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17/07/2006 - 15h02

Analistas em Israel questionam motivos do conflito

GUILA FLINT
da BBC Brasil, em Tel Aviv

Seis dias após o início do confronto entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah, a mídia israelense começou a mudar a linguagem. As hostilidades, até agora qualificadas como a "Operação Militar no Norte", passaram a ser chamadas abertamente de "guerra".

A nova guerra no Líbano, que está cobrando um preço cada vez mais alto dos dois lados da fronteira, tem o apoio da maioria da população israelense, que aceita a posição do governo de que se trata de "um ato de legítima defesa depois que o Hezbollah atacou o territorio soberano de Israel".

"Pela primeira vez em muitos anos, Israel luta por sua própria fronteira e não por territórios ocupados", afirmou a jornalista Sima Kadmon, em artigo no Yediot Ahronot, o maior jornal de Israel.

"Desta vez a guerra é pela soberania de Israel, por sua fronteira legítima e internacionalmente reconhecida, pela qual todos os cidadãos estarão dispostos a lutar e todas as mães estarão prontas a enviar seus filhos", acrescenta Kadmon.

Porém, apesar de minoria no país, vários israelenses, entre eles analistas e ativistas políticos, questionam os objetivos dessa guerra.

No portal Ynet, o jornalista Amnon Levy dirige uma série de perguntas à "troica" que lidera o país – o primeiro-ministro Ehud Olmert, o ministro da Defesa Amir Peretz e a ministra do Exterior Tzipi Livni.

"Para onde vocês estão nos conduzindo? Por que vocês se negaram a considerar a proposta de cessar-fogo do primeiro-ministro libanês? Quais são os objetivos?", pergunta Levy.

"Os bombardeios de áreas civis em Beirute, a morte de civis, vão levar muitas pessoas no Libano, as mais moderadas, a aderir ao círculo de ódio contra Israel... peço a vocês que contem até dez antes de apertar o gatilho e que procurem uma maneira de alcançar um acordo diplomático com o governo libanês", acrescenta Levy.

Manifestação

Ativistas políticos também começam a questionar a guerra. No domingo, mil pessoas participaram da primeira manifestação contra a guerra, que ocorreu no centro de Tel Aviv.

Os manifestantes portavam cartazes com os dizeres: "Basta de loucura militar", "Não existe solução militar", "Parem os canhões e salvem os civis", "É melhor libertar prisioneiros do que escavar sepulturas".

Um dos participantes da manifestação era Uri Avnery, de 82 anos, líder do grupo pacifista Gush Shalom.

Em entrevista à BBC Brasil, Avnery afirmou que os objetivos que o governo israelense afirma querer alcançar com esta guerra são impossíveis e apoiou um cessar-fogo imediato.

"Esta guerra é ruim para Israel, para o Líbano e para as chances de paz na região", disse Avnery. "Os ataques ao Hezbollah vão fortalecê-lo ainda mais."

"O Hezbollah tem raízes profundas no Líbano, representa os xiitas, que são 40% da população. É impossível quebrar este movimento por meios militares, quanto mais violentos forem os ataques, mais popular o Hisbollah vai ser", afirmou o pacifista.

"Com os ataques no Líbano, Israel está agindo contra seus próprios interesses e fortalecendo o eixo Hezbollah-Irã- Siria. Vale lembrar que este eixo também pode vir a incluir o Iraque, onde a maioria da população é xiita."

Na opinião de Avnery, Israel deve aceitar a proposta de cessar-fogo do primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, e iniciar negociações sobre o posicionamento de uma força internacional na fronteira entre Israel e o Libano.

Em artigo no jornal Haaretz, o analista Gideon Levy, também questionou a guerra no Libano.

"A guerra que declaramos contra o Líbano ja está cobrando de nós, e obviamente do Libano, um preço alto. Será que alguém pensou se este preço vale a pena? Todos sabem como esta guerra começou, mas alguém sabe como vai terminar? Com duras perdas? Uma guerra com a Síria? Uma guerra geral na região? Será que tudo isso vale a pena?", questionou o analista.
 

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