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20/02/2006 - 11h32

Análise: Prisões afundam ainda mais imagem dos EUA

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Neste último domingo, o Record, o jornal dos subúrbios de Nova York onde eu vivo, poderia estar publicando um editorial com um balanço do desempenho das pequenas cidades da região na remoção da neve na última tempestade que assolou o nordeste americano. Poderia até ter jogado lama no vice-presidente Dick Cheney face à sua pontaria infeliz na caçada de codornas.

No entanto, o alvo do Record foi o prontuário do governo Bush em direitos humanos, com destaque para as prisões de Guantánamo, em Cuba, e Abu Ghraib, no Iraque.

O jornal endossou o relatório das Nações Unidas pedindo o fechamento da prisão que abriga cerca de 500 suspeitos de terrorismo, com apenas dez formalmente acusados desde que o campo foi aberto há quatro anos. Como era de se esperar, a Casa Branca descartou o relatório negando que prisioneiros sejam submetidos a tratamento desumano.

A rigor não há novidade no outro golpe à imagem do governo americano, que foi a divulgação pela televisão australiana de fotos de prisioneiros iraquianos submetidos a tortura e humilhação sexual em Abu Ghraib.

São imagens de 2003, quando o escãndalo gerou indignação internacional, mas elas serviram para reavivar a memória da opinião pública sobre uma mancha que nunca foi removida.

Alto escalão

A cobrança nunca chegou ao escalão superior do governo Bush, poupando o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o agora ministro da Justiça, Alberto Gonzales, que como assessor legal da Casa Branca elaborou o aparato de justificativas legais para que Washington passasse ao largo da Convenção de Genebra.

Era difícil imaginar que a imagem americana pudesse afundar ainda mais no mundo muçulmano, mas a volta ao noticiário de Guantánamo e de Abu Ghraib permitiu o agravamento do desastre.

Não é por menos e não é à toa que o editorial do Record tenha destacado que as duas prisões sejam "os símbolos feios do desprezo do governo Bush pela lei e pelos princípios de justiça e direitos humanos".

E são símbolos poderosos. Washington está plenamente consciente do potencial explosivo de Guantánamo e Abu Ghraib para inflamar o ressentimento público no Oriente Médio e no mundo islâmico, já suficientemente exaltado graças à controvérsia gerada pela publicação das charges do profeta Maomé na imprensa ocidental e imagens de soldados britânicos espancando jovens no sul do Iraque.

Guantánamo e Abu Ghraib são desafios monstruosos, em geral tratados como problemas de relações públicas pelo governo Bush, que no máximo aceita alguns ajustes táticos para contorná-los, nunca admitindo que sejam feridas literalmente expostas de uma estratégia fracassada na chamada guerra contra o terror.

A ironia é que mesmo o comando militar americano sabe que essa chamada guerra contra o terror não será ganha exclusivamente no campo de batalha, mas nos corações e mentes do mundo islâmico.

E obviamente essa campanha não marcha bem. É uma campanha conduzida com o que pequeno jornal Record qualifica de "negações patéticas" de que os americanos não torturam seus prisioneiros e que eventuais excessos são corrigidos. Em incidentes bizarros, como as aventuras campestres de Dick Cheney, ou nos abusos de prisioneiros em Guantánamo e Abu Ghraib, a opção do governo Bush é operar sem transparência.
 

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