Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/03/2006 - 07h36

Lucas Mendes: Bateu, pagou

da BBC Brasil

Logo depois do 11 de setembro, a polícia americana saiu à caça de terroristas nos Estados Unidos e 762 pessoas, na maioria árabes sem vistos legais, caíram nas malhas da lei, entre eles o egípcio Ehab Elmagharaby.

Ele vivia em Nova York havia 13 anos, casado com americana, trabalhava num restaurante em Times Square e nos fins de semana tinha uma barraca num brechó fora da cidade.

O FBI bateu na sua casa procurando o dono do prédio, outro árabe, que anos antes tinha tirado uma licença para aprender a pilotar.

Não acharam o dono, mas levaram o Ehab para o Centro de Detenção Federal, hoje conhecido como Abu Ghraib do Brooklyn.

Ehab levou várias surras e pontapés quando estava algemado, foi verbal e sexualmente humilhado. Um dos guardas enfiou uma lanterna no ânus de Ehab até sangrar.

Depois de dez meses, a polícia concluiu que Ehab não era terrorista, mas ele assinou uma confissão de fraude com cartão de crédito.

Ele diz que admitiu o crime só para não apanhar mais.

Depois de cumprir a sentença, Ehab foi deportado mas abriu um processo contra o ministro da Justiça americano e dezenas de pessoas envolvidas no processo de repressão, inclusive os guardas da prisão.

Esta semana, sem admitir culpa, o governo federal ofereceu, e Ehab aceitou, US$ 300 mil a título de compensação pelos maus-tratos.

Ehab disse ao New York Times que gostaria de recusar o dinheiro e vir para Nova York continuar o processo, mas tem dívidas e precisa de cirurgia em conseqüência dos abusos sofridos na prisão.

Ehab é apenas o primeiro torturado indenizado.

Há centenas de processos em curso e ninguém sabe quantos presos em Guantánamo, no Iraque e no Afeganistão vão processar o governo americano.

Esta talvez não seja a conta mais cara. Ano passado, o Governo Federal pagou US$ 4,3 bilhões em pensões para soldados da guerra do Vietnã com recaídas da doença do estresse pós-traumático.

Depois de levarem uma longa vida produtiva, nos últimos anos, milhares de soldados entraram com pedidos de pensão porque estão atravessando alguma crise mental.

Uns não dormem, outros têm pesadelos, sentimentos de culpa ou não conseguem manter o emprego. Alcoolismo é comum entre veteranos.

Com o diagnóstico de um psiquiatra, passam a receber US$ 2,3 mil por mês para o resto da vida. É impossível distinguir quem mente de quem sofre.

Outro número, não em dólares, bateu no governo Bush esta semana.

Uma pesquisa entre 944 soldados americanos no Iraque revelou que só 23% acham que devem ficar lá o tempo que for necessário, como insiste o presidente.

A grande maioria, 72%, acha que as tropas devem ficar máximo mais um ano e deste grupo, 29% acham que devem sair imediatamente do Iraque.

Nem os soldados acreditam nesta guerra.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página