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27/03/2006 - 09h51

Influência do lobby dos colonos israelenses diminui

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, em Jerusalém

O peso e a influência na política de Israel dos colonos que vivem em territórios ocupados diminuíram depois da retirada da faixa de Gaza, idealizada pelo ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, dizem analistas.

Um dos fatores que demonstra o fenômeno é a grande vantagem nas pesquisas eleitorais do partido Kadima, que Sharon fundou pouco antes do derrame que o incapacitou, exatamente por conta de desacordos, provocados pelo plano de retirada, na agremiação direitista Likud, da qual por décadas ele foi um dos mais importantes líderes.

"Os colonos, na verdade, nunca tiveram mais do que 10 ou 12 representantes na Knesset (de um total de 120), mas eles sempre tiveram um poder de lobby muito grande, que agora está sendo reduzido", avalia o cientista político da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yacov Bar Siman-Tov.

Durante décadas os colonos lutaram para conquistar respeito e influência na sociedade e na política de Israel e em grande medida atingiram o objetivo, cultivando uma imagem de heróis nacionais, que não se importam com riscos e problemas para defender e ampliar o Estado judeu.

Mas nos últimos anos cada vez mais israelenses passaram a acreditar que a permanência em territórios ocupados pode trazer mais problemas do que vantagens, como demonstram o apoio popular à retirada da Faixa de Gaza e a expectativa de vitória do Kadima nas eleições.

Abandono

Muitos colonos estão se sentindo abandonados pela sociedade que eles dizem ter como grande objetivo defender.

"Estamos sentindo uma mágoa muito grande. Sempre houve esta propaganda dizendo que tudo vai para os (assentamentos nos) territórios (ocupados) e deixando os colonos na defensiva, quando na verdade fazemos tudo por idealismo puro", disse o colono Eliezer Neden, que mora no assentamento de Maleea Admumim, cerca de 6 quilômetros ao leste de Jerusalém.

"O que está acontecendo (o apoio dos eleitores a políticos que defendem a retirada de assentamentos) é como se fosse um balde de água, um tapa na cara", reclama.

Mas o assentamento de Malea Adumim, onde Neden mora, não está entre aqueles que correm o risco de serem desmontados pelo governo. Embora políticos do centro e da esquerda defendam a saída de colônias pequenas e isoladas, ninguém nos principais partidos israelenses fala em mexer com os colonos dos grandes assentamentos de Malea Admim, Ariel e Gush Atzion, onde vivem mais de 150 mil do total de 250 mil colonos israelenses na Cisjordânia.

Estes grandes assentamentos já se tornaram verdadeiras cidades e quando o então primeiro-ministro Ariel Sharon anunciou o plano de desmontar algumas colônias - projeto que o primeiro-ministro Ehud Olmert promete continuar se o Kadima ficar no poder - ele deixou claro que estes seriam não apenas mantidos como ampliados.

Malea Admumim é um dos assentamentos mais polêmicos porque o plano israelense é seguir construindo pelos 6 quilômetros que separam a colônia de Jerusalém para integrá-la completamente à cidade.

Devido à pressão internacional a contestações na Justiça israelense, as obras na área entre Malea Admumim e Jerusalém pararam na fase de terraplanagem, mas são constantes os esforços para retomar os trabalhos.

Confusão

A colona Nurit Abramovitch - que foi obrigada a sair do assentamento de Netzarim, no centro da Faixa de Gaza - acredita que o apoio da população israelense ao partido Kadima é reflexo da imaturidade dos eleitores do país.

"Os israelenses estão se comportando como adolescentes que fazem muita besteira quando acham que estão defendendo uma verdade", diz.

Abramovicth é profundamente religiosa e acredita que os colonos estão realizando uma missão divina ao instalarem e manterem assentamentos em territórios que a lei internacional considera dos palestinos.

"A Bíblia diz claramente que esta terra é dos israelenses e que nós temos a obrigação de governá-la. Não há como ir contra isso", diz.

Mas mesmo ela admite que ficou muito confusa pela saída de Gaza ter acontecido mesmo contrariando o que para ela são desígnios de Deus.

"Parece que Deus está escondido agora. Eu sei que Ele está lá e que vai se revelar, mas não sei por que isto está acontecendo agora", disse.

Partidos religiosos

Abramovitch vai votar na coalizão formada pelo Partido Nacional Religioso e o partido sionista secular Ihud Leumi. A lista deve receber muitos votos de colonos, que em grande parte são eleitores fiéis da direita religiosa israelense.

O cientista político da Universidade Bar-Ilan Yossi Katz diz que nos grandes assentamentos - onde há também uma significativa população secular - ainda é possível encontrar muitos eleitores que não votam na extrema direita.

"Eles não são a maioria, mas há um número significativo de eleitores do Partido Trabalhista, que historicamente incentivou a instalação de assentamentos, e mesmo do Kadima, que promete não mexer nos grandes assentamentos", diz.

Mas ele explica que nos assentamentos menores e mais isolados da Cisjordânia, que estão sob grande risco de serem desmontados, o voto na extrema direita é praticamente homogêneo.

Katz concorda com a avaliação de que o poder de lobby dos colonos está diminuindo sensivelmente, mas diz que as lideranças da comunidade estão se esforçando para retomar a influência que por muito tempo tiveram na política israelense.

"Muitos líderes dos colonos estão percebendo que alguma retirada é inevitável e já estão negociando com políticos importantes em todos os partidos para que isso aconteça da maneira menos prejudicial possível aos interesses deles."
 

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