Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
14/06/2006 - 05h42

Ivan Lessa: A Copa ética

da BBC Brasil

Já que a televisão aberta mostra todos, mas todos mesmo, jogos da Copa do Mundo, até hoje, quarta-feira, mergulhado no pior dos espíritos esportivos, tenho ou visto ou dado uma chegada a tudo quanto é pernada solta pela Alemanha.

Segundo o que a televisão mostra: essa mania de tacar close e slow motion em tudo quanto é jogada que, para eles lá, passa por importante. O passão de 30 ou 40 metros, daqueles que Didi ou Gerson davam, nada, bulhufas. Admitamos ainda que, por mais slow que seja a motion, eles jamais conseguirão dirimir as dúvidas: a bola entrou ou não entrou?

Então, como em todos os anos, eu vou, nesse início de torneio, torcendo pelos Davis diante desses Golias todos: Costa Rica, Equador, Costa do Marfim, Trinidad e Tobago, Dinamarca, Gana falam-me, não só à minha mente conturbada, mas também ao coração, ao espírito de justiça, à solidariedade com o mundo em emergência (pedindo socorro, chamando os bombeiros, querendo ambulância) e que já foi subdesenvolvido, até que uma senhora ou moça, possivelmente americana, provavelmente da mesma escola dessa servidora pública que chamou de manifestação de “relações públicas” o suicídio de três cativos da prisão ilegal de Guantánamo, até que uma senhora ou moça, dizia eu, resolveu que “emergente” pegava melhor que “subdesenvolvido”.

Por quem e como torcer

Não tendo, essas equipes de minha predileção, como fazer a bola sacudir o véu da noiva do time adversário, eu vou torcendo então pelos hinos das tais seleções sem chance. Vou torcendo pela combinação de cores de suas camisas ou pelo jeitão desse ou daquele outro jogador. Sempre levando em conta, evidente, o grau de antipatia dos timaços adversários, os francos (esses hipócritas!) favoritos. São todos antipáticos.

O futebol por eles praticado é terciário beirando o jurássico. Basta um close na carona vil de um jogador, para o ódio ser instantâneo. Ou admiração. Quiçá paixão.

Dou um exemplo. Antipatizo solene, e displicentemente também, com a seleção inglesa. Culpa dos agressivos torcedores? Do excesso de bandeiras? Da algazarra nos jornais e na televisão feita pelos comentaristas? Também. Apenas, também. Há que ser sincero. É uma coisa de pele, embora eu nunca tenha chegado perto (bleargh!) de um jogador de futebol inglês.

Até agora admiro mesmo é o goleador da seleção que joga com a cruz de São Jorge, o paraguaio Gamarra (um jogo, um gol), que nós conhecemos muito bem de outras grandes cabeçadas, quando de sua meteórica passagem pelo Corínthians e pelo Palmeiras.

Azarão arrasador

Gana é minha seleção favorita. Especialmente em inglês porque possui um mais que charmoso agá logo ali, depois do gê. É que Ghana (com agá, que ela merece) é considerada a campeã ética da Copa do Mundo. Isso para aqueles que buscam algo mais que futebol num campeão: a moral, para ser preciso – e precisão nem sempre é coisa que a moral esbanja.

Acredite se quiser, mas o Movimento pelo Desenvolvimento do Mundo (WDM), que faz parte da campanha destinada a fazer da pobreza história (Make Poverty History), tramou sua estratégia baseado não na técnica futebolística de uma seleção, mas sim de sua ética nacional e sua global cidadania.

O Movimento calculou quanto Ghana gasta com seus pobres, seus militares, sua dívida nacional, seu combate à poluição, e outros fatores que jogam mais atrás, discretamente, tendo então chegado a essa conclusão: Ghana é a campeã ética do mundo.

O Paraguai pega um modesto sétimo lugar e a simpática Costa Rica um (quase) honroso quarto lugar. Suécia e Tunísia levam, respectivamente, medalha de prata e de bronze. O Brasil? Nono lugar, atrás da Argentina e na frente da Ucrânia. Rá! Como se ética enchesse barriga. Ao contrário de “pentas” e “hexas”, né mesmo?
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página