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Hizbollah é produto da revolução iraniana, dizem analistas
TARIQ SALEH
da BBC Brasil, em Beirute
O grupo xiita libanês Hizbollah foi o principal produto exportado pela revolução islâmica do Irã no Oriente Médio, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Para eles, a organização tem estreita ligação com a ideologia da revolução, que ocorreu há exatamente 30 anos e mudou drasticamente o mapa político na região.
Muitos militantes e clérigos do Hizbollah viajam seguidamente ao Irã para estudos religiosos, ideológicos e militares, e em várias cidades do sul do Líbano e subúrbios controlados pelo grupo em Beirute é possível ver bandeiras iranianas e fotos do aiatolá Khomeini, líder da revolução iraniana.
Segundo a professora Amal Saad-Ghorayeb, especialista em assuntos de Hizbollah, "o Hizbollah é libanês, seus membros são árabes xiitas, mas sua ideologia e modelo seguem o Irã".
Ghorayeb explicou que, no início, a ideia do Hizbollah era fundar no Líbano, como no Irã, um Estado islâmico, mas o objetivo foi abandonado devido às dificuldades em lidar com diferentes grupos sectários libaneses, que não aceitariam tal imposição.
"Em vez disso, o Hizbollah criou seu próprio Estado dentro de um Estado, sua própria revolução islâmica", explicou.
Enquanto a revolução islâmica serviu de inspiração ideológica, a invasão de Israel foi o empurrão inicial para colocar em prática aquela inspiração.
Israel
Ghorayeb disse que, imediatamente após a revolução no Irã, os iranianos (em sua maioria xiitas) voltaram seus olhos para os xiitas libaneses.
"Durante muitos anos, os xiitas libaneses viveram como terceira classe, e suas cidades eram campo de batalha entre facções palestinas e forças israelenses. Os xiitas sentiram que era hora de criar uma força capaz de protegê-los", disse Ghorayeb.
O sucesso da revolução islâmica foi uma enorme inspiração para eles, segundo a especialista.
"Mas, nos primeiros anos, o governo iraniano ainda era fraco, enfrentava divisões internas e uma guerra com o Iraque. No início, o Hizbollah recebeu ajuda de organizações de caridade semi-independentes, financiadas por clérigos xiitas."
Ghorayeb lembra que foi a invasão israelense ao Líbano, em 1982, que resultou na criação do Hizbollah.
"Enquanto a revolução islâmica serviu de inspiração ideológica, a invasão de Israel foi o empurrão inicial para colocar em prática aquela inspiração", salientou ela.
Segundo a professora, a combinação destes dois fatores criou as condições para que o Hizbollah ganhasse prestígio junto à comunidade xiita libanesa.
Para o professor Fares Ishtay, do departamento de Ciência Política da Universidade Libanesa, existe "uma determinação enraizada no Hizbollah de que a revolução islâmica iraniana é a única maneira de atingir os objetivos e derrotar Israel".
Lealdade
A relação entre o regime iraniano e o Hizbollah foi ficando mais próxima na segunda metade dos anos 80.
No Líbano, em plena guerra civil (1975-1990), o Hizbollah e outro grupo xiita, Movimento Amal, se enfrentavam nas ruas, enfraquecendo a luta contra Israel. Ao final da guerra entre Irã e Iraque (1980-1988), o governo iraniano voltou suas atenções para resolver a disputa entre os dois grupos, que se tornaram aliados.
"Foi nesta época que o Irã começou a financiar o Hizbollah, ampliando os fundos e enviando cada vez mais armamentos", explicou Ishtay.
Segundo o professor, o controle financeiro iraniano sobre o Hizbollah começou a diminuir em 1996, após a eleição do reformista Mohammad Khatami para a Presidência do Irã. A remessa de fundos diminuiu durante sua gestão.
"Foi neste período que o Hizbollah ampliou seus próprios serviços sociais e iniciou atividades para arrecadar fundos de instituições ligadas a seus simpatizantes."
Ishtay lembra que o Irã voltou a aumentar seu financiamento ao grupo libanês depois que os conservadores voltaram ao poder, em 2005.
Especialistas especulam que o regime iraniano envia entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões por ano ao grupo libanês.
"O grupo é uma frente iraniana na região sim, mas também criou uma estrutura própria que garantiu sua independência depois que o grupo se deu conta que não poderia apenas depender de apoio iraniano", completou o professor.
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