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10/07/2006 - 04h22

Ivan Lessa: Chupa Chups?

da BBC Brasil

O Brasil só atingirá sua almejada ambição de constituir nação superdesenvolvida quando conquistar um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e tiver publicado em jornal de primeiro time um editorial sobre pirulito. Sem pirulito, a coisa não vai.

Semana passada, o jornal The Guardian, com uma circulação de mais de 300 mil exemplares e um dos cinco mais cotados da Grã-Bretanha, publicou um editorial em louvor do pirulito. Qualquer pirulito, não. Em louvor do Chupa Chups, que os brasileiros mais sofisticados, viajados e de gosto apurado, conhecem de sobejo.

Aquele homem vendendo tubinhos de gergelim, com matraca na mão, tambor verde nas costas e, em cima deste, uma laranja com vários pirulitos espetados, envoltos em papel crepom de difícil remoção, é uma figura folclórica das mais simpáticas, mas o progresso exigiu sua extinção, da mesma forma que exigiu a derrubada do Palácio Monroe, no Rio. Nada deve nos deter. Cimentemos nossas vidas. O amanhã é hoje.

Sei que o Chupa Chups pode ser encontrado em finíssimas importadoras de nossos grandes centros. Só que deveria ser tão popular quanto botox, silicone, macumba e diamba. Chupa Chups merece.

Kate Moss

Um pouco de sua história, conforme resumida no tal editorial: os Chupa Chups, em seus mais variados sabores e formas, podem ser encontrados em perto de 170 países do mundo e foram inventados em Barcelona no ano de 1958 pelo empresário Enric Bernat.

De início, como em toda invenção vital, riram de Bernat e seu sonho de ver as crianças com as mãos limpinhas chupando balas. Hoje, em 2006, dezenas de bilhões de Chupa Chups já foram chupados.

Chuparam Chupa Chups a seleção francesa campeã do mundo em 1998. Chupou Madonna, chupou a modelito Kate Moss (esta hoje em dia envolvida com drogas. Deveria ter continuado a ir de Chupa Chups), chuparam os astronautas da estação espacial Mir.

Pensem bem e depois digam: que outro produto teve seu logotipo desenhado por um artista do calibre (45, num bom dia) de Salvador Dalí?

'É redondo e dura muito'

E olha que ele não brincou em serviço, não pôs nada para derreter ou se perder na perspectiva. Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, merece o maior respeito, pois não? E não esquecer do primeiro slogan, em catalão, claro, do adocicado e supimpa confeito: “És rodó i dura molt, Chupa Chups”. Ou seja, ó adivinhões! “É redondo e dura muito, Chupa Chups”. Tão bom quanto nosso, “Melhoral, Melhoral é melhor e não faz mal”.

Voltando ao editorial: ele não está lá só para promover o pirulito, que, frise-se, não anuncia no jornal, pois aí seria sacanagem, confere? É que a companhia que produz o Chupa Chups, que continuou estes anos todos nas mãos (nada besuntadas de açúcar) da família Bernat, foi vendida pelo filho de seu criador para a gigantesca multinacional européia especializada em doces, balas, confeitos e rebuçados, a Perfetti van Melle. Tudo indica que o estresse de dirigir uma rede internacional de pirulitos provou ser um pouquinho demais para os catalães.

Confesso que nunca chupei um Chupa Chups em toda a minha vida. Nem mesmo quando estava deixando de fumar. Breve tomarei as devidas providências no sentido de remediar a omissão. Depois dizem que editorial de jornal não serve para nada.
 

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