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18/08/2006 - 20h15

Após conflito, futuro do Líbano é incerto

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, em Beirute

As previsões mais catastróficas feitas no início do conflito entre Israel e o grupo xiita Hezbollah – de que haveria uma guerra envolvendo outros países do Oriente Médio ou uma ocupação em grande escala do Líbano – acabaram não se concretizando.

O cessar-fogo ainda é descrito por analistas e políticos como frágil. Eles ainda advertem para sérios riscos e problemas no curto prazo (a crise humana no Líbano), médio prazo (conflitos internos e mesmo guerra civil no país) e longo prazo (uma radicalização das populações atacadas por Israel nesta guerra).

Isso sem contar que, no momento, ainda existe a possibilidade de este mesmo conflito ser retomado, caso o Hezbollah e as tropas israelenses que ainda estão no sul do Líbano entrem em novos confrontos.

Mas há também cenários mais positivos, que trazem perspectivas para a paz no Oriente Médio – ou pelo menos parte dele.

Aqui no Líbano, não é difícil encontrar quem acredite que esta foi a última de uma longa série de guerras com Israel, argumentando que os israelenses teriam finalmente concluído que o confronto com os libaneses é uma opção bastante custosa.

Orgulho

O jornalista americano David Ignatius – colunista e editor-adjunto do jornal The Washington Post e ex-correspondente no Oriente Médio – está entre as vozes mais otimistas com as conseqüências do conflito. Em um artigo, ele compara este confronto à guerra entre Egito e Israel, em 1973.

Naquela ocasião, os egípcios conseguiram, em um ataque surpresa, atravessar o Canal de Suez e avançar pelo deserto do Sinai, que desde 1967 estava ocupado por Israel.

Na seqüência, os israelenses acabaram conseguindo repelir os egípcios, com intensa ajuda americana. Mas o sucesso inicial da campanha militar do Egito foi suficiente para elevar o moral árabe, que estava no chão desde a humilhante derrota sofrida na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Ignatius diz que por ter saído da posição de “humilhado” o Egito, através do presidente Anwar al-Sadat, conseguiu negociar a paz com Israel em discussões que acabaram culminando na devolução do deserto do Sinai ao Egito, no início dos anos 80.

“O sentimento de humilhação que os árabes têm é uma das principais dificuldades para qualquer negociação de paz. Agora que o Hezbollah também parece ter conseguido restaurar o orgulho árabe, talvez eles estejam em melhores condições de conversar com os israelenses”, argumenta o jornalista.

Mediador

Mas Ignatius ressalva que, para dar certo, as negociações com o Egito dependeram do então secretário de Estado americano Henry Kissinger, “que agiu como um mediador equilibrado e profundamente interessado em resolver o problema”.

Ignatius teme que a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice, não tenha a mesma capacidade ou disposição para assumir papel semelhante agora.

O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, sugeriu esta semana que pode haver negociação ao dizer que “pode ser o momento para iniciar um diálogo sério com o Líbano e a Síria” a respeito de paz.

Mas relatos na imprensa israelense informam que muita gente no país ficou descontente com a sugestão de Peretz, já que dois soldados de Israel capturados pelo Hezbollah ainda não foram devolvidos.

E no dia seguinte às declarações de Amir Peretz, o presidente sírio, Bashar al-Assad, disse na televisão que louva a “vitória do Hezbollah” e declarou que “o processo de paz (no Oriente Médio) falhou”.

Seitas

Agora, no Líbano, muitas das atenções se voltam para a relação entre as diferentes comunidades sectário-religiosas que dividem o espaço e o poder no país.

Enquanto o conflito com Israel estava em força total, o clima era de unidade nacional, com poucos dissidentes se atrevendo a criticar o Hezbollah.

Embora não fosse difícil encontrar quem desaprovasse a atitude inicial do grupo de capturar soldados de Israel, a voz corrente era de que a reação dos israelenses tinha sido exagerada e acabou até provando a importância de o Hezbollah existir como elemento de resistência.

Mas instituído o cessar-fogo, diversas vozes começaram a se levantar contra o grupo xiita, em especial antigos desafetos, como o sunita Saad Hariri (filho do ex-primeiro-ministro assassinado Rafik Hariri) e o líder druzo Walid Jumblat.

Guerra civil

Os libaneses ainda dizem que não acreditam no risco de uma nova guerra civil no país. O discurso mais comum é que o sangrento conflito de 1975 a 1991 provou que ninguém tem nada a ganhar com disputas internas como essa.

Outro argumento é que, atualmente, apenas o Hezbollah – ligado aos xiitas – está armado e, portanto, não há outros potenciais combatentes dentro do país.

Mas a tensão entre as comunidades libanesas já cresceu no ano passado com o assassinato de Rafik Hariri. Embora nenhum conflito de grande escala tenha acontecido, alguns atentados a bomba e mortes – entre eles, o assassinato do jornalista cristão Gabriel Tueny – não deixaram esquecer o risco latente de violência.

Agora que a população libanesa vai começar a conviver com a dura realidade do pós-guerra – que deixou muita gente sem casa e a infra-estrutura do país seriamente danificada – existe o temor novamente de que os desentendimentos aumentem e, em algum momento, se manifestem numa explosão de violência.

De um lado estariam os críticos do Hezbollah, que podem começar a responsabilizar o grupo xiita pelos problemas que o país enfrenta.

De outro, militantes e simpatizantes do Hezbollah, que conseguiram uma aliança mais significativa do país em torno do líder Hassan Nasrallah.
 

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