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04/07/2006
-
00h11
da BBC Brasil, na Cidade do México
Em um país onde a fraude eleitoral marca a história política, a demora do Instituto Federal Eleitoral (IFE) em divulgar com precisão os resultados das eleições presidenciais deste domingo abriu caminho para dúvidas. O resultado final só será anunciado na quarta-feira.
De acordo com o Programa de Resultados Preliminares do IFE (Prep), Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN) mantém uma vantagem de apenas 1% sobre Andrés Manuel López Obrador, da Aliança para o Bem de Todos.
Com 98,25 % das urnas apuradas, o conservador Calderón aparece com 36,37% dos votos contra 35,36% do centro-esquerdista López Obrador.
A análise está sendo realizada por um sistema de contagem que estima o número de votos por amostragem. O Prep não contabiliza voto por voto.
'Sem preparo'
Em entrevista coletiva, os conselheiros do IFE indicaram que o órgão não estava preparado para uma eleição tão acirrada como a de 2 de julho.
“Na nossa jovem democracia mexicana nunca havíamos chegado a esta situação”, afirmou o matemático Rúben Hernández.
Os conselheiros não souberam informar com clareza se a contagem realizada pelo Prep poderia refletir a totalidade dos votos e determinar quem foi o candidato vencedor.
Rúben Hernández disse que na quarta-feira o IFE contabilizará as atas por distritos eleitorais para poder comparar com o Prep. “Pode ser que apareça alguma diferença, assim podemos nivelar os dados”, afirmou.
Poucos minutos depois, outro conselheiro afirmou que o PREP era a base de sustentação para fundamentar os resultados finais e que não havia margem para dúvida.
Calderón y López Obrador se declaram vitoriosos. O conservador se apega na pequena margem de vantagem para proclamar-se presidente do país.
O centro-esquerdista por sua vez afirma que se “for preciso” exigirá a contagem de “voto por voto”.
Transparência
Na noite do domingo, 2 de julho, foi transmitido em cadeia nacional um anúncio gravado pelo presidente do IFE, no qual informava que somente na quarta-feira o orgão anunciará o nome do novo presidente do México.
Imediatamente após o anúncio, também em cadeia nacional, o presidente da República Vicente Fox fez discurso em apoio à decisão do IFE e pediu a todos que respeitem os resultados.
“O presidente soube antes de todos sobre a decisão do IFE. Isso mostra que o IFE não tem autonomia”, analisa a historiadora Ana Maria Aragonês.
Na avaliação de Ana Maria Aragonês, com uma história marcada pela violação da decisão do eleitor, o IFE deveria haver tomado “precauções” para evitar este tipo de ocorrência.
“Fox apoiou com todo o aparelho estatal a candidatura de Calderón. O IFE não pode permitir que se duvide da transparência do processo eleitoral”, afirma a historiadora.
A missão de observadores da União Européia descartou também nesta segunda-feira qualquer possibilidade de fraude nas eleições presidenciais mexicanas.
O chefe da delegação, José Ignacio Salafranca, do Partido Popular (PP) da Espanha, defendeu a confiabilidade das eleições, baseado na atuação das autoridades eleitorais e na presença de representantes dos partidos. Cerca de 130 mil centros de votação foram instalados.
Protestos
O clima de incerteza gera tensão no país. Na manhã desta segunda-feira um grupo de estudantes da Frente Universitária de Apoio Crítico a López Obrador se manifestaram em frente ao IFE.
Os estudantes entregaram um manifesto à direção do órgão eleitoral exigindo transparência na apuração dos votos.
“Se fosse o candidato da direita que estivesse na frente o IFE já tinha declarado o PAN como ganhador. Estão tentando ganhar tempo para esconder a vitória de López Obrador”, afirma a estudante de Direito Claudia Gallardo.
A estudante afirma que os simpatizantes de López Obrador não aceitarão a derrota. “Já nos roubaram as eleições de 88. Não vamos permitir que aconteça o mesmo. O povo vai sair às ruas”, disse.
Em 1988, Cualtemóc Cárdenas, do Partido da Revolução Democrática (PRD), era considerado o vencedor do pleito até a “queda no sistema” de votação que contabilizava os votos. Ao ser reestabelecido o sistema, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Carlos Salinas de Gortari, assumiu a liderança e foi declarado vencedor.
