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03/05/2006 - 10h14

Análise: Morales mais próximo de Lula ou de Chávez?

JAMES PAINTER
da BBC Brasil

Uma das principais questões que apareceram quando Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia em dezembro do ano passado foi em relação ao seu rumo político: ele estaria mais inclinado a fazer um governo de centro-esquerda na linha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou trilharia uma rota mais radical e anti-Bush, seguindo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Apesar de Morales ter avisado que iria nacionalizar o setor de gás e petróleo, nunca se soube ao certo até onde ele iria.

Agora se sabe que ele estava falando em controle do Estado sobre produção, comercialização e preços. São medidas que o situam claramente no time de Chávez e não no de Lula, o dos novos líderes esquerdistas com tendências liberais.

Alguns observadores, Washington em particular, vão considerar significativo o fato de Morales ter se encontrado em Cuba com Chávez e Fidel Castro na semana passada, quando assinaram um acordo comercial para contrapor a vasta influência americana na região.

Outros paralelos podem ser traçados entre o anúncio de Morales e a recente radicalização da política de Chávez em relação à atuação de empresas petroleiras estrangerias na Venezuela.

Duas empresas, a francesa Total e a Eni, da Itália, tiveram seus campos confiscados na semana passada.

Não resta dúvida de que as ligações entre Bolívia e Venezuela se fortaleceram. Como parte do novo acordo comercial, a Bolívia concordou em vender coca e soja para a Venezuela, e a comprar 5% da Telesur, o canal de notícias criado por Chávez, com sede em Caracas.

Em troca, a Venezuela disse que investiria no setor bancário boliviano. O jornal britânico Financial Times disse que encontros de ministros dos dois países são "comuns", e que "existem sinais de que Chávez estaria influenciando o desenho da nova assembléia constituinte boliviana" a ser eleita em julho.

Um golpe para Lula?

Um aspecto que causa surpresa é o fato de Lula não ter exercido uma influência moderadora sobre Morales, que muitos, em Washington, previam.

A Petrobras é o maior investidor no setor de gás da Bolívia - que tem a segunda maior reserva da América do Sul, perdendo apenas para a Venezuela - e é atualmente responsável por mais de 60% da produção de gás boliviano.

A empresa investiu mais de US$ 1 bilhão na Bolívia e pode virar o principal prejudicado se Morales levar adiante os planos de nacionalização.

Lula é amigo de Morales, e vários observadores brasileiros pensaram que Lula seria capaz de garantir boas relações entre os dois países, principalmente depois que o governo de Morales sugeriu que daria um tratamento privilegiado a empresas estatais.

Lula ainda pode ser capaz de acalmar a situação, mas os sinais nas últimas semanas foram de que Morales iria dar o mesmo tratamento para todas as empresas estrangeiras, inclusive as brasileiras.

Em março, Morales iniciou uma troca de acusações com a Petrobras e, no mesmo mês, a empresa anunciou que estaria desistindo de um plano de investir US$ 5 bilhões na Bolívia.

Na semana passada, outra empresa brasileira, a siderúrgica EBX, foi obrigada a deixar a Bolívia depois de ser acusada de desrespeitar leis ambientais do país.

Razões domésticas

O governo americano pode até achar que Chávez esteja por trás da radicalização de Morales. Mas Morales está fazendo o que grande parte da população boliviana queria.

Muitos bolivianos acham que a história do país é marcada pela exploração injusta de seus ricos recursos naturais - prata, alumínio, petróleo e, agora, gás - por investidores estrangeiros, que deixaram o país na condição de mais pobre da América do Sul.

O principal problema do governo boliviano agora é saber se a companhia estatal do setor energético, a YPFB, vai ter o dinheiro e o know how para explorar seus próprios recursos.

O governo calcula que vai arrecadar mais com o resultado das nacionalizações - cerca de US$ 750 milhões em 2007, segundo algumas estimativas.

Mas opositores dizem que a Bolívia nacionalizou o setor de energia duas vezes antes na sua história - nos anos 30 com a Standard Oil e em 1969 com a empresa americana Gulf. Eles dizem que essas nacionalizações não ajudaram a reduzir a pobreza no país.
 

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