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09/01/2006 - 12h29

Crise em Israel aumenta pressão sobre Bush

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, Em Nova York

Sobre seus ombros largos, Ariel Sharon carregava muito peso.

Carregava inclusive a política americana na crise israelo-palestina.

Com o primeiro-ministro fora de cena e as dúvidas de como tanto ele como sua visão poderão ser substituídas, o governo Bush talvez seja forçado a ter um engajamento bem mais ativo no conflito, algo que nunca entusiasmou o presidente americano.

Quando Sharon anunciou em 2004 que iria empreender a retirada unilateral da faixa de Gaza, Bush não apenas apoiou o plano, como também o tornou o centro de sua estratégia para a região.

E assim que o primeiro-ministro completou a retirada no ano passado, em meio à oposição da direita israelense, e se converteu ao centrismo, ele recebeu um voto de confiança ainda mais vigoroso da Casa Branca.

Sharon inclusive recebeu o apoio explícito de Washington ao controle de partes da Cisjordânia.

Estado palestino

Mas não se pode esquecer que Bush foi o primeiro presidente americano a dar endosso explícito à criação de um Estado palestino.

Com Sharon dando as cartas, o plano delineado pelo próprio Bush - o "mapa da estrada” endossado pelas Nações Unidas, União Européia e Rússia - só faltou ser definitivamente colocado na gaveta.

O projeto de passos específicos e metódicos a serem dados por Israel e palestinos até a criação de um Estado palestino adjacente a um seguro Estado judeu contrasta com os movimentos unilaterais e impetuosos de Sharon.

Bush queria concessões mais rápidas e profundas de Sharon, mas isto nunca foi suficiente para gerar divergências profundas entre os dois dirigentes.

Um ponto alto foi o empenho bem sucedido para marginalizar o líder palestino Yasser Arafat, que morreu no final de 2004. A relação não pode ser definida como de uma amizade calorosa, mas de uma sólida parceria política.

Os laços foram forjados por uma visão comum de hostilidade implacável ao extremismo islâmico após os atentados do 11 de setembro e a ocupação da cena por Sharon, o que sempre foi conveniente para Bush, um presidente que nunca quis mergulhar na intermediação da crise palestina com a mesma intensidade de predecessores, em particular Bill Clinton.

Os principais lances na região nos últimos anos - da retirada de Gaza à construção de uma barreira de segurança por Israel na Cisjordânia (vista como a futura linha de demarcação em relação a um futuro Estado palestino) - aconteceram à margem dos parâmetros do "mapa da estrada".

Washington sempre esperou novos passos e os chamados compromissos penosos da parte de Sharon, como a retirada de grande parte da Cisjordânia e o fortalecimento da precária posição do presidente palestino Mahmoud Abbas.

Dúvida

Um dos dilemas agora é até onde pressionar um futuro dirigente israelense.

O óbvio temor americano é que ninguem em Israel terá a credibilidade de Sharon para convencer a sociedade de que alguns compromissos penosos são inevitáveis.

Em termos imediatos, a administração Bush pondera se deve dar apoio público tácito, antes das eleições de 28 de março, ao primeiro-ministro interino Ehud Olmert, que seguiu Sharon no rompimento com o partido Likud e criação do centrista Kadima.

Olmert é o menor dos males para a Casa Branca. Há temor diante de sua falta de estatura, em comparação a Sharon.

O líder do Likud Benjamin Netanyahu é considerado um oportunista, cujo mandato como primeiro-ministro terminou em fracasso.

E Bush evidentemente não está afinado com as idéias socialistas e mais disposição a concessões aos palestinos do candidato trabalhista Amir Peretz.

Não existe, portanto, em Israel, ninguém com a mesma capacidade de Sharon para receber a procuração de Bush.

Tampouco é atraente a idéia de mergulhar diretamente a fundo em uma crise no Oriente Médio quando se está atolado em outra, o Iraque.
 

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