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12/01/2006 - 10h16

Para críticos, alternativa a Kyoto representa "fachada"

RICHARD BLACK
da BBC Brasil

A parceria Ásia-Pacífico para Desenvolvimento Limpo e Clima pode parecer uma solução real, de pessoas maduras, para o problema das mudanças climáticas. Nada de perdas econômicas, de metas a serem atingidas, de compromissos internacionais e sem necessidade de negociações abertas e transparentes. Para os participantes, as economias asiática vão continuar crescendo e os governos não serão obrigados a fazer o que não querem.

Para outros observadores, a parceria é um símbolo de desprezo para encobrir o embaraço de George W. Bush e John Howard (primeiro-ministro australiano) --os únicos líderes do Ocidente a renegarem compromissos assumidos por seus antecessores na Conferência da ONU de Kyoto, em 1997.

Tecnologia

De acordo com esse argumento, a parceria não vai trazer qualquer benefício em relação ao clima, porque a tecnologia sozinha não é capaz provocar as grandes reduções na emissão de gases que provocam o efeito estufa consideradas necessárias pelos cientistas que estudam o clima.

A defesa da parceria foi feita pelo Ministro da Indústria australiano, Ian Macfarlane, que diz acreditar que "a nova tecnologia vai resultar em três vezes mais redução de gases que provocam o efeito estufa do que o Protocolo de Kyoto".

"Coisas como seqüestro do gás carbônico [na atmosfera e armazenamento subterrâneo], energia solar e melhor utilização de novas tecnologias, vão trazer mais produção de eletricidade e consumo mais eficiente da energia elétrica", afirma Macfarlane.

A posição australiana é que o Protocolo de Kyoto não vai reduzir significativamente as emissões de dióxido de carbono. Muitos dos países que assinaram e ratificaram o acordo não devem conseguir alcançar as metas de redução acordadas.

Carvão

Na teoria, todas as opções estão na mesa: energia nuclear, fontes renováveis, aumento de eficiência, captura e uso de metano e idéias inteligentes baseadas em uso de gás natural. Na prática, o carvão é o centro das atenções.

O grupo, formado por seis países, tem quatro dos cinco maiores produtores de carvão entre seus membros. E todos dependem bastante de carvão em suas matrizes energéticas.

Pesquisadores australianos e de outras partes do mundo estão em busca de tecnologias "limpas" que possam reduzir substancialmente as emissões de carvão, que é a fonte mais poluente de energia entre as conhecidas.

Uma parceria entre o setor público e o privado acaba de ser anunciada na Austrália para um projeto experimental de seqüestro e armazenamento de gás carbônico. O projeto vai capturar dióxido de carbono e armazená-lo em uma formação rochosa.

O processo pode funcionar, como demonstra o êxito de uma iniciativa semelhante da Noruega, que vem "enterrando" dióxido de carbono no fundo do mar desde 1997.

O problema, no caso do carvão, é capturar o dióxido de carbono. "Há várias abordagens para remover o dióxido de carbono na combustão do carvão", explica Louis Wibberley, gerente de Tecnologia de Energia da CSIRO, uma organização de pesquisa do governo.

"A captura depois da combustão é quando você retira o CO2 do gás e comprime o dióxido para o armazenamento subterrâneo. O processo consome de 20% a 25% da energia gerada pela estação. Isto, com a tecnologia atual, praticamente dobra os custos da produção de eletricidade", diz Wibberley.

Comércio

A União Européia está tentando convencer o setor privado com o seu Sistema de Comércio de Emissões, no qual as empresas ganham privilégios financeiros quando instalam tecnologias limpas. O maior problema é tempo.

Até agora não existe um quadro definitivo entre cientistas de clima sobre a urgência da redução das emissões. A política da União Européia é evitar um aumento de dois graus centígrados na temperatura global.

Matematicamente, o pico das emissões deve acontecer em 15 anos. Daí em diante, a tendência é de diminuição das emissões. "Vai demorar pelo menos uma década para que a maioria destas tecnologias se mostre viável", admite David Brockway, chefe de Tecnologia de Energia do CSIRO.

Mesmo assim, ele defende o conceito de tentar desenvolvê-las, já que a sede de energia na Ásia deve continuar a crescer. "Temos de levar em consideração que o aumento da emissão de gases que provocam o efeito estufa no futuro não vai vir dos países desenvolvidos, mas dos países em desenvolvimento", diz Brockway.

Países como China, Índia, Tailândia e Indonésia aspiram a alcançar o nível de vida dos países desenvolvidos e vão precisar de muita energia para chegar lá. "Se nós pudermos colocar estas tecnologias no mercado em dez anos, estes países vão poder usá-las e isto pode ter um impacto enorme no nível de aumento das emissões", diz Brockway.

A sede de energia na Ásia é tão grande que ele calcula que se o carvão limpo tornar-se a fonte predominante de geração, as emissões asiáticas devem aumentar em 70% até 2050 --isto por causa dos 10% de dióxido de carbono que escapam no processo de captura.

Falta de direção

A falta de incentivos econômicos é um impedimento claro para o "carvão limpo". O problema é ainda maior com energias renováveis, porque nos países com reservas de carvão elas permanecem economicamente inviáveis.

Os governos podem simplesmente obrigar a adoção de energias renováveis sem prestar muita atenção aos custos imediatos. Esta foi a posição adotada pela Alemanha, que a partir de incentivos econômicos parece estar desenvolvendo uma indústria limpa e lucrativa. Mas este não é o modelo dos países da região da Ásia e do Pacífico, onde pagar mais por energia ainda não é uma opção.

Os céticos têm ainda mais dúvidas em relação à parceria Ásia-Pacífico. Ela seria mais um negócio com o objetivo de criar oportunidades para grandes empresas que têm dinheiro suficiente para estarem próximas aos círculos do poder.

Ou seria um exercício de relações públicas para mostrar que os Estados Unidos e a Austrália estão fazendo alguma coisa, depois de rejeitar Kyoto.

Mas a grande questão é colocada por Philip Clapp, presidente do National Environmental Trust (Fundação Nacional do Meio Ambiente), dos EUA: sem metas e sem incentivos econômicos, porque investir em tecnologias que vão custar mais?

Se o encontro desta semana trouxer uma resposta, os céticos vão ter que admitir que a parceria tem sentido. Mas se a resposta não for clara, eles vão continuar colocando a relevância do grupo em dúvida.

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