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10/04/2006 - 14h40

Crise na França fortalece união sindical

DANIELA FERNANDES
da BBC Brasil, em Paris

A crise política e social na França causada pela lei do contrato para o primeiro emprego (CPE, na sigla em francês) permitiu que os franceses redescobrissem algo que havia desaparecido dos grandes debates nacionais nos últimos anos: a união sindical.

Os principais sindicatos e confederações de trabalhadores, considerados vitoriosos neste braço de ferro com o governo, desfilaram lado a lado nas manifestações contra a lei trabalhista. Algo raramente visto na França, já que normalmente eles não aparecem reunidos nem mesmo nos tradicionais desfiles de 1° de maio.

Mas a imagem da divisão permanente de seus dirigentes sobre temas da atualidade foi substituída nesta crise por discursos idênticos de seus representantes, ou seja, a revogação do chamado CPE.

“Esta é a primeira vez desde 1995, durante a primeira tentativa de reforma do sistema de aposentadoria, que todos os sindicatos franceses se mostram unidos. E desta vez, mesmo os sindicatos que não foram chamados para negociar com o governo reconheceram as outras entidades como interlocutores legítimos”, disse à BBC Brasil Jacques Capdevielle, pesquisador do Centro de Estudos da Vida Política Francesa (Cevipof, em francês).

Substituição

A lei trabalhista foi enterrada nesta segunda-feira pelo presidente Jacques Chirac.

Sem falar explicitamente na revogação do CPE para não desmoralizar ainda mais seu já enfraquecido primeiro-ministro, Dominique de Villepin, o presidente Chirac decidiu “substituir” o CPE por outras medidas destinadas apenas para os jovens sem diploma universitário e com pouca qualificação profissional.

Os sindicatos, diz o pesquisador Capdevielle, tiveram o apoio da opinião pública e demonstraram uma unidade também em relação às reivindicações dos estudantes universitários e secundaristas.

Desde a revolução estudantil de maio de 1968, essa parceria entre sindicatos e estudantes só havia ocorrido em 1994, quando o governo tentou criar um salário mínimo para os jovens.

“O governo apostava provavelmente em uma ruptura da unidade sindical durante a crise, mas ela não ocorreu”, afirma Capdevielle.

Vitória sindical

O cientista político Stéphane Monclaire, professor da Universidade da Sorbonne, também afirma que o desfecho da crise causada pela lei do CPE representa uma vitória da união sindical.

Para ele, essa nova união sindical também trouxe benefícios aos partidos de esquerda, permitindo que eles esquecessem as divisões internas. Monclaire afirma que a polêmica em relação ao CPE levou o Partido Socialista a esquecer suas divisões internas e se mostrar novamente unido.

O PS estava esfacelado desde o referendo sobre a Constituição Européia, em maio do ano passado. Seus principais líderes fizeram campanhas distintas sobre o tema.

Segundo Monclair, a crise do contrato primeiro emprego deverá beneficiar o Partido Socialista na próxima eleição presidencial, em 2007. “A atitude do governo deve levar muitos jovens a votarem em partidos de esquerda como sinal de protesto”, diz ele.

O CPE foi substituído por dispositivos destinados aos jovens sem diploma universitário, com pouca qualificação profissional e residentes em áreas consideradas “sensíveis” e classificadas como prioritárias em termos de educação. Esses contratos já são previstos pela legislação francesa e serão agora reforçados.

Auxílio financeiro

O governo irá conceder auxílios financeiros às empresas que empregarem jovens nessas condições.

Segundo o relator da lei sobre Igualdade de Oportunidades, na qual estava previsto o CPE, as medidas custarão aos cofres públicos 150 milhões de euros (cerca de R$ 390 milhões) neste ano e 300 milhões de euros em 2007.

As medidas anunciadas nesta segunda-feira pelo primeiro-ministro, Dominique de Villepin, deverão ser discutidas já a partir de amanhã no Parlamento francês.
 

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