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28/04/2006
-
07h25
da BBC, em Nova York
George W. Bush é um presidente que preza mais a lealdade do que a competência. Para seus críticos mais beligerantes, inclusive alguns generais da reserva, a maior prova é a preservação de Donald Rumsfeld como secretário de Defesa, apesar de sua condução da guerra no Iraque.
O presidente resiste a uma reforma ministerial mais profunda.
Nas últimas semanas, o presidente mexeu na mobília governamental, mudando peças de posição. Mas uma aquisição significativa aconteceu na operação de comunicação com a escolha de Tony Snow, um conhecido comentarista de rádio e televisão, para ser o porta-voz de Bush.
A indicação de Snow foge ao figurino. Embora seja um conservador de carteirinha, ele nunca bateu continência automaticamente para o presidente. Nos comentários na imprensa, deu provas de independência e senso crítico. Sua escolha sugere um gesto ousado ou de desespero da parte de um governo que, de acordo com o que Snow disse certa vez no ar, está sem rumo.
Façanha
Joshua Bolten, o novo chefe da Casa Civil, encarregado de revitalizar o desempenho do governo, acredita que o agressivo e articulado Snow possa azeitar a máquina de comunicação e polir a imagem do presidente. O eventual êxito de Snow será uma façanha.
As pesquisas de opinião mostram uma sistemática queda da taxa de aprovação de Bush. Agora no final de abril a taxa ronda os 35 pontos. Em alguns casos, 32.
O desencanto popular com o Iraque parece irreversível. Esta semana, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e Rumsfeld foram despachados para Bagdá, em uma viagem de surpresa, para um endosso de alta visibilidade de Nuri Kamal al Maliki, o primeiro-ministro recém-indicado.
A viagem também sinalizou as esperanças da Casa Branca de que um novo e permanente governo iraquiano reverta semanas de más notícias que levaram o apoio doméstico à guerra para o seu nível mais baixo e alimentaram o contínuo desgaste de Bush.
Para a exasperação da Casa Branca, os crescentes preços da gasolina nos últimos dias aceleraram o descontentamento popular. E esta alta da gasolina ajuda a explicar um paradoxo: a seis meses das eleições para o Congresso, os americanos estão pessimistas, embora o cenário econômico seja decente.
Problema-chave
Não é à toa que Joshua Bolten considere que o problema-chave do governo seja de comunicação e não de substância.
O raciocínio talvez não faça sentido no Iraque - onde a ofensiva de relações públicas e a bateria de discursos de Bush nos últimos meses não surtiram efeito - mas é razoável na economia.
Com isto, o secretário de Tesouro, John Snow (sem parentesco com o novo porta-voz), parece vulnerável, justamente pela incapacidade para apregoar as boas notícias econômicas em meio a uma certa histeria sobre os preços da gasolina, que em relação ao que o consumidor paga no Brasil ou na Europa é plenamente suportável, mesmo com uma alta acentuada, que leva agora o galão a beirar os US$ 3.
Uma medida precisa da insatisfação popular está na pesquisa do jornal The Wall Street Journal e rede de televisão NBC, que foi divulgada na quinta-feira.
Com o preço do galão subindo para beberrões mal acostumados, a sondagem mostra que energia atropelou Iraque como a preocupação número um da opinião pública. Para 2/3 dos americanos, a economia está no caminho errado e apenas 19% dizem que, apesar de um quadro sólido de empregos, inflação baixa e alta na bolsa de valores, estão confiantes sobre a saúde da economia.
Paralisia
O desencanto dos americanos se estende ao Congresso de maioria republicana, acusado de paralisia e picuinhas, o que está mais do que evidente no atual debate sobre reforma da imigração e propostas simbólicas (e demagógicas) nos últimos dias para conter a alta dos preços da gasolina.
Nesta pesquisa Wall Street Journal/NBC, apenas 22% dos americanos se dizem satisfeitos com o desempenho do Legislativo.
Não chega a ser um grande consolo para o Congresso ou para o Executivo que para a opinião pública os maiores vilões na crise de energia sejam as companhias petrolíferas, para as quais estão jorrando lucros recordes.
Seus diretores não deverão concorrer nas eleições de novembro e, ao contrário de Bush, não estão especialmente preocupados com um legado histórico.
Os responsáveis pela pesquisa, o democrata Peter Hart e o republicano Bill McInturff, concordam que o estado de espírito do país está "azedo".
A frustração se estende à classe política em geral, mas é mais intensa em relação aos republicanos. Como sempre resta saber se a oposição democrata saberá capitalizar este estado de espírito nas eleições de novembro.
Para Bush o quadro é especialmente desalentador. Mesmo o republicano McInturff reconhece que será muito difícil para o presidente reverter sua posição nas pesquisas, salvo eventos extraordinários.
