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24/06/2006 - 09h16

O retorno do Talebã

RAHIMULLAH YUSUFZAI
da BBC Brasil

Nos últimos dois anos, o Talebã – movimento islâmico linha-dura que governou o Afeganistão de 1996 a 2001 – voltou a ganhar força no país.

Quatro anos após ser retirado do poder, o grupo está se fazendo notar por meio de operações de guerrilha contra as forças da coalizão (lideradas pelos Estados Unidos), matando integrantes de organizações que atuam no país e sequestrando estrangeiros envolvidos na reconstrução do Afeganistão.

Parte do leste e do sul do país têm se tornado mais e mais inseguras devido ao crescente número de ataques do Talebã.

A milícia ganhou proeminência no país em 1994, com a promessa de restaurar a paz, a segurança e de instaurar a Sharia, ou seja, a lei islâmica, se chegassem ao poder.

Popularidade inicial

Seu líder, o Mulá Mohammad Omar, clérigo de um vilarejo, perdeu o olho direito lutando as forças de ocupação da União Soviética no anos 80.

Os afegãos, cansados dos excessos dos mujahedins e das lutas internas, deram boas-vindas ao Talebã.

A popularidade inicial do grupo se explica pelo sucesso do Talebã no combate à corrupção e ao clima de terra sem lei que imperava no país. Em áreas sob controle da milícia, a segurança voltou e o comércio floresceu.

De Kandahar, no sudoeste do país, considerado o berço do Talebã, a influência da milícia se estendeu para todo o país.

Eles conquistaram a província de Herat, na fronteira com o Irã, em setembro de 1995.

Um ano depois, o Talebão capturava Cabul, após depor o regime do presidente Burhanuddin Rabbani.

Em 1998, eles já controlavam 90% do Afeganistão.

Influência do Paquistão

As circunstâncias que explicam a surgimento do Talebã estão no centro de um debate polêmico.

O Paquistão é visto como o arquiteto da ação da milícia em busca do poder no Afeganistão, apesar de o país negar qualquer envolvimento no fortalecimento da milícia.

As suspeitas sobre isso, no entanto, surgiram logo no início do processo que levou o grupo ao poder quando o Talebã resgatou um comboio paquistanês preso em Kandahar, após ter sido saqueado e atacado pelos rivais mujahedins.

Além disso, muitos dos afegãos que se juntaram ao Talebã foram educados em escolas religiosas (chamadas de madrassas) no Paquistão.

O Paquistão foi ainda um dos três países, junto com a Arábia Saudita e os Emirados Arabes Unidos, a reconhecer o regime do Talebã.

Foi também o último país a cortar relações diplomáticas com o Talebã, cedendo à pressão feita pelo governo americano após os ataques de 11 de Setembro de 2001.

O maior parte dos integrantes do movimento pertence à etnia pashtu, grupo de maior peso na diversificada população afegã e que também ocupa partes da fronteira do Paquistão com o Afeganistão.

Alguns dos líderes foragidos da milícia, por exemplo, conseguem se refugiar nessas áreas do Paquistão, sinal de que, ainda hoje, o Talebã que ressurge no país conta com o apoio de membros da etnia pashtu no Paquistão.

Repressão

Quando assumiu o poder, o Talebã instaurou um regime autoritário que não tolerava qualquer oposição a suas políticas linha-dura.

Foram introduzidas, por exemplo, punições baseadas na lei islâmica, como execuções públicas de assassinos e amputações contra pessoas condenadas por roubo.

Televisão, música e cinema foram proibidos.

Meninas a partir dos 10 anos ficaram proibidas de frequentar a escola e mulheres que trabalhavam fora foram obrigadas a ficar em casa.

Homens tiveram que deixar suas barbas crescerem e mulheres passaram a usar burqas.

A polícia do Talebã ganhou fama ao tentar implementar as novas regras vigentes no país.

As novas políticas introduzidas no Afeganistão, principalmente as relacionadas a direitos humanos e aos direitos da mulher, receberam ataques de várias partes do mundo.

Bin Laden e Al-Qaeda

Mas foi o papel do Talebã como "anfitrião" de Osama Bin Laden e da Al-Qaeda é que acabou colocando o Afeganistão no centro de uma guerra.

Em agosto de 1998, ataques a bomba contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia mataram mais de 225 pessoas e fizeram com que Washington impusesse uma difícil escolha ao Talebã.

Exigiram que expulsassem do país Bin Laden, considerado pelos Estados Unidos o responsável por esses e outros ataques, ou enfrentariam as consequências.

Quando o Talebã se recusou a entregar seu "hóspede" saudita, o então presidente Bill Clinton ordenou um ataque de míssil contra um campo de treinamento de Bin Laden no sul do Afeganistão.

Como punição adicional, os Estados Unidos convenceram o Conselho de Segurança da ONU a impor sanções contra o Afeganistão em 1999.

Sanções mais rígidas foram impostas em 2001 em um novo esforço de convencer o Talebã a entregar Bin Laden.

Essas e outras iniciativas isolaram, cada vez mais, o Afeganistão da comunidade internacional, o que acabou levando a milícia a adotar políticas ainda mais isolacionistas e fundamentalistas.

Uma delas foi a destruição de estátuas de Buda talhadas em uma montanha na região central do Afeganistão, episódio que ganhou destaque na mídia internacional e críticas de várias partes do mundo.

Início do fim

Os atentados de 11 de Setembro marcaram o início do fim do regime do Talebã.

Os Estados Unidos voltaram a exigir que o grupo entregasse Bin Laden para que o saudita fosse julgado como o "cérebro" dos ataques.

Mais uma vez, o Talebã se negou a expulsar seu hóspede.

Em 7 de outubro de 2001, uma coalizão liderada pelos Estados Unidos atacou o país e, na primeira semana de dezembro, o regime havia sido deposto.

Mulá Omar e maioria dos integrantes do alto escalão do Talebã, além de Bin Laden, sobreviveram aos ataques.

Mulá Omar e seus colaboradores escaparam de uma das maiores operações de busca de todos os tempos e estariam por trás do movimento de ressurgimento do Talebã.
 

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