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19/05/2006
-
06h34
da BBC Brasil, em Nova York
O aumento dos preços de commodities como petróleo, gás e minério de ferro, aumentou o poder de países latino-americanos nas relações com compradores de seus produtos.
A tendência foi uma das conclusões apresentadas em Nova York na conferência sobre América Latina e Ásia, organizada pelo centro de pesquisas Americas Society, na quarta-feira.
"Países latinos como Bolívia e Venezuela estão testando o limite de seu poder de barganha", disse o cientista-político Richard Feinberg, diretor do Centro de Estudos sobre a Cooperação Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês) da Universidade da Califórnia.
"Certamente esses países têm hoje mais alavancagem para exigir preços e impostos mais altos de seus compradores asiáticos, americanos e europeus. Mas eles têm que tomar cuidado para não forçar excessivamente o jogo e acabar afugentando os investidores internacionais", acrescentou.
Minério de ferro
O aumento dos preços é uma conseqüência direta da maior demanda por matérias-primas, principalmente a partir de países com altas taxas de crescimento, como China e Índia.
Mas a pressão por melhores preços para recursos energéticos e matérias-primas não tem se limitado a nações governadas por líderes de esquerda, como a Venezuela de Hugo Chávez, ou a Bolívia de Evo Morales.
Na quarta-feira, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior produtora mundial de minério de ferro, anunciou o reajuste de 19% para a matéria-prima vendida a siderúrgicas japonesas.
A Vale também tenta obter um aumento de 10% no minério de ferro vendido para a China. No ano passado, a empresa reajustou o preço da commodity em 71,5%.
Um dos oradores do evento, Renato Amorim, diretor de relações internacionais da CVRD e secretário-executivo do Conselho de Negócios Brasil-China, recusou-se a comentar as negociações em curso com os chineses.
Mas de acordo com Amorim, os investidores asiáticos têm "uma percepção diferenciada" dos países latino-americanos.
"O que está acontecendo na Bolívia é um fenômeno limitado à Bolívia. Não afeta a região como um todo", disse.
Crescimento inédito
"De modo geral, o que se vê nas relações comerciais entre a América Latina e a Ásia é um feliz casamento entre demanda e oferta", ele acrescentou.
Graças, em parte, ao crescimento das importações de matérias-primas pelos asiáticos, nos últimos quatro anos a América Latina apresentou taxas de crescimento de cerca de 5% ao ano, um nível não alcançado desde a Segunda Guerra Mundial.
Amorim citou as exportações latino-americanas para a China, que cresceram mais de 600% nos últimos cinco anos, devendo alcançar US$50 bilhões de dólares em 2006.
"Se não fossem as importações asiáticas, sobretudo chinesas, o Brasil teria sofrido uma recessão em 2002", disse.
Visão americana
Segundo os conferencistas, apesar dos Estados Unidos estarem perdendo sua participação relativa em comércio exterior com os latino-americanos, Washington tem visto o aumento das relações comerciais entre a América Latina e a Ásia com tranqüilidade.
"Até aqui os americanos têm concluído que o crescimento econômico propiciado pelas importações asiáticas tem aliviado pressões políticas na América Latina", disse Mitchell Silk, sócio do escritório de advocacia britânico Allen & Overy.
"A única ressalva é o apoio do (presidente chinês) Hu Jintao a Hugo Chávez, que é visto com reserva pelo governo Bush", acrescentou.
"De maneira geral, os chineses têm adotado uma estratégia pragmática, vendo a América Latina como um fornecedor de matérias-primas e comprador de seus produtos manufaturados."
Mas se de um lado os latino-americanos têm obtido bons resultados com a venda de commodities, por outro eles devem vir a enfrentar crescentes desafios na competição com os asiáticos por mercados para produtos industrializados.
"Hoje o principal desafio latino-americano é obter um consenso político que consiga escapar da armadilha populista e seja pró-crescimento", disse Joydeep Mukherji, diretor de classificação de risco soberano da agência Standard & Poors.
"Tanto a China quanto a Índia já atingiram o pico de seu crescimento demográfico e já têm modelos econômicos pró-crescimento eficazes", acrescentou.
"Mas o pico demográfico latino-americano só deve ser atingido daqui a 50 anos. A população latino-americana precisa ser melhor educada para poder competir globalmente".
