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13/02/2006 - 12h14

Haiti desafia voto de confiança americano em eleições

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Com visão, mas sem olhar muito para os detalhes, o governo Bush deposita um voto de confiança em processos eleitorais em várias partes do mundo como um fator de estabilização política e prosperidade econômica.

O Haiti é um dos testes mais ingratos deste enfoque. Afinal, o país é sinônimo de Estado falido e, como a América Latina e o Oriente Médio têm mostrado nos últimos meses, eleições não guindam ao poder dirigentes que sejam necessariamente compatíveis com os interesses americanos.

As complicações na votação da última terça-feira e as acusações de que a fraude pode impedir a vitória de René Préval já no primeiro turno reforçam os temores de que o pobre Haiti não tenha dado passos grandiosos rumo à estabilização.

Obviamente que para os americanos o Haiti não tem a importância estratégica de um Iraque ou de uma Venezuela, para usar um exemplo mais próximo de casa.

Mas passos de estabilização são cruciais para que não se repitam crises humanitárias e assim grandes levas de refugiados haitianos não apareçam novamente nas praias da Flórida.

Alvo de hostilidade

Préval é um político que navega num mar turbulento. De um lado, ele é alvo de hostilidade da elite tradicional. De outro, na campanha eleitoral, o candidato sem muito sal se distanciou do seu mentor, o carismático Jean Betrand-Aristide, derrubado há dois anos por uma revolta militar sob pressão do governo Bush.

Esta ambigüidade tem uma contrapartida na postura de Washington. Préval não recebeu apoio incondicional da Casa Branca, apesar do seu apoio avassalador junto à massa haitiana em meio ao congestionamento de candidatos (mais de 30) nas eleições da terça-feira.

Uma das ressalvas do governo Bush é que Préval não tenha sido explícito para cumprir a exigência da Casa Branca e descartar a volta de Aristide do seu exílio na África do Sul.

É verdade que ele denunciou corrupção no governo deposto e preferiu não concorrer às eleições pelo partido de Aristide (Lavalas).

Préval criou o seu próprio partido, Lespwa, que significa esperança em creole, o que ao menos mostra um incrível desejo de sonhar.

Administrador capaz

Préval, que já presidiu o Haiti entre 1996-2001 e em uma proeza histórica foi um dirigente eleito que terminou o mandato, é visto em Washington como um administrador relativamente capaz, para os padrões locais, e atento às necessidades de governança no dia a dia.

O Haiti, no entanto, para dizer o mínimo, é o Haiti. O país precisa de muita ajuda. A opção americana foi por “terceirizar” suas responsabilidades para países como Canadá e Brasil, assim como as Nações Unidas.

O Haiti é precário e o clima de incerteza que esquentou no fim da semana quando se mostrou que Préval talvez não ganhe no primeiro turno complica os planos de Washington de lavar as mãos.

Mike DeWine, senador republicano pelo Estado de Ohio e um dos políticos que realmente monitoram a situação no país, faz uma advertência clara: se as coisas não entrarem minimamente nos eixos no Haiti, os americanos serão forçados a novamente enviar tropas.

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