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30/01/2006 - 16h11

Caso Enron é marco no acerto de contas em onda de escândalos

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Como a imensa maioria dos americanos e dos mortais em geral, os doze jurados do julgamento de Ken Lay e Jeffrey Skilling, os principais executivos da Enron, iniciado nesta segunda-feira em Houston, no Texas, precisarão de um curso intensivo de contabilidade para entender o labirinto da fraude do conglomerado de energia que pediu concordata em 2001.

Mas a imensa maioria das pessoas sabe que a Enron é o símbolo dos escândalos corporativos americanos que marcaram a virada do século.

Joseph Nocera, didático colunista de finanças do New York Times, lembra que nenhum escândalo do gênero criou tanta repulsa popular nos EUA desde o caso de Richard Whitney, o presidente da Bolsa de Valores de Nova York, que nos anos 30 roubou de forma alucinada dos seus clientes.

E a Enron, de fato, merece tanta repulsa. A revelação da fraude destruiu US$ 60 bilhões em capitalização de mercado e custou milhares de empregos em uma empresa que chegou a ser a sétima maior do país.

Rede

Desta vez não foi o caso de meia dúzia de maçãs podres fazendo tramóias contábeis. O escândalo Enron envolveu uma vasta rede de cúmplices de amplos setores da economia - auditores, advogados, corretores e banqueiros.

Investidores foram enganados e quiseram ser enganados. Foi um daqueles momentos em que a ganância -um dos sete pecados capitais, mas não do capitalismo- venceu o medo.

E por um momento houve a expectativa de que o escândalo iria bater na Casa Branca.

Ken Lay era um generoso contribuinte de campanhas republicanas. Com seu pendor para dar apelidos, George W. Bush o chamava de "Kenny Boy", mas na hora mais necessária a intimidade de nada adiantou.

O presidente não veio em socorro da Enron quando aconteceu o curto-circuito. Como mero escândalo corporativo, e não político, no entanto, o caso já é fenomenal.

Fenomenal, mas não o único. A Enron está na má companhia da WorldCom, HealthSouth, Global Crossing e Adelphia. A pilha de escândalos levou à aprovação de legislação em 2002 (o ato Sarbanes-Oxley), que criou regras mais rígidas para relatórios financeiros e a auditoria de companhias de capital aberto.

Além dos reguladores, os promotores federais foram à luta com uma barragem de investigações civis e criminais no mundo (e submundo) corporativo.

Uma força-tarefa indiciou mais de 900 pessoas - 60 delas na faixa de alto comando empresarial. Foram mais de 500 condenações ou acordos com a promotoria.

Somente no caso da Enron foram 16 acordos, entre eles o de Andrew Fastow, o homem das finanças da empresa que escondeu bilhões de dóares em dívida e inflou os lucros. Em troca de no máximo 10 anos de prisão, Fastow concordou em testemunhar contra Lay e Skilling.

Ramificações

O veredito do julgamento de Lay e Skilling terá amplas ramificações.

Na percepção popular será o caso, que segundo o jornal Los Angeles Times, irá determinar se a cruzada anticorrupção do governo "terá sido um sucesso ou um fracasso".

Afinal, apesar de alguns esforços notórios e bem sucedidos de punição, a opinião pública hoje desconfia da América corporativa. É um contraste com os anos 80, quando alguns escândalos sensacionais foram insuficientes para abalar a confiança popular.

De acordo com uma pesquisa do centro Pew, a "erosão de credibilidade das corporações acontece em quase todos os grupos demográficos e políticos".

O historiador econômico Charles Geisst está esperançoso que as novas regulamentações e a importância simbólica do caso Enron (se ocorrerem as condenações de Lay e Skilling) sirvam para moralizar efetivamente o mundo corporativo, mas seu colega John Steele Gordon é mais cético. Ele teme que um novo boom na economia irá impelir executivos a enganar e investidores a serem enganados.
 

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