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10/07/2006 - 16h39

Análise: Impasse eleitoral testa democracia mexicana

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

A nascente democracia mexicana vive um teste histórico. Andrés Manuel López Obrador iniciou uma batalha legal no domingo à noite e intensificou a ofensiva política para que os resultados das eleições presidenciais sejam impugnados.

Para o candidato esquerdista do Partido da Revolução Democrática (PRD), seu oponente conservador Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional (PAN), ganhou por uma margem de 240 mil votos em um total de 41 milhões graças à fraude.

Existe uma grande ironia no impasse político-eleitoral mexicano. O país passou da "certeza autoritária" que imperava nos 71 anos do regime do Partido Revolucionário Institucional --PRI (1929-2000) para a "incerteza democrática". Eram tempos de fraude institucional ou mera arrogância do poder no processo conhecido como "dedazo": o presidente de plantão escolhia o seu sucessor.

No último dia 2, Calderón e López Obrador disputaram as eleições mais competitivas e transparentes da história mexicana, à frente de dois partidos que historicamente foram vítimas das tramóias do PRI para se perpetuar na direção do país.

A azeitada máquina de corrupção do PRI foi apenas rompida no ano 2000, quando finalmente a oposição conquistou o poder com a vitória do PAN de Vicente Fox.

Polarização

Em meio ao atual impasse político-eleitoral, uma certeza indiscutível foi a derrota do PRI, que alcançou uma distante terceira posição, em um país que se configura cada vez mais polarizado entre os conservadores nortistas do PAN e os esquerdistas sulistas do PRD e seus aliados.

No país tenso, a democracia mexicana ainda é uma frágil plantinha e López Obrador cultiva uma obsessiva desconfiança das instituições. Ele tem seus motivos. Egresso do PRI, López Obrador conheceu a corrupção por dentro, mas construiu sua carreira de fora, depois que se engajou no PRD.

Em 1988, o dissidente do PRI Cuauhtémoc Cárdenas ganhou mas não levou a eleição presidencial devido à fraude escandalosa que colocou no poder o candidato "institucional" Salinas de Gortari.

Em 1994, López Obrador foi vítima direta da fraude nas eleições para governador em Tabasco, seu estado natal. Ele se recusou a aceitar o resultado e ganhou proeminência nacional, liderando protestos em massa na Cidade do México.

López Obrador de novo está na luta, mas o México é um país diferente. Em meio às acusações de fraude, monitores da União Européia definiram o processo eleitoral como correto. O "Wall Street Journal" foi mais radical, qualificando este processo como mais transparente até que nos Estados Unidos, que exibiram ao mundo o papelão da votação na Flórida no ano 2000.

"Insurreição"

Como na Flórida de seis anos atrás e ao melhor estilo de um dramalhão mexicano, existe, no mínimo, um cenário de semanas de confusão. Em meio às paixões, o porta-voz da campanha de López Obrador, Gerardo Fernandez Noroña, fala até em "insurreição" caso os 41 milhões de votos não sejam recontados.

Felipe Calderón faz o seu jogo e já se comporta como presidente eleito, embora sua vitória não tenha sido oficializada. Vários dirigentes estrangeiros se anteciparam em saudar Calderón e entre eles não estão apenas os suspeitos habituais como George W. Bush.

Está, por exemplo, o socialista espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.

No exterior, obviamente, o que conta para valer é a postura dos Estados Unidos. Entre outras coisas, o duelo Calderón-López Obrador foi um referendo sobre avançar ou não a política pró-globalização de Vicente Fox e, em particular, o estreitamento do relacionamento com o poderoso vizinho norte-americano.

Um México instável e com um governo sem legitimidade eleitoral é mau negócio para todos. Muitas vozes, inclusive dentro do PRD, como a de um dos seus fundadores, José Woldenberg, pedem que López Obrador contenha seu ardor, mas mesmo um arauto da globalização como o jornal "Financial Times" opina que a recontagem dos votos será uma "clara mensagem para mentes desconfiadas de que o México é uma democracia transparente".

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