Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/07/2006 - 20h03

Apuração deve determinar governabilidade no México

CLAUDIA JARDIM
da BBC Brasil, na Cidade do México

Mais do que determinar o nome do futuro presidente, o processo de contagem dos votos reiniciado nesta quarta-feira no México determinará a governabilidade do país para os próximos seis anos.

"A governabilidade dependerá da transparência na apuração dos votos", disse à BBC Brasil o escritor e analista político mexicano Carlos Montemayor.

Após irregularidades e imprecisão no Programa de Resultados Eleitorais Preliminares (PREP), o Instituto Federal Eleitoral contará ata por ata de todos os distritos eleitorais do país para determinar quem será o Presidente da República.

A disputa está entre o conservador Felipe Calderón e o centro-esquerdista Andrés Manuel Lopez Obrador.

Quem assumir a Presidência encontrará a população e o Congresso Nacional divididos.

Conforme indicam os resultados preliminares das eleições, o Partido Ação Nacional (PAN) conseguiu o maior número de representantes, seguido do Partido da Revolução Nacional (PRD) e do Partido da Revolução Institucional (PRI).

Nenhum partido obteve maioria e dependerá de futuras alianças para poder governar.

Polarização

Para o deputado do PAN, Juan Molinar, a contagem das atas determinará a vitória de seu candidato Felipe Calderón e a seu ver a polarização política do país não afetará a "governabilidade".

"Em democracia governa quem é eleito pela maioria. No Congresso vamos fazer acordos para conseguir implementar os projetos", afirma Molinar, para quem a divisão da sociedade não será um problema para um eventual governo de Felipe Calderón.

Para Carlos Montemayor, o problema é que se as instituições eleitorais não forem capazes de mostrar honestidade, independentemente de quem seja declarado presidente, a credibilidade do futuro governo será afetada.

Na avaliação do analista político não haverá possibilidades de governar o país "sem transparência". "Não será possível estabelecer alianças" no Congresso Nacional.

Manipulação

Desde que foram fechados os centros de votação no domingo, 2 de julho, uma série de dúvidas a respeito da transparência do processo eleitoral passou a circular pelo país.

Na opinião de Carlos Montemayor "houve uma visível manipulação midiática" no processo de contagem dos votos. O analista político se refere à expectativa criada pelos meios de comunicação na divulgação dos dados e à maneira como, a seu ver, as informações transmitidas favoreciam ao candidato conservador Felipe Calderón.

Para o analista político "não há distância moral entre as instituições e os meios de comunicação".

O deputado do PAN discorda de Montemayor. "A democracia mexicana se construiu porque os meios de comunicação se tornaram independentes", disse Juan Molinar.

Um dia após as eleições os principais canais de televisão do país entrevistaram Felipe Calderón, que se auto-proclamou presidente do país e anunciou sua proposta de "pacto nacional".

Para a analista política Magda Marquez, se não for "esclarecida" a procedência dos votos o próximo governo será semelhante ao de Salinas de Gortari (1988-1994) quando "manipularam os resultados e o declararam vencedor".

"Haverá descontentamento social e o Estado poderá responder com violência e repressão. A sociedade não admitirá que roubem outra eleição", disse a analista à BBC Brasil.

Votos no lixo

A imagem do Instituto Federal Eleitoral também foi abalada depois que um repórter fotográfico mexicano encontrou atas de votação e outros materiais eleitorais em um depósito de lixo no interior do Distrito Federal.

De acordo com o jornal local El Universal a maioria dos votos eram destinados ao centro-esquerdista Andrés Manuel López Obrador.

As contradições na contagem dos votos continuavam aparecendo até a noite de ontem. O IFE divulgou novas cifras que incluem 2,5 milhões de votos contidos em atas de votação que não haviam sido somados.

O desaparecimento desses votos foi denunciado pelo candidato centro-esquerdista quem declarou que se "necessário" solicitará a contagem de "voto por voto".

Com essa correção a distância entre Calderón e López Obrador diminuiu de 1,04 pontos percentuais para 0,64. No entanto, o resultado da contagem das atas de votação é que determinará o resultado final.

O IFE ainda não determinou quanto tempo levará para finalizar a apuração. Se após a contagem das atas algum dos partidos políticos apelarem da decisão, o Tribunal Eleitoral do Poder Judicial da Federação (Trife) é quem se encarregará de legitimar a eleição.

Se assim for, a dúvida sobre quem será o próximo presidente do México se estenderá até o mês de setembro.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página