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17/02/2006
-
09h28
da BBC, em Nova York
Com a rápida evolução dos acontecimentos (retrocesso, para muitos) parece uma temeridade escrever sobre o conflito israelo-palestino.
Shlomo Ben Ami terminou o seu livro antes do derrame do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e da vitória do grupo radical islâmico Hamas nas eleições palestinas. O tema, no entanto, é presente. Na verdade, permanente.
As perspectivas de paz através de negociações bilaterais ou multilaterais nunca estiveram tão distantes, mas Ben Ami escreve sobre o momento em que elas estiveram mais próximas: o período encerrado há pouco mais de cinco anos dos esforços diplomáticos mediados pelo governo do ex-presidente americano Bill Clinton.
Ben Ami tem atributos pessoais, intelectuais e políticos valiosíssimos para escrever sua crônica melancólica. Judeu nascido no Marrocos e treinado como historiador em Oxford, ele foi ministro das Relações Exteriores do governo do trabalhista Ehud Barak naquele período de tantas expectativas e de tantas desilusões.
Ben Ami foi um participante crucial em uma fase curta e intensa do processo diplomático. Ele é duro com os dois lados para dividir responsabilidades nas explicações sobre o fracasso na busca de um acordo. Em alguns trechos do livro, Ben Ami é até mais implacável com os compatriotas israelenses e aqui ele vai além das recentes negociações de paz.
Sionismo
O historiador autoproclamado sionista considera a criação do Estado judeu uma das grandes conquistas nacionais do século 20, num projeto no qual não faltaram talento militar, refinamento diplomático e brutalidade contra os palestinos.
Apesar da força, o lado israelense sempre foi marcado por um senso de vulnerabilidade que não pode ser explicado apenas pelo cerco árabe, mas também pela dificuldade de fazer a transição traumática do Holocausto para Estado independente.
Do outro lado, Iasser Arafat, que negociou com Yitzhak Rabin, Shimon Peres e depois Barak, é claro, não merece misericórdia. Nas palavras de Ben-Ami, o dirigente palestino morto em novembro de 2004 foi incapaz de se despojar da "narrativa paralisante da vitimização" e aceitar os parâmetros de um acordo final que Clinton conseguira arrancar de Barak (devolução de 97% da Cisjordânia e soberania palestina no Templo da Montanha, em Jerusalém, em negociações futuras).
Na escala ornitológica da política israelense, Ben-Ami é uma "pomba". Ele sabe que será improvável que algum dia Israel possa ir além do que concedeu nas negociações mediadas por Clinton.
O legado de Sharon serão fronteiras fixadas unilateralmente e não na mesa de conversações. É irônico que Sharon tenha sido o grande arquiteto de um expansionismo nacional-religioso e mais tarde o seu demolidor parcial. Mesmo antes do triunfo eleitoral do Hamas, Ben-Ami não vislumbrava a mesma capacidade pragmática do outro lado. Feridas não serão facilmente cicatrizadas em um dos conflitos mais espinhosos da história moderna.
Livro explica cicatrizes da guerra e feridas da paz no Oriente Médio
CAIO BLINDERda BBC, em Nova York
Com a rápida evolução dos acontecimentos (retrocesso, para muitos) parece uma temeridade escrever sobre o conflito israelo-palestino.
Shlomo Ben Ami terminou o seu livro antes do derrame do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e da vitória do grupo radical islâmico Hamas nas eleições palestinas. O tema, no entanto, é presente. Na verdade, permanente.
As perspectivas de paz através de negociações bilaterais ou multilaterais nunca estiveram tão distantes, mas Ben Ami escreve sobre o momento em que elas estiveram mais próximas: o período encerrado há pouco mais de cinco anos dos esforços diplomáticos mediados pelo governo do ex-presidente americano Bill Clinton.
Ben Ami tem atributos pessoais, intelectuais e políticos valiosíssimos para escrever sua crônica melancólica. Judeu nascido no Marrocos e treinado como historiador em Oxford, ele foi ministro das Relações Exteriores do governo do trabalhista Ehud Barak naquele período de tantas expectativas e de tantas desilusões.
Ben Ami foi um participante crucial em uma fase curta e intensa do processo diplomático. Ele é duro com os dois lados para dividir responsabilidades nas explicações sobre o fracasso na busca de um acordo. Em alguns trechos do livro, Ben Ami é até mais implacável com os compatriotas israelenses e aqui ele vai além das recentes negociações de paz.
Sionismo
O historiador autoproclamado sionista considera a criação do Estado judeu uma das grandes conquistas nacionais do século 20, num projeto no qual não faltaram talento militar, refinamento diplomático e brutalidade contra os palestinos.
Apesar da força, o lado israelense sempre foi marcado por um senso de vulnerabilidade que não pode ser explicado apenas pelo cerco árabe, mas também pela dificuldade de fazer a transição traumática do Holocausto para Estado independente.
Do outro lado, Iasser Arafat, que negociou com Yitzhak Rabin, Shimon Peres e depois Barak, é claro, não merece misericórdia. Nas palavras de Ben-Ami, o dirigente palestino morto em novembro de 2004 foi incapaz de se despojar da "narrativa paralisante da vitimização" e aceitar os parâmetros de um acordo final que Clinton conseguira arrancar de Barak (devolução de 97% da Cisjordânia e soberania palestina no Templo da Montanha, em Jerusalém, em negociações futuras).
Na escala ornitológica da política israelense, Ben-Ami é uma "pomba". Ele sabe que será improvável que algum dia Israel possa ir além do que concedeu nas negociações mediadas por Clinton.
O legado de Sharon serão fronteiras fixadas unilateralmente e não na mesa de conversações. É irônico que Sharon tenha sido o grande arquiteto de um expansionismo nacional-religioso e mais tarde o seu demolidor parcial. Mesmo antes do triunfo eleitoral do Hamas, Ben-Ami não vislumbrava a mesma capacidade pragmática do outro lado. Feridas não serão facilmente cicatrizadas em um dos conflitos mais espinhosos da história moderna.
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