Commodities aumentam poder de barganha da AL
ANGELA PIMENTAda BBC Brasil, em Nova York
O aumento dos preços de commodities como petróleo, gás e minério de ferro, aumentou o poder de países latino-americanos nas relações com compradores de seus produtos.
A tendência foi uma das conclusões apresentadas em Nova York na conferência sobre América Latina e Ásia, organizada pelo centro de pesquisas Americas Society, na quarta-feira.
"Países latinos como Bolívia e Venezuela estão testando o limite de seu poder de barganha", disse o cientista-político Richard Feinberg, diretor do Centro de Estudos sobre a Cooperação Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês) da Universidade da Califórnia.
"Certamente esses países têm hoje mais alavancagem para exigir preços e impostos mais altos de seus compradores asiáticos, americanos e europeus. Mas eles têm que tomar cuidado para não forçar excessivamente o jogo e acabar afugentando os investidores internacionais", acrescentou.
Minério de ferro
O aumento dos preços é uma conseqüência direta da maior demanda por matérias-primas, principalmente a partir de países com altas taxas de crescimento, como China e Índia.
Mas a pressão por melhores preços para recursos energéticos e matérias-primas não tem se limitado a nações governadas por líderes de esquerda, como a Venezuela de Hugo Chávez, ou a Bolívia de Evo Morales.
Na quarta-feira, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior produtora mundial de minério de ferro, anunciou o reajuste de 19% para a matéria-prima vendida a siderúrgicas japonesas.
A Vale também tenta obter um aumento de 10% no minério de ferro vendido para a China. No ano passado, a empresa reajustou o preço da commodity em 71,5%.
Um dos oradores do evento, Renato Amorim, diretor de relações internacionais da CVRD e secretário-executivo do Conselho de Negócios Brasil-China, recusou-se a comentar as negociações em curso com os chineses.
Mas de acordo com Amorim, os investidores asiáticos têm "uma percepção diferenciada" dos países latino-americanos.
"O que está acontecendo na Bolívia é um fenômeno limitado à Bolívia. Não afeta a região como um todo", disse.
Crescimento inédito
"De modo geral, o que se vê nas relações comerciais entre a América Latina e a Ásia é um feliz casamento entre demanda e oferta", ele acrescentou.
Graças, em parte, ao crescimento das importações de matérias-primas pelos asiáticos, nos últimos quatro anos a América Latina apresentou taxas de crescimento de cerca de 5% ao ano, um nível não alcançado desde a Segunda Guerra Mundial.
Amorim citou as exportações latino-americanas para a China, que cresceram mais de 600% nos últimos cinco anos, devendo alcançar US$50 bilhões de dólares em 2006.
"Se não fossem as importações asiáticas, sobretudo chinesas, o Brasil teria sofrido uma recessão em 2002", disse.
Visão americana
Segundo os conferencistas, apesar dos Estados Unidos estarem perdendo sua participação relativa em comércio exterior com os latino-americanos, Washington tem visto o aumento das relações comerciais entre a América Latina e a Ásia com tranqüilidade.
"Até aqui os americanos têm concluído que o crescimento econômico propiciado pelas importações asiáticas tem aliviado pressões políticas na América Latina", disse Mitchell Silk, sócio do escritório de advocacia britânico Allen & Overy.
"A única ressalva é o apoio do (presidente chinês) Hu Jintao a Hugo Chávez, que é visto com reserva pelo governo Bush", acrescentou.
"De maneira geral, os chineses têm adotado uma estratégia pragmática, vendo a América Latina como um fornecedor de matérias-primas e comprador de seus produtos manufaturados."
Mas se de um lado os latino-americanos têm obtido bons resultados com a venda de commodities, por outro eles devem vir a enfrentar crescentes desafios na competição com os asiáticos por mercados para produtos industrializados.
"Hoje o principal desafio latino-americano é obter um consenso político que consiga escapar da armadilha populista e seja pró-crescimento", disse Joydeep Mukherji, diretor de classificação de risco soberano da agência Standard & Poors.
"Tanto a China quanto a Índia já atingiram o pico de seu crescimento demográfico e já têm modelos econômicos pró-crescimento eficazes", acrescentou.
"Mas o pico demográfico latino-americano só deve ser atingido daqui a 50 anos. A população latino-americana precisa ser melhor educada para poder competir globalmente".
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