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03/05/2006 - 18h32

Alan García busca uma segunda chance no Peru

MARCIA CARMO
da BBC Brasil

A trajetória política do candidato Alan García Pérez inclui a glória de ter sido o mais novo presidente eleito do Peru, aos 36 anos, em 1985, com inédito apoio popular, e a caótica herança política, social e econômica que deixou, cinco anos mais tarde, em 1990.

Alguns quilos acima do peso normal, carismático e com fama de bom orador, García é hoje a surpresa da reta final da eleição peruana. E, segundo analistas peruanos, ouvidos pela BBC Brasil, tem chances de retornar ao palácio presidencial de Miraflores.

"Tenho dúvidas de que ele tenha aprendido (a governar) depois de tudo, mas é ele que hoje tem maior possibilidade de vencer o segundo turno", afirmou o professor de ciências políticas e econômicas da Universidade San Marcos, Carlos Aquino Rodríguez.

Para o professor, García não terá como repetir os "erros do passado" já que a imprensa peruana ganhou mais força e independência nos últimos anos e as grandes estatais foram privatizadas.

Segundo Rodríguez, isso significa que agora há maior vigilância por parte da sociedade aos atos do governo e o papel do Estado é mais limitado do que nos tempos de García como presidente.

Acusações

Rodríguez e o professor de ciências políticas da Universidade Católica de Lima, Rolando Ames, entendem que as dúvidas sobre um governo de Ollanta Humala favorecem a candidatura de Alan García.

"García tem grandes chances de voltar ao governo e tentaria fazer uma administração mais de centro, não tão de esquerda quanto sua gestão anterior", disse Ames. "E talvez com melhores medidas tanto na área econômica como na área social".

Nos cerca de 16 anos desde que deixou o poder, o candidato da Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana) viveu sob protestos em Lima e, depois, exilado em Bogotá, na Colômbia.

Depois de deixar o poder, García perdeu os direitos de senador vitalício, destinado aos ex-presidentes, e foi acusado de irregularidades financeiras durante seu mandato.

As denúncias caíram quando o ex-presidente Alberto Fujimori fugiu, em 2000, do Peru para o Japão para escapar de acusações de corrupção e outras irregularidades.

'Jovem demais'

Nos últimos dias, Alan García intensificou seus contatos políticos, mas descartou, em uma entrevista à imprensa peruana, a sugestão do escritor e ex-presidenciável Mario Vargas Llosa para formar aliança com o partido Unidade Nacional, da candidata derrotada Lourdes Flores.

García também reagiu contra os ataques do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que o acusara, diante das câmeras de televisão, de ser "corrupto" e "ladrão".

As declarações de Chávez levaram o atual presidente, Alejandro Toledo, a ameaçar retirar o embaixador peruano de Caracas.

"Chávez não tem direito de se meter no nosso país", retrucou García. "Ele critica os Estados Unidos, mas vende petróleo para eles", atacou.

Pai de quatro filhos, de dois casamentos, Alan García é casado há 20 anos com a argentina Pilar Nores e garante que mudou.

A diferentes amigos, García disse que era jovem demais quando assumiu a Presidência em 1985, mas que agora amadureceu e entendeu que o mundo globalizado é diferente.

Com esse raciocínio, a expectativa, entre analistas, é de que ele manterá o Tratado de Livre Comércio (TLC) assinado por Toledo com os Estados Unidos. Humala já avisou que não pretende respeitar o acordo.

Desconfianças

Alan García chega na corrida eleitoral deste ano após repetir a mesma angústia que passou na eleição presidencial de 2001, pouco depois de retornar ao país.

Naquela disputa, ele também disputou, no primeiro turno, voto a voto com Lourdes Flores.

Mas Toledo saiu vitorioso e García voltou a ser candidato, desta vez com uma campanha dirigida, principalmente, para os mais jovens.

Aquino Rodríguez diz que o candidato da Apra apostou naqueles eleitores que não conheceram os anos de hiperinflação, aumento da pobreza e medo das ações dos guerrilheiras do Sendero Luminoso contra seu governo.

Quando presidente García também suspendeu o pagamento das dívidas com os organismos multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), e viu multiplicar a pobreza e a desconfiança em suas medidas.

Para Ames, García ainda gera desconfianças, mas talvez seja "menos pior" que Humala. A realidade só será conhecida depois da abertura das urnas e quando o eleito, seja Humala ou García, começar a governar.
 

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