Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/02/2006 - 18h24

Para analistas, moderação da política islâmica é uma incógnita

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

A chegada de grupos islâmicos ao poder levanta questões – ainda sem resposta – sobre que atitude essas organizações vão tomar agora que não são mais oposição.

Analistas e políticos estão dividos: alguns dizem que as novas responsabilidades e posições forçarão os radicais a apresentar mais moderação, mas outros afirmam que o discurso menos agressivo, que diversos grupos adotaram em eleições, são apenas uma estratégia para atrair votos.

"É verdade que o Hamas (nas eleições palestinas) e a Irmandade Islâmica (no Egito) apresentaram posições mais moderadas durante as eleições. Mas duvido que isso dure muito tempo", é a opinião do presidente do partido marxista egípcio Tagamoa, Rifat Al-Said.

Mas o diretor do programa de estudos do Oriente Médio da Universidade Americana do Cairo, Baghat Korany, discorda.

"É possível que a chegada ao poder force os islâmicos a trocar algumas posições mais radicais, que eles podiam ter livremente quando estavam na oposição, por atitudes mais realistas, de quem está de fato participando de um governo."

Mas o cientista político admite que há parcelas mais radicais dentro de todos esses grupos islâmicos e que a existência dessas diferente facções pode se mostrar uma "bomba relógio", à medida que os religiosos forem ganhando mais poder.

"Haverá pressão dentro dos grupos islâmicos para que medidas de islamização sejam adotadas nos países em que eles se tornarem mais fortes. Como esses grupos lidarão com isso pode vir a ser a grande prova de fogo para a política islâmica", diz.

Conservadorismo

Tanto o Hamas como a Irmandade Islâmica vêm afirmando nos últimos tempos que não têm intenção de forçar as suas sociedades a mudar radicalmente de uma hora para a outra, se isso não for o desejo popular.

"O Hamas é um movimento moderado e não fundamentalista. Só por meio da democracia podemos construir nossa sociedade", diz o integrante do comissão política do Hamas em Beirute, Mohamed Nizan.

No que diz respeito às relações com Israel, Nizan ecoa declarações de outros líderes do Hamas de que conversas e mesmo uma trégua seriam possíveis "se os israelenses respeitarem os direitos dos palestinos".

Mas ele explica que o Hamas não está disposto a abandonar a resistência armada nem a reconhecer o Estado de Israel, enquanto não receber uma contrapartida significativa.

Um dos princípais líderes da Irmandade Islâmica no Egito, Essam Al-Erian, diz que os eleitores votaram nos candidatos ligados ao grupo quando perceberam que "Islã sempre foi compatível com democracia".

"Os fundamentalistas são os neo-conservadores cristãos americanos e os zionistas israelenses, não nós", afirma.

Al-Erian admite que a sua organização defende um Estado islâmico, mas afirma que isso não é radicalismo nenhum nesta parte do mundo.

"Todos os países muçulmanos são Estados islâmicos porque, se essa é a religião da população, é assim que as pessoas querem viver", diz, lembrando que mesmo no Egito a Constituição diz que as leis emanam da religião, embora na prática a administração do país seja mais secular.

Tipos

O cientista político da Universidade Birzeit, em Ramallah (Cisjordânia), Hisam Ahmed, divide os grupos islâmicos em três tipos principais.

Um tem a Al-Qaeda como seu maior representante e é formado por aqueles grupos que se lançaram em uma guerra total contra o Ocidente, sem limitações geográficas ou objetivos mais específicos de mais curto prazo.

Outra é dos grupos políticos, dos quais a Irmande Islâmica, no Egito, seria um dos melhores exemplos. Eles já não têm mais braços armados e se concentram em ganhar força apenas pelo processo democratico.

O terceiro grupo é o dos "jihadistas", focados nas ações armadas de resistência a algum inmigo específico, como a luta dos palestinos do Jihad Islâmico contra Israel.

Grupos como o Hamas e o libanês Hizbollah, que não deixaram as armas, mas ganharam muita força na arena política, estariam agora flutuando entre o segundo e o terceiro grupos.

"Qual destes tipos ganhará mais força e como os grupos vão se dividir nessas categorias é algo que ainda vai depender do comportamento dos governos no Oriente Médio e nas potências ocidentais", diz Hisam Ahmed.

Para o cientista político, a inclusão no quadro democrático dos grupos que já fazem parte da política ou estão se esforçando para entrar nela pode limitar o raio de ação das organizações mais radicais.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página