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11/07/2006 - 04h35

Relação de Ocidente com Rússia deve dominar reunião do G-8

PAUL REYNOLDS
da BBC Brasil

O encontro do G-8, os oito países mais industrializados do mundo, que será realizado em São Petersburgo nesta semana, deve despertar mais interesse para o estado atual das relações entre a Rússia e o Ocidente, do que pela pauta da reunião em si.

Talvez porque agora ambos os lados estão se empenhando em diminuir o tom tenso de seus discursos.

A Rússia e o Ocidente têm, por exemplo, interesses comuns, incluindo uma solução para os programas nucleares do Irã, da Coréia do Norte e para o terrorismo internacional. A Rússia também tenta passar a imagem de que é uma fonte segura de energia.

Nos últimos meses, porém, o que se viu foi uma deterioração nas relações. De um lado, há o temor do surgimento do novo autoritarismo russo, tanto na política interna como externa. Do outro, há um sentimento de que o Ocidente toma pesos e medidas diferentes em sua relação com a Rússia.

Divergência pública

O caso mais notório da atual divergência é o pedido da empresa russa de gás Gazprom por preços mais altos do produto na Ucrânia.

O Ocidente encarou esse pedido como um abuso de poder. Já os russos dizem que esse é exatamente o jogo capitalista ao qual foram convidados a jogar.

O incidente provocou críticas do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, em um discurso realizado em Vilnius, capital da Lituânia, um dos Estados bálticos que conquistou independência após o fim da União Soviética, e onde ainda há suspeita de interesses russos.

“Nenhum interesse legítimo é atendido quando petróleo e gás viram ferramentas de intimidação ou chantagem, seja por manipulação da oferta, ou por tentativas de monopolizar o transporte. E ninguém pode justificar ações que prejudiquem a integridade territorial de um vizinho ou que interfiram em movimentos democráticos”, disse Cheney.

Os Estados Unidos estão apoiando abertamente países que fazem fronteira com a Rússia e que querem se distanciar da influência de Moscou.

A Rússia, no entanto, tem se esforçado para manter países como a Bielorússia sob sua influência, ignorando as manifestações da política interna desses Estados.

Esta diferença de políticas sempre tende a gerar divergências públicas. Muita coisa mudou desde 2001, quando os presidentes George W. Bush e Vladimir Putin exibiam laços estreitos de amizade.

“Eu olhei nos olhos dele. Vi que ele é muito direto e confiável. Pude ter uma noção da sua alma”, declarou Bush sobre Putin, na época.

Retórica ocidental

No entanto, há no Ocidente aqueles que dizem que a Rússia está sendo mal-compreendida e injustamente criticada nas vésperas do encontro do G-8.

“Eles se ressentem de serem doutrinados e não entendem por que são tratados de forma diferente. A reação deles à crítica de que seu comportamento é inaceitável é: ‘quem são vocês para falar isso?’”, afirma sir Rodric Braithwaite, que foi embaixador britânico em Moscou entre 1988 e 1992.

Braithwaite diz que a Rússia realmente usou linguagem abusiva no caso do gás vendido à Ucrânia, mas lembra que mesmo os Estados Unidos tentaram impedir britânicos de comprar gás soviético durante o governo de Ronald Reagan, nos anos 80.

“Os russos estão contentes de estarem de volta ao cenário internacional, e não gostam quando os outros pensam que eles sempre agirão da forma ocidental de negociar. E mesmo quando eles agem de maneira ocidental, como ao ameaçar companhias estrangeiras, eles não vêem nada de errado nisso”, diz Braithwaite.

A nova Guerra Fria

Rodric diz que Putin é muito popular e devolveu o sentimento de respeito a muitos russos, mas que há uma sensação de que ele quer “começar uma nova Guerra Fria”.

Essa noção ganhou força depois de um recente discurso, em que Putin comparou os Estados Unidos a um lobo. No entanto, Braithwaite destaca que esse não foi o principal recado de Putin. “Ele passou a maior parte do tempo pedindo mudanças na Rússia e reconhecendo a gravidade da corrupção. Ele não é exatamente o guerreiro que a imprensa ocidental diz que ele é”, diz o diplomata britânico.

A questão agora para os investidores ocidentais é saber até que ponto é possível cooperar com a Rússia. O país tem limites que já mostrou serem intransponíveis. Por exemplo, o máximo que a Rússia tem feito na crise nuclear do Irã é usar pressão diplomática. É pouco provável que Moscou aceite adotar sanções econômicas ou ação militar. Nesse caso, teria o apoio dos Estados da União Européia.

Cooperação cautelosa

A Rússia sempre mantém distância dos norte-americanos, quando o assunto é Oriente Médio. Washington tem uma clara preferência por Israel. Moscou despertou indignação da administração Bush ao convidar integrantes do Hamas para um encontro.

Mesmo assim, a Rússia continua no quarteto que negocia as relações do Oriente Médio. Esse padrão de cooperação, limitada porém cautelosa, deve ser a tônica da diplomacia russa.

Também há questões sensíveis na política interna russa. O grupo norte-americano Freedom House, que faz campanha por governos democráticos em todo o mundo, critica as medidas tomadas pelo Kremlin para aumentar o controle interno no país.

“Com a liderança da Rússia no plano externo, o governo espera que o Ocidente vá fechar os olhos para o autoritarismo crescente”, escreveu o diretor da Freedom House, Cristopher Walker, na revista Christian Science Monitor de junho. “Mas ignorar o problema não irá resolvê-lo. Uma resposta forte das principais democracias do mundo precisa ser dada ao Kremlin e à sociedade russa.”

Seria interessante ouvir um discurso assim nos restaurados corredores do Palácio Konstantinovsky, próximo de São Petersburgo, palco da reunião do G-8.
 

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