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26/12/2005 - 09h33

Um ano depois do tsunami, 160 mil ainda vivem em campos em Aceh

ILLANA REHAVIA
da BBC Brasil, em Banda Aceh

Um ano depois do tsunami que devastou parte da Província de Aceh, na ilha de Sumatra, na Indonésia, 160 mil pessoas continuam sem casa, vivendo em barracas ou alojamentos temporários.

A cidade fica perto do epicentro do terremoto que gerou a onda gigante no Oceano Índico. Quase metade das pelo menos 225 mil pessoas que morreram ou desapareceram em vários países da Ásia estava na província de Aceh.

Até agora, cerca de 16 mil casas já foram construídas e outras 16 mil ainda estão em fase de construção, e deverão ficar prontas no início de 2006.

No centro da cidade, pouco lembra a tragédia do tsunami. Mas à medida que se chega perto da costa, a paisagem muitas vezes lembra um gigante canteiro de obras. Outras vezes, um imenso campo de refugiados.

Mapeamento

A Agência de Reabilitação e Reconstrução do governo indonésio para a região de Aceh e Nias (BRR, na sigla em inglês) foi criada há sete meses para coordenar a reconstrução de casas e infra-estrutura.

Segundo o diretor da agência, Eddy Purwanto, o governo pretende resolver a situação até 2007.

"Um dos problemas é que muitas pessoas não têm certificados de propriedade de terra", disse Purwanto.

"Para resolver isso, nós estamos fazendo um extenso mapeamento da comunidade e vamos emitir 300 mil certificados de propriedade de terra nos próximos meses nas áreas atingidas."

Abrigos Temporários

Nos campos de abrigo temporário, a situação é muitas vezes precária, principalmente para as cerca de 60 mil pessoas que ainda vivem em tendas.

No campo de Lhok Nga, improvisado na beira de uma estrada, famílias inteiras vivem há um ano em tendas de não mais que dois metros quadrados.

A situação piora com a chegada das chuvas, já que muitas das tendas são frágeis demais para conter a água.

"Nós não temos emprego e os mantimentos só vêm uma vez por mês", contou Rumiati, moradora da barraca, que como muitos indonésios usa apenas um nome.

"Mas o que eu mais quero é ter uma casa de verdade novamente."

Dos US$ 7 bilhões que ainda serão necessários para esse processo de reconstrução, o governo estima que dois terços virão de ONGs e países doadores.

A presença das ONGs em Banda Aceh é difícil de ser ignorada.
Por toda a cidade, os emblemas de organizações como Cruz Vermelha, Oxfam, Cafod, Christian Aid, Muslim Aid estão em carros e projetos de construção.

Coordenação

Essa presença tão intensa gerou problemas de coordenação entre as diferentes organizações, principalmente logo depois do tsunami, de acordo com um relatório da Cruz Vermelha.

"Com a quantidade de entidades trabalhando aqui é possível que tenha havido essa dificuldade de coordenar no início, mas isso é cada vez mais difícil de acontecer", disse Claude St. Pierre, coordenador de programas da ONG Oxfam em Banda Aceh.

"Eu acredito que esse problema possa ter sido gerado pela combinação do tamanho da necessidade com o tamanho da generosidade do público, das doações", afirmou.

O montante de doações do público a essas ONGs é o maior da história.
Agora, de acordo com St. Pierre, o papel de cada organização está mais claro. A Oxfam, por exemplo, se concentra em reconstrução e saneamento.

Em um dos projetos da ONG, o campo de Lambateung, casas tradicionais de Aceh estão sendo construídas em conjunto com a organização local Muslim Aid.

A casa de Fatma Zupra é um sobrado arejado de madeira e tradicionais pilares feitos de tronco de coqueiro.

Assim como nas barracas de Rumiati, cinco pessoas moram no sobrado. A diferença entre uma e outro é imensa.
Futuro melhor

A alguns metros de Lambateung, mulheres da comunidade fazem treinamento de saúde e saneamento básico em uma casa em construção.

O treinamento é parte de uma série de projetos para habilitar a população a ter um futuro melhor. E, apesar de toda a destruição, a esperança desse futuro está presente em muitas pessoas.

Em um mercado da cidade, Nordieida, de 16 anos, mostra orgulhosa a lojinha que sua família acabou de reabrir e onde vende peixe seco, frutas e legumes.

A loja ficou fechada por vários meses, já que o mercado foi atingido pelo tsunami, mas pouco a pouco, a mãe de Nordieida foi limpando os detritos em volta da vendinha.

O tsunami, muitos disseram, trouxe pelo menos uma coisa boa: o processo de paz.

Durante 29 anos, a luta armada entre o Movimento para a Libertação de Aceh, ou GAM, e tropas do governo deixou mais de 12 mil mortos e congelou o desenvolvimento da região.

Agora, o plano é não apenas retomar a economia baseada em pesca, agricultura e comércio pré-tsunami, mas ir além.

Apesar da tragédia do tsunami e de suas conseqüências, ainda fortemente sentidas um ano depois, a população de Banda Aceh permanece otimista em um futuro melhor.

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