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26/05/2006 - 11h53

Tensão diminui com a chegada de mais tropas ao Timor

THAÍZA CASTILHO
da BBC Brasil, em Díli

Praticamente deserta, a capital de Timor Leste, Díli, assistiu nesta sexta-feira à chegada de tanques de guerra, helicópteros e mais soldados australianos que tentam controlar a frágil situação do país.

Segundo moradores que continuam na capital – cerca de 75% já deixaram Díli nas últimas semanas –, a situação nesta sexta-feira está mais calma.

Entre os que permanecem na cidade, está a brasileira Tatiana Rodrigues Brommonchenken, de 30 anos, professora de química.

Veja fotos da crise

"Hoje, o dia está mais tranqüilo, apesar dos conflitos ao redor da cidade. Não penso em voltar para o Brasil, a não ser que a situação piore", disse a mineira de Montes Claros que está há um ano e dois meses no Timor Leste.

Ajuda internacional

Desde que o ministro do Exterior do Timor Leste, José Ramos Horta, pediu ajuda para controlar a situação, já chegaram 852 australianos – de um total prometido de 1,3 homens –, além de um contingente menor de militares da Malásia, Nova Zelândia, Portugal e também dos Estados Unidos.

"A situação tende a melhorar cada vez mais com a chegada das tropas estrangeiras", disse o tenente-coronel, Alan Sampaio Santos, observador da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na última onda de ataques, uma família de Díli foi encontrada carbonizada, incluindo um menino de três anos. Vizinhos afirmam que eles foram atacados por serem parentes do ministro do Interior, Rogério Lobato, também responsável pela Polícia Nacional de Timor Leste.

Um adolescente de 17 anos e uma criança de 10 conseguiram escapar por uma janela dos fundos, enquanto a casa era incendiada, e estão refugiadas em uma das residências do governo australiano.

A autoria do ataque é desconhecida. Os confrontos já não incluem apenas as forças armadas e o grupo de ex-soldados que desertaram em março e iniciaram os protestos em abril.

Contra o governo e a população, agem, também, outros grupos armados, alguns envolvidos em atividades ilegais, outros formados por jovens descontentes com a falta de oportunidades no país. Os dois principais, no entanto, são o grupo liderado por Gastão Salsinha e o liderado pelo major Reinaldo, dois ex-militares.

Número de mortos

Os dados sobre o número de mortos durante os confrontos, que começaram com uma manifestação em 28 abril, são contraditórios.

O governo afirma que sete pessoas morreram quando tropas entraram em choque com os ex-soldados no dia 28. Um dos líderes do movimento, Gastão Salsinha, fala em 60 mortos nesse primeiro dia de confronto.

Mais recentemente, desde que a onda de violência voltou a ganhar força, 23 pessoas morrerram.

Para controlar a situação, o governo pediu ajuda internacional.

A chegada da força de paz australiana ocorre dias após o Timor Leste comemorar o quarto aniversário da restauração da independência, expressão usada para se referir à posse do presidente Xanana Gusmão após o quatro anos de transição em que a ONU deteve o poder administrativo no país.

Enquanto a situação permanece tensa, a população se refugia em campos, igrejas e nas montanhas.

Os cerca de 200 brasileiros que vivem no país estão em locais diferentes.

Um grupo de 10 brasileiros procurou a Embaixada do Brasil que ofereceu abrigo em um hotel longe das zonas de conflito.

Herança da colonização

As divisões que existem hoje na sociedade timorense, em parte origem do conflito atual, surgiram durante a ocupação da Indonésia.

Nos 25 anos de resistência, a sociedade acabou se dividindo em dois grupos.

Os que viviam no oeste do país, nos 10 distritos mais próximos à Indonésia, acabaram sofrendo mais a influência de Jacarta e, conseqüentemente, se integraram mais ao regime vigente. São conhecidos como "loromonu".

Do outro lado do país, em três distritos no extremo-leste, portanto, mais distante da Indonésia, concentrava-se a resistência timorense. Essa parcela da população é conhecida como "lorosae". Surgiram ali os principais líderes da resistência.

Os 600 soldados, que deram origem a essa onda de confrontos, são da parte oeste, do grupo loromonu. Como razão para terem se desligado do Exército, eles diziam estar sendo vítimas de discriminação.

Cerca de um mês após terem se desligado do Exército – o que, na prática, rendeu a eles a acusação de deserção –, eles pediram para ser reintegrados.

O pedido, feito em abril, foi recusado pelo governo que ofereceu outros cargos ao grupo. Eles não aceitaram a oferta e lideraram um protesto que se tornou violento no dia 28 de abril.

O presidente Xanana Gusmão vem de um distrito que fica no meio das duas regiões. Como não é identificado com nenhum dos dois grupos, é respeitado pela maioria nos dois segmentos da sociedade.
 

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