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15/03/2006
-
05h13
Todos nós conseguimos cantar alguns versos dos hinos Nacional, da Independência, da Bandeira, da República, da Marinha e do Exército.
Sim, nós também, e não só os ingleses, somos excêntricos e ganha um doce e um quepe quem for capaz de cantarolar dois compassos do Hino do Aviador. É, aquele mesmo com versos do Capitão Armando Serra de Menezes e música do Tenente João Nascimento. Aquele que fala em “Vamos filhos altivos dos ares/ Nosso vôo ousado alçar, / sobre campos, cidades e mares, / Vamos nuvens e céus enfrentar.” Enfrentar nuvens e céus não é para qualquer um. Como não o é também, conforme prossegue a letra, “D´Astro-Rei desfaiamos nos cimos, / Bandeirantes audazes do azul…” “Desfaiar” o dicionário Houaiss não registra. Deve ser qualquer coisa a ver com manche e óculos ray-ban.
O importante é que o tenente-coronel aviador Marcos César Pontes está sendo treinado pela NASA, em Houston, no Texas, para tripular, dentro de pouco tempo, um vôo espacial. Será, pois, nosso primeiro astronauta. Marcos César Pontes já tem farto e sortido sítio próprio na Internet com tudo que você queria e não queria saber sobre o filho altivo, bandeirante audaz dos ares, e seu arriscado passeio enfrentando nuvens e céus.
No sítio em questão, além dos dados pessoais e técnicos, temos acesso a uma “conexão espacial”, que nos oferece, por preços módicos, uma série de lembranças com motivos aeroespaciais.
Há vestuário, com camisetas, jaquetas, bonés etc., há “patches” com emblemas bordados, todos de bom gosto e em cores variadas. Há souvenirs como miniaturas e decalcomanias com o semblante simpático do tenente-aviador acompanhado da frase, “Quero ver o verde e amarelo no espaço”. Para não falar de um delicado broche, de fino acabamento, mostrando um astronauta, em sua vestimenta tradicional, portando nosso lábaro estrelado, e a legenda, “ Marcos Pontes. Tudo ao alcance do bolso de qualquer patriota.” Todos lá.
O desafio do chapéu
Meu primeiro problema com a empreitada está no que acabo de ler nas folhas. Que o tenente-aviador Marcos Pontes pretende levar, em seu primeiro desafio às leis da gravidade, um chapéu panamá que teria pertencido àquele que, conforme aprendemos no colégio, “deu asas ao homem”. Vocês sabem quem é. Aquele que também deu o nome a um aeroporto quase que no centro do Rio. Aquele que o povo, sempre preso às coisas da terra, cismou que a simples menção do nome dá – toc, toc, toc –azar. Aquele que, maldosamente, dizem que pára avião no ar, de 14-bis a Boeing 747, para ficarmos flutuando na metáfora alada de “tocar a face de Deus”, conforme a frase célebre do presidente Kennedy. Não, não, caríssimo tenente-aviador. Leva chapéu de cangaceiro que é muito mais a nossa cara, nossa alma, nossa sobrançaria.
O problema da designação
Meu segundo problema é a designação “astronauta”. Isso é coisa de americano. Assim como “cosmonauta” foi a tentativa russa de evitar plágio. Sejamos áspera porém orgulhosamente brasileiros, filhos sem jaça de nossas terras e terreiros. Em vez de “astronauta”, que já houve tantos (ucraniano, tcheco, polonês, alemão, húngaro, vietnamita, cubano, mongol, romeno, francês, afro-americano, indiano, canadense, saudita, sírio, afegão, japonês, britânico, austríaco, cazaque, belga, italiano, espanhol, eslovaco, sul- africano, israelense e chinês, para ser preciso), batizemos o primeiro filho auri-verde a romper com “os rudes laços” de ares gravitacionais (sempre segundo Kennedy) de algo mais a nosso modo e feitio. Algo feito “babalorixauta”.
