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11/01/2006
-
12h27
Com a minissérie da Globo sobre JK rendendo lembranças e ponderações em nossa imprensa, eu também venho aqui cantarolar o "Peixe vivo".
Trata-se da estampa Eucalol número 3, da série "Meus encontros e esbarrões com a fama e os famosos".
Dezembro, 1972. Clube Caiçaras, no Rio. Noite gigante de autógrafos.
Num enorme salão, dispostos em torno de uma vasta mesa em formato de U, uns bons (ou maus) 50 escritores, sentadinhos, com seus livrões do lado, prontos para vender, sorrir e autografar.
Presentes metade da Academia Brasileira de Letras. O resto já procurando, entre os colegas, aquele com cara de próxima vaga na ABL.
Lá estava Millôr Fernandes, atrás da pilha de seu best-seller do momento, "Esta é a verdadeira história do Paraíso".
Sérgio Augusto e eu percorríamos o recinto insuflados pelo espírito do deboche, que nunca deixara de nos animar.
Notamos que a fila mais concorrida era a do Plínio Salgado, cercado de gente que só pode ser chamada de "asseclas".
Pedro Nava um dos autores mais procurados. Eu não tinha o primeiro de seus deliciosos volumes autobiográficos, o "Baú de ossos".
Aproximei-me, quase que atropelando Juscelino Kubitschek e excelentíssima esposa, Dona Sarah.
De perto, pude observar o rosto oriental do simpático (como era simpático!) e popular ex, além de seus cabelos negros como asa mal pintada de graúna.
Negra também boa parte de seu couro cabeludo.
A verdade é que eu cheguei primeiro. Nava, a quem eu não conhecia, perguntou, "Então não cede o lugar para nosso presidente?" JK sorriu simpático (como era simpático!) e exigiu que eu fosse, como no balcão da farmácia, atendido primeiro.
Nava me perguntou o nome.
Como bom mineiro, diante do sobrenome, quis saber se eu era parente dos Lessa de Juiz de Fora.
Num muxoxo envergonhado, confessei que não, que era dos Lessa de São Paulo. Enquanto Nava sapecava a inscrição e trocava mineirismos com JK, dona Sarah virou-se para mim iniciando diálogo memorável, "Quer dizer que é de São Paulo?" Modesto, não neguei. E dona Sarah, beirando Bernard Shaw e Oscar Wilde, "Grande Estado", sentenciou para um azulejo invisível.
De novo, sorri, como se responsável parcial pela grandeza.
Sérgio Augusto está aí e não me deixa mentir.
Depois, fizemos fila diante do Millôr, censurado mais de uma vez pelo “liberal” JK, inclusive por, em seu programa de TV, tentar apenas – apenas – ler a nota em que dona Sarah recebera a Ordem do Mérito do Trabalho um dia depois de passar seis meses pela Europa viajando.
Não estava presente à noitada Juca Chaves, que teve discos proibidos pela censura kubitschekiana.
Mas isso tudo, claro, deve estar na minissérie.
JK, Dona Sarah e eu
da BBC BrasilCom a minissérie da Globo sobre JK rendendo lembranças e ponderações em nossa imprensa, eu também venho aqui cantarolar o "Peixe vivo".
Trata-se da estampa Eucalol número 3, da série "Meus encontros e esbarrões com a fama e os famosos".
Dezembro, 1972. Clube Caiçaras, no Rio. Noite gigante de autógrafos.
Num enorme salão, dispostos em torno de uma vasta mesa em formato de U, uns bons (ou maus) 50 escritores, sentadinhos, com seus livrões do lado, prontos para vender, sorrir e autografar.
Presentes metade da Academia Brasileira de Letras. O resto já procurando, entre os colegas, aquele com cara de próxima vaga na ABL.
Lá estava Millôr Fernandes, atrás da pilha de seu best-seller do momento, "Esta é a verdadeira história do Paraíso".
Sérgio Augusto e eu percorríamos o recinto insuflados pelo espírito do deboche, que nunca deixara de nos animar.
Notamos que a fila mais concorrida era a do Plínio Salgado, cercado de gente que só pode ser chamada de "asseclas".
Pedro Nava um dos autores mais procurados. Eu não tinha o primeiro de seus deliciosos volumes autobiográficos, o "Baú de ossos".
Aproximei-me, quase que atropelando Juscelino Kubitschek e excelentíssima esposa, Dona Sarah.
De perto, pude observar o rosto oriental do simpático (como era simpático!) e popular ex, além de seus cabelos negros como asa mal pintada de graúna.
Negra também boa parte de seu couro cabeludo.
A verdade é que eu cheguei primeiro. Nava, a quem eu não conhecia, perguntou, "Então não cede o lugar para nosso presidente?" JK sorriu simpático (como era simpático!) e exigiu que eu fosse, como no balcão da farmácia, atendido primeiro.
Nava me perguntou o nome.
Como bom mineiro, diante do sobrenome, quis saber se eu era parente dos Lessa de Juiz de Fora.
Num muxoxo envergonhado, confessei que não, que era dos Lessa de São Paulo. Enquanto Nava sapecava a inscrição e trocava mineirismos com JK, dona Sarah virou-se para mim iniciando diálogo memorável, "Quer dizer que é de São Paulo?" Modesto, não neguei. E dona Sarah, beirando Bernard Shaw e Oscar Wilde, "Grande Estado", sentenciou para um azulejo invisível.
De novo, sorri, como se responsável parcial pela grandeza.
Sérgio Augusto está aí e não me deixa mentir.
Depois, fizemos fila diante do Millôr, censurado mais de uma vez pelo “liberal” JK, inclusive por, em seu programa de TV, tentar apenas – apenas – ler a nota em que dona Sarah recebera a Ordem do Mérito do Trabalho um dia depois de passar seis meses pela Europa viajando.
Não estava presente à noitada Juca Chaves, que teve discos proibidos pela censura kubitschekiana.
Mas isso tudo, claro, deve estar na minissérie.
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