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24/04/2006 - 08h30

Governo cadastra brasileiros em territórios palestinos

GUILA FLINT
enviada especial da BBC Brasil a Ramallah (Cisjordânia)

Cidadãos brasileiros que vivem em territórios palestinos estão sendo cadastrados pela primeira vez para que possam votar nas eleições gerais de outubro.

A iniciativa, organizada pelo escritório da Representação Brasileira na Autoridade Nacional Palestina, deverá ajudar a determinar quantos brasileiros vivem nos territórios.

"O cadastramento vai nos dar a possibilidade de fazer, pela primeira vez, um censo detalhado da comunidade brasileira nos territórios palestinos ocupados", disse o chefe da Representação Brasileira em Ramallah, ministro Josal Pellegrino, à BBC Brasil.

De acordo com ele, o número de eleitores que deverão comparecer até o final do cadastramento deve chegar a mil.

Segundo cálculos das autoridades brasileiras, esse dado pode vir a confirmar avaliações prévias de que, na Cisjordânia e na faixa de Gaza, deve haver por volta de 5 mil cidadãos brasileiros, incluindo crianças e idosos.

Campanha

Para incentivar o cadastro dos brasileiros, o escritório do Brasil lançou uma campanha, utilizando rádios locais, convidando os brasileiros a fazer o cadastro.

"Aviso importante a todos os cidadãos brasileiros, venham se cadastrar no escritório da Representação em Ramallah", diz o jingle transmitido pelas estações de rádio Ajyal e Angham, com o fundo musical do samba de Juca Chaves Presidente Bossa Nova.

A campanha parece estar tendo sucesso. Nos primeiros sete dias úteis, mais de 700 eleitores se cadastraram. O cadastramento foi iniciado no último dia 10 e termina no dia 28.

Mas nem todos os cidadãos brasileiros residentes nos territórios palestinos têm conseguido chegar à Representação, localizada na cidade de Ramallah, na Cisjordânia.

"Há muitas restrições à movimentação da população, impostas pelas forças de ocupação israelenses, inúmeros pontos de checagem no caminho, e as pessoas têm dificuldade e receio de se locomover até Ramallah", disse Josal Pellegrino.

A maioria dos eleitores que compareceram ao escritório brasileiro é da própria região de Ramallah. Entre aqueles que moram nos distritos de Jenin, Nablus e Tulkarem, no norte da Cisjordânia, são poucos os que se apresentaram até agora.

Pellegrino também disse que há cidadãos brasileiros morando na faixa de Gaza. Mas nenhum deles se apresentou à representação em Ramallah, pois as autoridades israelenses proíbem o deslocamento de palestinos da faixa de Gaza à Cisjordânia.

"Com base nas consultas telefônicas que fizemos, nossa avaliação é de que, na faixa de Gaza, se encontram por volta de 80 cidadãos brasileiros, mas pode ser que haja mais", disse ele.

Sem documentos

Sofia Bakri, 28, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, já se registrou para as eleições brasileiras de outubro. Ela se mudou para a Cisjordânia há nove anos, quando se casou com um palestino.

Bakri explicou à BBC Brasil qual é a razão do medo das pessoas de passar pelos pontos de checagem das tropas israelenses.

"Não temos carteiras de identidade locais, podemos ser expulsos a qualquer momento se formos pegos sem a documentação necessária", disse ela.

As carteiras de identidade emitidas pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) devem passar pela autorização de Israel, que impõe sérias restrições à emissão desses documentos.

O resultado é que muitos cidadãos palestinos que moraram no exterior não conseguem a carteira de identidade e vivem em um clima de medo permanente de expulsão do país.

Apesar das dificuldades, o ministro Pellegrino disse que o cadastramento tem sido bem-sucedido.

"Este processo está nos permitindo estabelecer uma relação de excelente eficácia com a comunidade brasileira local, de quem estamos recebendo uma ajuda fantástica. E nós retribuímos, prestando a esta comunidade a assistência consular da qual ela necessita. É uma relação de reciprocidade que me agrada muito", disse.

"A existência deste escritório de Representação na Autoridade Nacional Palestina facilita muito a vida dos cidadãos brasileiros nesta região, que antes tinham que se deslocar até a nossa embaixada em Tel Aviv para resolver seus problemas, coisa que hoje é praticamente impossível para a população palestina."

"Mas obviamente não podemos resolver problemas graves, de origem local, que independem da assistência consular brasileira", afirmou Pellegrino.
 

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