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23/12/2005 - 14h11

Historiador reconstrói passos da Europa após a Segunda Guerra

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Construir uma história da Europa no pós-guerra é uma obra monumental. Poucos arquitetos estão tão bem equipados para o projeto como Tony Judt.

Aos 57 anos, ele tem mais ou menos a idade do seu objeto. Judt é um britânico, especializado em política francesa, que vive nos Estados Unidos, ensinando na New York University. Ele está profundamente envolvido no assunto, mas ao mesmo tempo preserva um certo distanciamento.

São duas histórias complementares: a ascensão da metade ocidental após 1945, em paralelo com o declínio, queda e, depois de 1989, a ascensão da banda oriental. Os anos da Guerra Fria são a fase final de um guerra civil européia iniciada em 1914, que destruiu uma civilização e gerou monstros como o fascismo e o comunismo.

Existem condições para a criação de uma nova civilização e no seu tour de force, Judt vai do desespero dos primeiros momentos da reconstrução até a indiferença ou hostilidade ao projeto de unificação continental.

Há muitas surpresas e armadilhas nesta trajetória. Judt lembra que ninguém previa a explosão de crescimento econômico na Europa Ocidental no final dos anos 50. Em 1945, Charles De Gaulle advertira os franceses que eles estavam diante de 20 anos de "esforços furiosos" para sair do buraco.

Outra surpresa: a busca de saídas no lado oriental como o "comunismo de face humana" se revelou irrelevante. Será uma nota de rodapé na história.

Os "esforços furiosos" foram facilitados pelo auto-interesse americano em reconstruir a Europa e a ameaça soviética, como escreve Judt, ofereceu um incentivo para os países da Europa Ocidental cooperarem entre si como nunca tinha acontecido".

Em uma avaliação que se contrapõe a narrativas mais conservadoras sobre o fim da Guerra Fria, Judt ressalta que o que triunfou a partir de 1989 não foi o mercado ou o sonho americano, mas a idéia de Europa em si. Para os que viviam no bloco oriental, o "oposto de comunismo não era capitalismo, mas Europa".

Judt fez um trabalho sintético (apesar de ter escrito um livro com quase 900 páginas), mas muitas de suas teses abrem espaço para polêmicas. Ele não dá o crédito para as mudanças pró-1989 ao movimento dissidente polonês Solidariedade ou às pressões do presidente americano Ronald Reagan contra o "império do mal" soviético. O verdadeiro agente da mudança, para Judt, foi o líder soviético Mikhail Gorbachev, ciente da implosão econômica do seu império e que se assustou com o desastre nuclear em Tchernobil em 1986.

Há também uma contradição na síntese de Judt. Ele expressa no final do livro um ceticismo sobre o cenário dos "Estados Unidos da Europa", na medida em que são frouxos os mecanismos para cimentar esta comunidade. Existe um fosso entre a elite europeísta e esta indiferença e mesmo hostilidade popular ao projeto de aprofundamento da união continental. Isto ficou claro neste ano na rejeição da constituição européia.

Mesmo assim, Judt sugere que os obstáculos não alteraram a preferência pela unificacão. Para ele, China e Estados Unidos serão as superpotências econômicas e militares nas próximas décadas, mas não se pode descartar o modelo do velho continente. Como conclui Judt, "o século 21 pode ainda pertencer à Europa".

Postwar: A History of Europe since 1945
Tony Judt
Penguin, 878 páginas, US$ 39,95
 

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