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10/08/2006 - 17h26

Recontagem de votos gera impasse para Obrador

JAMES PAINTER
da BBC Brasil

O México, e principalmente a capital, Cidade do México, vive momentos de muita tensão desde as eleições presidenciais que deram vitória para Felipe Calderón.

Desde que o candidato derrotado Andrés Manuel López Obrador lançou sua campanha de desobediência civil, surgiram duas questões importantes: primeiro, se Obrador está preparado para continuar com os protestos; segundo, se Obrador pedir o fim dos protestos, como ele poderá recuar sem perder o apoio dos milhões de partidários e simpatizantes.

Um momento importante deverá ocorrer quando a Justiça Eleitoral liberar os resultados parciais da recontagem dos votos, que afeta 9% das urnas, equivalente a 12 mil cabines eleitorais. Isto deve ocorrer antes da meia noite de domingo, no horário local.

Analistas locais afirmam que se a recontagem parcial mostrar que Obrador está diminuindo a diferença no número de votos para Felipe Calderón (que atualmente está em 240 mil votos), ou se forem reveladas irregularidades graves, a pressão vai aumentar para que a Justiça Eleitoral abra mais urnas para recontagem ou, possivelmente, concorde com uma recontagem total, ou até mesmo declare a eleição nula.

Mas, se nada disso acontecer, Obrador será pressionado a aceitar os resultados e desistir dos protestos.

Recontagem

No momento Obrador mantém sua política de pedir por uma recontagem total. O candidato afirma que não quer uma democracia de "10%".

Seus partidários aumentaram os protestos ocupando grandes partes da Avenida Reforma, na Cidade do México, e bloqueando também a entrada de bancos estrangeiros. Eles também convocaram protestos em outras cidades mexicanas.

Alguns, mais radicais, sugeriram a ocupação do aeroporto da Cidade do México e outras das principais rotas da cidade, algo que Obrador já rejeitou.

Muitos analistas afirmam que pode haver violência, apesar de Obrador ter insistido que quer protestos pacíficos. A tensão certamente vai aumentar se Obrador afirmar que vai continuar com os protestos mesmo depois da decisão da Justiça Eleitoral no domingo.

Continuar ou aumentar os protestos é uma estratégia arriscada para Obrador.

Primeiro, ele pode perder o apoio de muitos moradores da Cidade do México, que não são necessariamente contra o candidato, mas que podem se irritar com o tumulto causado pelos protestos na cidade.

Também não está claro por quanto tempo Obrador poderá manter os protestos, pois a maioria de seus partidários vem de classes mais pobres e provavelmente terão que voltar em breve ao trabalho.

Imagem

Outro fator é a imagem a longo prazo de Obrador. Se ele continuar a rejeitar o resultado oficial, mais mexicanos poderão ver o candidato como um "mau perdedor" e questionar as credenciais democráticas de Obrador.

Alguns observadores viram uma possível saída para Obrador em suas declarações no começo da semana, quando ele disse que queria lançar um novo movimento para mudança institucional.

Ele poderia dizer: "OK, não vou aceitar os resultados, mas quero mudar o foco do momento, para transformar as instituições corruptas do México".

Então, quais as chances de instabilidade a longo prazo? É difícil prever, mas analistas afirmam que a Aliança para o Bem de Todos, uma coalizão eleitoral formada pelos partidos da Revolução Democrática (PRD), do Trabalho (PT) e Convergência, que apresentou a candidatura de Obrador, é um grupo muito variado, cujo controle centralizado é muito difícil.

O PRD tem uma presença forte no Congresso mexicano, onde o partido de Calderón não tem maioria absoluta. Ele poderá ter dificuldades para aprovar leis.

A certeza é que o atual impasse é o maior desafio para a democracia mexicana desde 2000, quando Vicente Fox substituiu o governo de um único partido, que durou 70 anos.
 

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