, com dólar em torno dos três pesos e o objetivo de aumentar as reservas do país, em moeda internacional.

A previsão era de que a nova ministra da Economia, Felisa Miceli, informaria, nessa noite de quinta-feira, os detalhes técnicos do anúncio.

"Foi fundamental o anúncio feito pelo Brasil", disse ela, ao iniciar seu pronunciamento, diante das principais câmeras de TV do país.

Miceli disse que essa decisão não significa que a Argentina sai do FMI.

Ou seja, o país paga tudo o que deve mas continua como integrante do organismo, de acordo com as regras internacionais.

O governo argentino agora mandará o texto da medida ao Congresso que deve ratificá-lo, segundo o presidente do Banco Central, Martin Redrado.

A expectativa é que o Congresso aprove, sem problemas, a medida, que já contava com apoio dos parlamentares, segundo o governo.
 

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