Apurações criam desconfiança no México
CLAUDIA JARDIMda BBC Brasil, na Cidade do México
Em um país onde a fraude eleitoral marca a história política, a demora do Instituto Federal Eleitoral (IFE) em divulgar com precisão os resultados das eleições presidenciais deste domingo abriu caminho para dúvidas. O resultado final só será anunciado na quarta-feira.
De acordo com o Programa de Resultados Preliminares do IFE (Prep), Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN) mantém uma vantagem de apenas 1% sobre Andrés Manuel López Obrador, da Aliança para o Bem de Todos.
Com 98,25 % das urnas apuradas, o conservador Calderón aparece com 36,37% dos votos contra 35,36% do centro-esquerdista López Obrador.
A análise está sendo realizada por um sistema de contagem que estima o número de votos por amostragem. O Prep não contabiliza voto por voto.
'Sem preparo'
Em entrevista coletiva, os conselheiros do IFE indicaram que o órgão não estava preparado para uma eleição tão acirrada como a de 2 de julho.
“Na nossa jovem democracia mexicana nunca havíamos chegado a esta situação”, afirmou o matemático Rúben Hernández.
Os conselheiros não souberam informar com clareza se a contagem realizada pelo Prep poderia refletir a totalidade dos votos e determinar quem foi o candidato vencedor.
Rúben Hernández disse que na quarta-feira o IFE contabilizará as atas por distritos eleitorais para poder comparar com o Prep. “Pode ser que apareça alguma diferença, assim podemos nivelar os dados”, afirmou.
Poucos minutos depois, outro conselheiro afirmou que o PREP era a base de sustentação para fundamentar os resultados finais e que não havia margem para dúvida.
Calderón y López Obrador se declaram vitoriosos. O conservador se apega na pequena margem de vantagem para proclamar-se presidente do país.
O centro-esquerdista por sua vez afirma que se “for preciso” exigirá a contagem de “voto por voto”.
Transparência
Na noite do domingo, 2 de julho, foi transmitido em cadeia nacional um anúncio gravado pelo presidente do IFE, no qual informava que somente na quarta-feira o orgão anunciará o nome do novo presidente do México.
Imediatamente após o anúncio, também em cadeia nacional, o presidente da República Vicente Fox fez discurso em apoio à decisão do IFE e pediu a todos que respeitem os resultados.
“O presidente soube antes de todos sobre a decisão do IFE. Isso mostra que o IFE não tem autonomia”, analisa a historiadora Ana Maria Aragonês.
Na avaliação de Ana Maria Aragonês, com uma história marcada pela violação da decisão do eleitor, o IFE deveria haver tomado “precauções” para evitar este tipo de ocorrência.
“Fox apoiou com todo o aparelho estatal a candidatura de Calderón. O IFE não pode permitir que se duvide da transparência do processo eleitoral”, afirma a historiadora.
A missão de observadores da União Européia descartou também nesta segunda-feira qualquer possibilidade de fraude nas eleições presidenciais mexicanas.
O chefe da delegação, José Ignacio Salafranca, do Partido Popular (PP) da Espanha, defendeu a confiabilidade das eleições, baseado na atuação das autoridades eleitorais e na presença de representantes dos partidos. Cerca de 130 mil centros de votação foram instalados.
Protestos
O clima de incerteza gera tensão no país. Na manhã desta segunda-feira um grupo de estudantes da Frente Universitária de Apoio Crítico a López Obrador se manifestaram em frente ao IFE.
Os estudantes entregaram um manifesto à direção do órgão eleitoral exigindo transparência na apuração dos votos.
“Se fosse o candidato da direita que estivesse na frente o IFE já tinha declarado o PAN como ganhador. Estão tentando ganhar tempo para esconder a vitória de López Obrador”, afirma a estudante de Direito Claudia Gallardo.
A estudante afirma que os simpatizantes de López Obrador não aceitarão a derrota. “Já nos roubaram as eleições de 88. Não vamos permitir que aconteça o mesmo. O povo vai sair às ruas”, disse.
Em 1988, Cualtemóc Cárdenas, do Partido da Revolução Democrática (PRD), era considerado o vencedor do pleito até a “queda no sistema” de votação que contabilizava os votos. Ao ser reestabelecido o sistema, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Carlos Salinas de Gortari, assumiu a liderança e foi declarado vencedor.
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