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21/08/2006 - 08h15

Caio Blinder: EUA não querem papel na novela eleitoral mexicana

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

O governo americano nunca escondeu sua antipatia por Andrés Manuel López Obrador, o candidato esquerdista que teima em não reconhecer sua derrota nas eleições presidenciais mexicanas de 2 de julho, alegando fraude a favor do conservador Felipe Calderón.

Mas à medida em que López Obrador radicaliza seus protestos, sinalizando que pretende tornar ingovernável o mandato de Calderón, a última coisa que interessa a Washington é se tornar protagonista importante na novela eleitoral mexicana.

Declarações antipáticas da Casa Branca são munição retórica para López Obrador, que literalmente fincou acampamento na Cidade do México na sua campanha para que os resultados eleitorais sejam revertidos.

É muito mais provável, porém, que no próximo dia 6, ou talvez até antes, o Tribunal Federal Eleitoral certifique a vitória de Calderón, embora seja possível uma recontagem total dos votos ou anulação da eleição.

Escorregões

Para o governo Bush o melhor no momento é ficar quieto, evitando escorregões. Em meio a esta longa incerteza política e legal, a Casa Branca já cometera um erro tático logo após a eleição de 2 julho, a mais disputada da história mexicana e que resultou na vitória de Calderón sobre Obrador por 244 mil votos, num total de 41 milhões.

O presidente George W. Bush foi rápido no gatilho e parabenizou o governista Calderón, o que forçou o porta-voz da Casa Branca Tony Snow a esclarecer que o governo americano estava disposto a trabalhar com qualquer que fosse o vencedor do pleito.

A teimosia de López Obrador para não reconhecer a vitória de Calderón é um plano arriscado e gera dúvidas mesmo entre alguns dos seus seguidores, que temem um revés contra o Partido da Revolução Democrática (PRD), que já conseguiu um grande feito ao conquistar pela primeira vez o segundo maior número de cadeiras no Congresso, atrás do PAN e à frente do PRI, que governou o México por 71 anos, até a vitória de Vicente Fox no ano 2000.

López Obrador radicaliza e esquenta o debate sobre a sabedoria dos seus passos. Para a Casa Branca é conveniente que os mais influentes jornais americanos assumam uma insatisfação escancarada em relação à postura do candidato esquerdista no México.

Mesmo publicações que antes das eleições alertavam contra o perigo de se pintar López Obrador como um incendiário, avesso a jogar de acordo com as regras democráticas, hoje manifestam sua desilusão.

Editorial

Basta ver um recente editorial do Dallas Morning News, do Texas do presidente Bush que faz fronteira com o México: "Muitos, inclusive o Dallas Morning News, descartaram inicialmente que López Obrador fosse equivalente ao venezuelano Hugo Chávez. Mas suas ações desde 2 de julho parecem ser cada vez mais de um homem que quer fazer justiça com as próprias mãos".

Armand Peschard-Sverdrup, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, expressa a opinião do establishment americano.

Ele ressalta que existem limites nas comparações entre a novela eleitoral americana do ano 2000, que teve como desfecho o precário triunfo de Bush, e o que acontece agora no México.

Para Peschard-Sverdrup, "López Obrador deveria aprender a lição de Al Gore, quando ele, pelo bem do país, decidiu acabar com a disputa. Chega-se a um ponto em que se percebe que o rechaço da eleição é impulsionado por pura ambição".

A novela eleitoral mexicana de 2006 sempre prometeu capítulos dramáticos, mas um ponto fundamental foi antecipado antes da votação pelo Council on Foreign Relations, o centro privado de mais influência e prestígio nos EUA em assuntos de política externa.

Para a entidade, "não importa quem ocupe as presidênciais dos EUA e do México, pois as relações entre os dois países estão cada vez mais institucionalizadas e estáveis" devido ao entrelaçamento econômico.

Nada disso impede Bush de preferir um vizinho conservador, de preferência com mandato incontestável e que governe com o mínimo de paz social.
 

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