Ivan Lessa: Bandeirante audaz do azul
da BBC BrasilTodos nós conseguimos cantar alguns versos dos hinos Nacional, da Independência, da Bandeira, da República, da Marinha e do Exército.
Sim, nós também, e não só os ingleses, somos excêntricos e ganha um doce e um quepe quem for capaz de cantarolar dois compassos do Hino do Aviador. É, aquele mesmo com versos do Capitão Armando Serra de Menezes e música do Tenente João Nascimento. Aquele que fala em “Vamos filhos altivos dos ares/ Nosso vôo ousado alçar, / sobre campos, cidades e mares, / Vamos nuvens e céus enfrentar.” Enfrentar nuvens e céus não é para qualquer um. Como não o é também, conforme prossegue a letra, “D´Astro-Rei desfaiamos nos cimos, / Bandeirantes audazes do azul…” “Desfaiar” o dicionário Houaiss não registra. Deve ser qualquer coisa a ver com manche e óculos ray-ban.
O importante é que o tenente-coronel aviador Marcos César Pontes está sendo treinado pela NASA, em Houston, no Texas, para tripular, dentro de pouco tempo, um vôo espacial. Será, pois, nosso primeiro astronauta. Marcos César Pontes já tem farto e sortido sítio próprio na Internet com tudo que você queria e não queria saber sobre o filho altivo, bandeirante audaz dos ares, e seu arriscado passeio enfrentando nuvens e céus.
No sítio em questão, além dos dados pessoais e técnicos, temos acesso a uma “conexão espacial”, que nos oferece, por preços módicos, uma série de lembranças com motivos aeroespaciais.
Há vestuário, com camisetas, jaquetas, bonés etc., há “patches” com emblemas bordados, todos de bom gosto e em cores variadas. Há souvenirs como miniaturas e decalcomanias com o semblante simpático do tenente-aviador acompanhado da frase, “Quero ver o verde e amarelo no espaço”. Para não falar de um delicado broche, de fino acabamento, mostrando um astronauta, em sua vestimenta tradicional, portando nosso lábaro estrelado, e a legenda, “ Marcos Pontes. Tudo ao alcance do bolso de qualquer patriota.” Todos lá.
O desafio do chapéu
Meu primeiro problema com a empreitada está no que acabo de ler nas folhas. Que o tenente-aviador Marcos Pontes pretende levar, em seu primeiro desafio às leis da gravidade, um chapéu panamá que teria pertencido àquele que, conforme aprendemos no colégio, “deu asas ao homem”. Vocês sabem quem é. Aquele que também deu o nome a um aeroporto quase que no centro do Rio. Aquele que o povo, sempre preso às coisas da terra, cismou que a simples menção do nome dá – toc, toc, toc –azar. Aquele que, maldosamente, dizem que pára avião no ar, de 14-bis a Boeing 747, para ficarmos flutuando na metáfora alada de “tocar a face de Deus”, conforme a frase célebre do presidente Kennedy. Não, não, caríssimo tenente-aviador. Leva chapéu de cangaceiro que é muito mais a nossa cara, nossa alma, nossa sobrançaria.
O problema da designação
Meu segundo problema é a designação “astronauta”. Isso é coisa de americano. Assim como “cosmonauta” foi a tentativa russa de evitar plágio. Sejamos áspera porém orgulhosamente brasileiros, filhos sem jaça de nossas terras e terreiros. Em vez de “astronauta”, que já houve tantos (ucraniano, tcheco, polonês, alemão, húngaro, vietnamita, cubano, mongol, romeno, francês, afro-americano, indiano, canadense, saudita, sírio, afegão, japonês, britânico, austríaco, cazaque, belga, italiano, espanhol, eslovaco, sul- africano, israelense e chinês, para ser preciso), batizemos o primeiro filho auri-verde a romper com “os rudes laços” de ares gravitacionais (sempre segundo Kennedy) de algo mais a nosso modo e feitio. Algo feito “babalorixauta”.
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