Não basta trocar o mensageiro. Mas Bush se recusa a escutar esta mensagem.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre George W. Bush
Análise: Aumento da gasolina derruba ainda mais aprovação de Bush
CAIO BLINDERda BBC, em Nova York
George W. Bush é um presidente que preza mais a lealdade do que a competência. Para seus críticos mais beligerantes, inclusive alguns generais da reserva, a maior prova é a preservação de Donald Rumsfeld como secretário de Defesa, apesar de sua condução da guerra no Iraque.
O presidente resiste a uma reforma ministerial mais profunda.
Nas últimas semanas, o presidente mexeu na mobília governamental, mudando peças de posição. Mas uma aquisição significativa aconteceu na operação de comunicação com a escolha de Tony Snow, um conhecido comentarista de rádio e televisão, para ser o porta-voz de Bush.
A indicação de Snow foge ao figurino. Embora seja um conservador de carteirinha, ele nunca bateu continência automaticamente para o presidente. Nos comentários na imprensa, deu provas de independência e senso crítico. Sua escolha sugere um gesto ousado ou de desespero da parte de um governo que, de acordo com o que Snow disse certa vez no ar, está sem rumo.
Façanha
Joshua Bolten, o novo chefe da Casa Civil, encarregado de revitalizar o desempenho do governo, acredita que o agressivo e articulado Snow possa azeitar a máquina de comunicação e polir a imagem do presidente. O eventual êxito de Snow será uma façanha.
As pesquisas de opinião mostram uma sistemática queda da taxa de aprovação de Bush. Agora no final de abril a taxa ronda os 35 pontos. Em alguns casos, 32.
O desencanto popular com o Iraque parece irreversível. Esta semana, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e Rumsfeld foram despachados para Bagdá, em uma viagem de surpresa, para um endosso de alta visibilidade de Nuri Kamal al Maliki, o primeiro-ministro recém-indicado.
A viagem também sinalizou as esperanças da Casa Branca de que um novo e permanente governo iraquiano reverta semanas de más notícias que levaram o apoio doméstico à guerra para o seu nível mais baixo e alimentaram o contínuo desgaste de Bush.
Para a exasperação da Casa Branca, os crescentes preços da gasolina nos últimos dias aceleraram o descontentamento popular. E esta alta da gasolina ajuda a explicar um paradoxo: a seis meses das eleições para o Congresso, os americanos estão pessimistas, embora o cenário econômico seja decente.
Problema-chave
Não é à toa que Joshua Bolten considere que o problema-chave do governo seja de comunicação e não de substância.
O raciocínio talvez não faça sentido no Iraque - onde a ofensiva de relações públicas e a bateria de discursos de Bush nos últimos meses não surtiram efeito - mas é razoável na economia.
Com isto, o secretário de Tesouro, John Snow (sem parentesco com o novo porta-voz), parece vulnerável, justamente pela incapacidade para apregoar as boas notícias econômicas em meio a uma certa histeria sobre os preços da gasolina, que em relação ao que o consumidor paga no Brasil ou na Europa é plenamente suportável, mesmo com uma alta acentuada, que leva agora o galão a beirar os US$ 3.
Uma medida precisa da insatisfação popular está na pesquisa do jornal The Wall Street Journal e rede de televisão NBC, que foi divulgada na quinta-feira.
Com o preço do galão subindo para beberrões mal acostumados, a sondagem mostra que energia atropelou Iraque como a preocupação número um da opinião pública. Para 2/3 dos americanos, a economia está no caminho errado e apenas 19% dizem que, apesar de um quadro sólido de empregos, inflação baixa e alta na bolsa de valores, estão confiantes sobre a saúde da economia.
Paralisia
O desencanto dos americanos se estende ao Congresso de maioria republicana, acusado de paralisia e picuinhas, o que está mais do que evidente no atual debate sobre reforma da imigração e propostas simbólicas (e demagógicas) nos últimos dias para conter a alta dos preços da gasolina.
Nesta pesquisa Wall Street Journal/NBC, apenas 22% dos americanos se dizem satisfeitos com o desempenho do Legislativo.
Não chega a ser um grande consolo para o Congresso ou para o Executivo que para a opinião pública os maiores vilões na crise de energia sejam as companhias petrolíferas, para as quais estão jorrando lucros recordes.
Seus diretores não deverão concorrer nas eleições de novembro e, ao contrário de Bush, não estão especialmente preocupados com um legado histórico.
Os responsáveis pela pesquisa, o democrata Peter Hart e o republicano Bill McInturff, concordam que o estado de espírito do país está "azedo".
A frustração se estende à classe política em geral, mas é mais intensa em relação aos republicanos. Como sempre resta saber se a oposição democrata saberá capitalizar este estado de espírito nas eleições de novembro.
Para Bush o quadro é especialmente desalentador. Mesmo o republicano McInturff reconhece que será muito difícil para o presidente reverter sua posição nas pesquisas, salvo eventos extraordinários.
Não basta trocar o mensageiro. Mas Bush se recusa a escutar esta mensagem.
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