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04/02/2006 - 08h49

Estabilização do Haiti "depende de reação às eleições"

CAROLINA GLYCERIO
da BBC Brasil, em Porto Príncipe

A estabilização do Haiti depois das eleições da próxima terça-feira vai depender da reação dos derrotados aos resultados, segundo o enviado do governo brasileiro ao Haiti, Ricardo Seitenfus.

“A democracia é uma exceção ha história do Haiti”, afirma Seitenfus, que veio ao país com a missão de acompanhar o pleito e antecipar possíveis cenários pós-eleitorais.

Especialista em Haiti e professor de Organizações Internacionais da
Universidade Federal de Santa Maria (RS), ele diz que estas deverão ser as eleições “mais abertas e confiáveis” já realizadas no país.

“Haverá problemas, com certeza, mas, comparada com as eleições anteriores do ponto de vista técnico, está muito melhor.”

Seitenfus cita como exemplo as eleições de 1957, quando François Duvalier, conhecido como Papa Doc, foi eleito presidente do Haiti, dando inicio a uma ditadura de 14 anos que seria mantida por outros 15 pelo seu filho, Jean-Claude Duvalier (Baby Doc).

“As pessoas votavam escrevendo o nome do candidato em um pedaço de papel ou entregando um santinho”, diz o acadêmico.

De lá para cá, o Haiti teve três eleições consideradas livres --1990, 1995 e 2000-- mas, como no passado, elas também foram intercaladas como golpes militares e revoltas civis.

Em duas das ocasiões, foi eleito o padre Jean Bertrand Aristide, derrubado pela última vez em fevereiro de 2004.

Informatização

Desta vez, um número recorde de eleitores foi registrado (3,5 milhões, segundo a ONU), e o sistema de votação está mais informatizado do que no passado.

“Estou confiante de que desta vez as logísticas da eleição existem e de que essas serão as primeiras eleições em que poderemos confiar completamente nos resultados”, afirma o chefe da Minustah (a missão da ONU no Haiti), Juan Gabriel Valdes, sobre a votação que chegou a ser adiada quatro vezes.

No entanto, para um dos nove membros do Conselho Eleitoral Provisório (CEP), Patrick Fequiere, haverá base para os candidatos derrotados contestarem os resultados.

“São 500 candidatos no total. Serão mais de 300 derrotados que poderão ter razões para contestar”, afirmou Fequiere, que diz temer a revolta dos eleitores cujos candidatos perderem.

Ele alega que nem todos os problemas que impediram a realização da votação até agora foram resolvidos e cita como exemplo a falta de representantes de diferentes partidos e organizações nas mesas eleitorais.

Vontade política

Conhecido por suas críticas ao governo interino e aos próprios colegas do CEP, órgão encarregado de organizar as eleições, Fequiere disse, porém, que desistiu de defender um novo adiamento do pleito porque se convenceu de que não é uma questão de tempo, e sim de vontade política.

“É melhor começar com um novo governo do que continuar com os que não conseguiram controlar o país nos últimos 20 meses.”

Fequiere também argumenta que muito dinheiro já foi gasto em campanha e que o Haiti correria o risco de perder o apoio da comunidade internacional com um novo atraso.

“Se for um desastre, as pessoas terão que ser responsabilizadas”, disse Fequiere, acrescentando que os responsáveis seriam o governo interino e o Conselho Eleitoral.

Embora se defina como um independente, Fequiere foi tachado por fontes diplomáticas como um “radical”, que não teria interesse na realização das eleições.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre as eleições no Haiti
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