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04/06/2006 - 04h30

Peruanos vão às urnas escolher novo presidente

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Lima

Os cerca de dezesseis milhões de eleitores peruanos irão às urnas neste domingo obedecendo a um dos ditos populares do país: "Mas vale um mal conhecido do que o bem que não se conhece".

A frase passou a ser repetida por muitos eleitores.

Na opinião dos analistas Luis Benavente, da Universidade de Lima, e de Carlos Aquino, da Universidade São Marcos, o "mal conhecido" é o ex-presidente Alan García.

"Só que desta vez, se García for eleito, não terá um cheque em branco dos congressistas e da sociedade em geral", disse Benavente. "Terá que negociar e realmente provar que está num caminho certo."

García foi presidente entre 1985 e 1990 e deixou o poder acusado de atos de corrupção, além de deixar um país com hiperinflação anual de mais de sete mil por cento e com ações do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso em vários pontos do país, incluindo Lima, a capital.

'Nada a perder'

Aquino observou que os que vão votar no candidato nacionalista Ollanta Humala, do UPP, são os eleitores que "não têm nada a perder".

"Os eleitores que se sentem excluídos dos avanços econômicos do país acham que Humala pode fazer um modelo de país diferente, pode realmente chegar a pensar em melhorar a vida deles".

Para os mais pobres, que representam cerca de 51% da população, "pior do que está não pode ficar", como disse Pablo Rivera, de 53 anos, vendedor de frutas no bairro de Miraflores.

Na opinião de Aquino e de Manuel Saavedra, do instituto de opinião CPI, as classes média e alta, que também viveram os anos de "incerteza" de Alan García - incluindo a desvalorização do dinheiro na poupança - ainda preferem o ex-presidente a Humala.

"Humala pode fazer qualquer coisa e essa expectativa gera ainda mais medo", disse um empresário estrangeiro que vive em Lima.

Incertezas

Um dos pontos do plano de Humala que mais preocupa o empresariado com investimentos no país é a anulação do capítulo econômico da constituição.

Nele, afirma-se que as riquezas naturais são do Estado apenas enquanto estão debaixo da terra. Ou seja, passam a ser propriedade da iniciativa privada a partir de sua exploração – o que serve para minério e gás, por exemplo.

"Se ele for eleito e anular essa regra estará repetindo o presidente (boliviano) Evo Morales", preocupou-se o empresário, que pediu anonimato, referindo-se à decisão de nacionalização do gás e do petróleo na Bolívia.

Ao mesmo tempo, Humala reuniu-se, durante a campanha, com diferentes empresários e repetiu que o país precisa de obras de infra-estrutura.

"Precisamos do investimento estrangeiro", disse.

A declaração causou surpresa em alguns investidores que pensavam que ele fecharia as portas do Peru ao capital externo.

Mas Humala deixou claro, nas reuniões com os empresários, como contou um deles, que, se eleito, não haverá monopólios.

O Estado pretenderia ser sócio (não explicou como) das empreitadas que surgiriam em seu governo.

Pesquisas

Na contagem regressiva para as eleições, o ex-militar Humala aumentou sua presença política no país. Essa é sua primeira candidatura e ele nunca exerceu nenhuma função pública.

Seu partido, UPP, terá maioria no Congresso Nacional.

Ao mesmo tempo, as últimas pesquisas de opinião – do instituto Apoyo, do CPI e da Universidade de Lima – mostraram que a diferença entre os dois candidatos diminuiu.

Alan García passou a perder pontos nas pesquisas de intenção de votos à medida que Humala passou a conquistar eleitores nos grandes centros e não apenas nas áreas mais pobres e rurais, como tinha ocorrido no primeiro turno.

García chegou a estar, de acordo com os diferentes institutos, cerca de 20% à frente de Humala.

Os últimos levantamentos mostraram que essa distância poderia ficar entre 6% e 10%, como informaram Apoyo e CPI.

Curiosamente, os levantamentos do primeiro turno mostraram que Humala recebeu os votos que antes tinham sido do ex-presidente Alberto Fujimori.

"É só uma das provas de que não existem direita e esquerda no país", disse um assessor do Apra, partido de Alan García.

Apuração

O resultado final da apuração dos votos deverá ser concluído segunda-feira ou até a sexta-feira.

A apuração dos votos do primeiro turno do pleito, realizado dia nove de abril, virou uma agonia de vários dias.

A demora e o suspense sobre o resultado, que chegou a contar com empates entre os candidatos, obrigou à mudança da data do segundo turno em pelo menos três ocasiões.

Temendo atos de violência, nas últimas horas a Igreja Católica, o presidente Alejandro Toledo e a Justiça Eleitoral fizeram apelos aos candidatos e a seus seguidores que aceitem o resultado final e evitem agressões.

Durante a campanha eleitoral, ocorreram trocas de insultos, além de tiros e ovos.

A votação termina às 16h (18h em Brasília).

Se o resultado for apertado entre um candidato e outro, o instituo Apoyo, que costuma divulgar resultado de boca de urna, avisou que o serviço não será realizado – o que poderá aumentar a tensão e a expectativa sobre o resultado final.

A previsão é de que o eleito assuma o Palácio presidencial de Miraflores no dia 28 de julho.
 

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