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08/08/2006 - 09h54

Guerra deixa israelenses pobres desamparados

GUILA FLINT
da BBC Brasil, em Tel Aviv

A parte mais pobre e mais fraca da população no norte de Israel é a mais atingida pela guerra.

Aqueles que tinham condições, fugiram das áreas de risco.

Os que ficaram são familias pobres e numerosas, idosos, doentes e deficientes fisicos, que estão fechados em abrigos antiaéreos há quase um mês, sofrendo bombardeios contínuos dos foguetes do Hezbollah, à mercê dos favores de ONGs e instituições de caridade.

Com o passar do tempo, a situação dessas pessoas se torna mais grave. Para muitos israelenses, o Estado tem sido omisso, não assumindo a sua responsabilidade de cuidar dessa população.

Nas cidades de Kiriat Shmone, Nahariya e Tzfat, que já foram atingidas por centenas de foguetes, os civis que ficaram não ousam sair dos abrigos antiaéreos, pois nunca se sabe quando haverá um novo ataque.

Falta de alimentos

A mídia local informa que há falta de alimentos e medicamentos nesses abrigos, e as condições às quais a população está sujeita são precárias.

O governo israelense não tomou providências para preparar a retaguarda antes de iniciar a ampla ofensiva no Líbano.

Quando o Hezbollah começou a lançar foguetes contra o norte de Israel a população, que foi instruída a correr para os abrigos antiaéreos, encontrou muitas vezes porões sujos, sem eletricidade, sem ventilação, em pleno verão, em uma temperatura que pode chegar a mais de 35 graus.

O historiador Gadi Elgazi, da Universidade de Tel Aviv, atribui o que considera a omissão do Estado à politica econômica neo-liberal adotada pelo governo na última década.

"Esta guerra ocorre depois de anos de uma privatização acelerada. O governo privatizou os serviços básicos e se retirou de sua responsabilidade sobre várias das áreas ligadas ao bem-estar social de seus cidadãos", disse Elgazi à BBC Brasil.

"Como ocorreu na época do furacão Katrina, em Nova Orleans, são os mais pobres que estão arcando com o maior ônus, mas acho que no caso de Israel a situação é ainda mais grave do que lá, pois o furacão foi um desastre da natureza, mas a ampla ofensiva no Líbano foi feita por decisão do governo israelense, que não se preocupou com as pessoas na retaguarda", disse.

Desespero

Segundo o advogado Yuval Albashan, que dirige uma ONG que defende a responsabilidade social, "a omissão do Estado é uma vergonha e a situação das pessoas que ficaram nos abrigos antiaéreos se aproxima do desespero".

"A guerra expôs as diferenças de classe em Israel e o governo não vai poder continuar ignorando este problema."

Vários israelenses exigem que o governo conduza a evacuação em massa da população das cidades mais atingidas.

"Durante a blitz em Londres o governo britânico retirou as mulheres e as crianças das áreas de risco", disse o ex-ministro Yossi Sarid ao canal 10 da TV israelense, "e afinal de contas, Londres é um pouco maior do que Kiriat Shmone".

Para a jornalista Ruti Sinai, do jornal Haaretz, o governo não conduz uma evacuação organizada da população por receio de um grande número de "refugiados", dos altos custos, e também por não querer "ferir a imagem da 'força' da retaguarda israelense".

Trauma

O psicólogo Roni Berger, especialista em psicologia de massas, alerta para os possíveis efeitos de longo prazo, do trauma que a população no norte de Israel está vivendo.

"Infelizmente os efeitos serão de longa duração, essas pessoas deverão sofrer de sintomas pós-traumáticos, que poderão incluir problemas emocionais e somáticos graves".

De acordo com o analista econômico Nehemia Strassler, "os pobres vão pagar em dobro".

Em artigo no jornal Haaretz, o analista afirma que a guerra vai levar a uma mudança significativa na ordem de prioridades do governo e canalizar mais orçamentos para fins militares e menos para fins sociais.

"No dia 12 de julho, Ehud Olmert e Amir Peretz não só decidiram iniciar uma guerra de grandes dimensões como também mudaram totalmente a ordem de prioridades do Estado de Israel. Eles de fato deixaram claro, sem dizê-lo explicitamente, que os belos planos ligados às questões sociais, saúde e educação, vão ter que esperar por uma outra oportunidade. Isso tambem faz parte do preço da guerra."
 

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