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03/04/2006 - 13h53

Pressões por governo forte no Iraque podem agravar crise

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Desde a invasão de março de 2003, os americanos e seus aliados britânicos nunca souberam apostar na liderança correta pós-Saddam Hussein para governar o Iraque.

No país dos sonhos dos ocupantes o ideal seria um xiita secular e moderado, mas políticos como Iyad Alawi se revelaram fiascos eleitorais.

Washington e Londres sabem, porém, que não querem Ibrahim al-Jaafari, que está à frente do governo provisório desde as eleições vencidas em dezembro pela coalizão xiita com um fortíssimo componente religioso.

A incapacidade de líderes iraquianos para formar um governo definitivo gerou um vácuo de poder e intensificou a violência sectária.

Falta de apoio

Com a precariedade, aumentaram as pressões para a escolha de um "líder forte capaz de unificar o país", na expressão dita nesta segunda-feira pela secretária de Estado Condoleezza Rice, que fez uma visita de surpresa a Bagdá ao lado do ministro das Relações Exteriores britânico, Jack Straw.

Ambos tomaram cuidado para não darem a impressão de que querem impor um nome e algumas lideranças locais reclamaram de interferência, mas de acordo com o jornal Los Angeles Times, adversários xiitas do primeiro-ministro provisório, na verdade, querem a intervenção americana para que o impasse político seja rompido.

A esta altura do campeonato mesmo setores da coalizão xiita se juntaram abertamente a curdos e sunitas para pedir o afastamento de Jafaari, que foi indicado em 11 de fevereiro com a missão de formar o governo.

Embora o bloco xiita tenha 130 das 275 cadeiras do Parlamento, ele precisa do apoio de legisladores curdos e sunitas para a formação de um gabinete.

Pandora

Jaafari, que nunca foi popular entre os dois grupos minoritários, conseguiu a indicação do bloco xiita (a Aliança do Iraque Unificado) por apenas um voto.

À primeira vista, o racha entre os xiitas poderia facilitar a formação do governo, mas os políticos da maioria precisam encontrar uma sólida alternativa a Jaafari e nesta busca devem trombar na oposição do clérigo radical Moqtada al-Sadr, o principal partidário de Jaafari.

Com uma resistência mais intensa a Sadr, maior é a possibilidade de choques entre as facções xiitas.

O grande rival de Sadr é outro poderoso clérigo, Abdul-Aziz al-Hakim, que lidera a precária coalizão xiita no Parlamento.

Em comum com o rival, ele tem uma milícia armada e o apoio iraniano.

Estas facções xiitas possuem rivalidades antigas, que foram abafadas nos tempos em que ambas eram cruelmente reprimidas pelo regime de Saddam Hussein.

O embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, em uma cândida expressão, afirmou em março que a invasão de 2003 abriu uma "caixa de Pandora" no Iraque.

Desta caixa agora emerge esta possibilidade de mais violência, desta vez entre facções xiitas.

Em outro lance de candidez, diplomatas americanos e britânicos admitiram agora ao jornal Washington Post que as pressões de Condoleezza Rice e Jack Straw podem tanto ser bem sucedidas e levarem à formação de um governo efetivo, como serem um potente tiro pela culatra. Não será novidade neste novo e já desgastado Iraque.
 

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