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25/01/2006 - 10h17

Palestinos esperam fim da impunidade com eleições

ALAN JOHNSTON
da BBC Brasil, em Gaza

Em uma tarde fria na cidade de Gaza, oito homens estão sentados perto do fogo em frente a uma loja de carros usados.

É tempo de eleição e a movimentada rua Jalla, no bairro pobre de Sheikh Radwan, está cheia de pôsteres e bandeiras dos partidos e seus candidatos.

Um dos homens à beira do fogo, Nizar Ghabin, diz que a eleição é muito importante antes de tudo do ponto de vista da segurança. "Vivemos no caos. Queremos um parlamento que faça leis", ele diz.

Em toda a faixa de Gaza ouve-se a mesma conversa. A população está perturbada com a ausência de lei.

Confrontos

Violentos confrontos com o Exército de ocupação israelense ocorrem há anos. As tropas só saíram de Gaza no ano passado.

Várias pequenas milícias e jovens armados, sem grandes perspectivas de futuro, atuam na região.

Houve seqüestros e manifestações violentas por grupos militantes exigindo empregos ou a libertação de prisioneiros.

E também há brigas de clãs envolvendo famílias poderosas - e armadas. Elas são mais freqüentes hoje em dia, e cada vez mais mortais.

Há semanas Gaza vem assistindo a uma violenta briga entre dois clãs no norte do território.

O conflito aflora de poucos em poucos dias. Ocorreram tiroteios nas ruas e várias mortes.

Entre os homens tomando chá em torno do fogo estão dois policiais.

Um deles tenta explicar por que as autoridades parecem não fazer nada para controlar a situação. "O poder está com os clãs", diz o policial.

Lealdade

Muitos dos policiais são leais às famílias mais importantes, o que enfraquece a polícia e impede qualquer ação efetiva.

A falta de lei também se manifesta de formas mais sutis.

Nas ruas, há uma percepção de que a corrupção que se alastra por vários escalões da Autoridade Palestina segue impune.

"Se não existe lei, não existe nada", diz Ghabin, um funcionário público de cerca de 40 anos.

"Assim que tivermos lei, tudo vai ficar bem. Quem roubar será punido, mesmo que seja um ministro ou um primeiro-ministro. A lei vale para todos, do topo até embaixo."

Além do problema da segurança e da ordem, a falta de empregos também preocupa o povo de Gaza.

Os anos de confronto com o Exército de Israel destruíram a economia. E Gaza luta para driblar o rigoroso controle israelense sobre suas rotas comerciais.

Israel argumenta que tem de se proteger contra a ameaça constante de ataques de militantes na região.

Mísseis de fabricação caseira ainda são lançados da região contra Israel quase que diariamente, embora raramente causem ferimentos ou danos materiais.

Os militantes palestinos dizem que estão se vingando de ataques de Israel contra a Cisjordânia.

Desde o levante de 2000, cinco homens-bomba de Gaza conseguiram penetrar as defesas israelenses.

Há dois dias, a principal rota de carga entre Gaza e Israel foi fechada novamente, segundo Israel, por causa de um alerta de segurança.

Estratégia

A população vê essas medidas como uma estratégia dos israelenses para estrangular economicamente a Faixa de Gaza.

Um dos homens sentados à beira do fogo é o dono da loja de carros usados, Ayman Nasrallah.

"Chegamos ao fim. Está tudo morto", diz Nasrallah, olhando para os carros que ninguém compra.

Sentado ao lado, o funcionário público Ghabin diz: "Você pode olhar para qualquer escritório e vai ver que o trabalho parou, os salários pararam. Até os funcionários do governo lutam para sobreviver metade do mês".

Embora os temas da campanha fiquem mais em torno de segurança e empregos, o confronto com Israel também está presente.

Os políticos da oposição ligados ao grupo militante islâmico Hamas dizem que o objetivo da eleição é reformar a sociedade palestina para que ela seja mais capaz de confrontar Israel.

Mas eles não são os únicos a dizer isso. Também se ouve essa conversa nas ruas.

Sentado à beira do fogo na rua Jalla está também Hamada Samur, um comerciante de tintas vestindo uma jaqueta jeans e óculos escuros.

"O Estado Palestino virá cedo ou tarde", diz Samur. "Mas para alcançá-lo vamos ter de nos organizar".

 

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