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05/06/2006 - 19h10

Sem maioria, García terá que negociar

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Lima

O primeiro desafio do presidente eleito Alan García será provar que mudou.

Seu governo anterior, entre 1985 e 1990, terminou num terremoto político e econômico. A lista é longa: denúncias de corrupção, hiperinflação anual de 7.000%, desvalorização das cadernetas de poupança, ações dos grupos guerrilheiros, principalmente o Sendero Luminoso, e filas para comprar alimentos.

Seu histórico leva diferentes analistas, peruanos e políticos a comentarem que "será curta a lua de mel" com os eleitores. Na gestão anterior, Alan García recebeu mais votos e seu partido, o Apra, tinha maioria no Congresso Nacional.

Desta vez, tudo será diferente. O partido de seu adversário político no segundo turno das eleições, Ollanta Humala, conquistou o maior número de cadeiras no Parlamento (45), e García (com 35) terá que negociar com outras legendas para aprovar medidas do governo.

"Vaidoso"

Além da falta de maioria parlamentar, pelos dados preliminares, ele perdeu em dez das 25 regiões do país. Humala venceu em quinze, a maioria delas. E se não fosse pela vantagem de mais de 30 pontos percentuais que teve nas áreas mais populosas, como Lima, capital do Peru, dificilmente Alan García teria voltado ao poder.

Segundo a Justiça Eleitoral peruana, com 93% apurados, García recebeu 53,1% dos votos, contra 46,9 % de Humala.

"Desta vez, a sociedade não lhe dará um cheque em branco, a vigilância será muito maior", completou o analista Luis Benavente, da Universidade de Lima.

Para o escritor peruano Carlos Reyna, o "enigma" é saber se García, acusado de vaidoso, realmente mudou.

"Desta vez, mesmo que ele queira, não conseguirá fazer os estragos de antes", completou o analista Carlos Aquino, da Universidade de São Marcos.

O motivo não estaria só no fato de a oposição estar mais forte, mas também nas mudanças que ocorreram no Peru.

Para Aquino, quando García foi presidente – então o mais novo do país e da América do Sul –, o Estado peruano era mais robusto, com empresas e serviços estatais. Um mau governo, avalia ele, tinha uma possibilidade maior de afetar o país do que tem atualmente.

Hoje os serviços como telefonia, por exemplo, estão privatizados. Além disso, a economia acumula quase 60 meses consecutivos de crescimento econômico. Um recorde, embora o crescimento tenha feito pouco para distribuir renda pelo país.

O Peru registra ainda números históricos também de arrecadação tributária e reservas internacionais no Banco Central (US$ 15 bilhões).

Inclusão social

A sobrevivência de Alan García, neste seu retorno, conta com o desafio da inclusão social.

Apesar da expansão económica recente, aproximadamente 51% da população ainda é de pobres e, deste total, mais de 20% vivem abaixo da linha da pobreza.

O mapa político da eleição de domingo mostra que as regiões mais carentes votaram por Humala e as mais favorecidas preferiram García. Principalmente para evitar a vitória de Humala, um ex-militar, identificado com as idéias dos presidentes Fidel Castro, de Cuba, Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.

"Aqueles que ficaram com medo de perder o terreno ou o carro, por exemplo, se Humala fosse eleito, votaram por García. O curioso é que muitos deles sofreram com as filas e a desvalorização da poupança, no seu governo anterior", disse Aquino.

Na prática, como recordaram nesta segunda-feira, diferentes comentaristas políticos, Alan García recebeu cerca de 24% dos votos (no primeiro turno das eleições) e foi eleito porque a maioria preferiu "evitar", como afirmou a ex-candidata Lourdes Flores, a chegada de Humala ao poder.

Agora o novo presidente terá que governar sabendo que não terá uma vida fácil nem no Parlamento nem nas ruas do Peru.
 

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