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30/08/2006
-
19h23
da BBC Brasil, em Buenos Aires
O presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrenta a maior onda de protestos em seu país desde que assumiu o poder, em janeiro passado, de acordo com analistas bolivianos ouvidos pela BBC Brasil.
Motoristas de ônibus e de táxis, professores, servidores da previdência social e trabalhadores e indígenas dos departamentos (Estados) ricos em gás, como Tarija, reclamam por diversos motivos.
Ex-líder dos produtores da folha de coca, de mineiros e indígenas, Morales não tem o controle, segundo os analistas, de todos os movimentos sociais, historicamente fragmentados na Bolívia.
"Estamos vendo o renascimento dos protestos sociais, que podem ser o retorno dos tradicionais conflitos na Bolívia", disse o cientista político René Mayorga, do Centro Boliviano de Estudos Multidisciplinários, CEBEM, de La Paz. "E se continuarem ou se tornarem mais intensos, estes protestos podem chegar, uma vez mais, a ameaçar a governabilidade do país".
Para Mayorga, as manifestações, registradas esta semana, eram "previsíveis". Muitos reclamam por motivos antigos e outros, argumentou, esperam menos discurso e mais medidas concretas do governo.
O cientista político Gonzalo Chávez Alvarez, diretor de mestrado da Universidade Católica da Bolívia, acredita que o país vive uma "hiperinflação" de expectativas. Mas, na sua opinião, os protestos ainda não comprometem a estabilidade do governo.
Protestos
Chávez Alvarez explica que os movimentos sociais na Bolívia são mais fortes do que no Brasil e podem parar o país. “Vamos ver se Evo Morales terá capacidade para gerar governabilidade”, disse.
Na sua opinião, para manter a governabilidade na Bolívia, o presidente precisa estar atento a três setores: Congresso Nacional, governos dos departamentos e os “poderosos” movimentos sociais.
Na noite de terça-feira, após horas de negociações, o governo conseguiu convencer os motoristas a suspenderem a greve que estava programada para dois dias e que terminaria nesta quarta-feira. Mas a paralisação já tinha afetado as principais cidades na maioria do país, e principalmente La Paz.
A Confederação Sindical de Motoristas da Bolívia conseguiu a promessa do governo de reavaliar, por exemplo, a cobrança de multas por infração, indexadas pelo dólar. Os sindicalistas dizem que esta e outras medidas geram prejuízos ao setor.
Nesta quarta-feira, segundo os jornais bolivianos, professores da rede privada aderiram ao protesto iniciado na véspera pelos profissionais de ensino da rede pública.
Eles pararam, de acordo com fontes do governo e dos sindicatos, as escolas de todo o país. A manifestação foi contra a nova lei de educação.
Gás
O governo enfrenta ainda os protestos dos comerciantes - e indígenas - nas regiões de fronteira, como em Tarija, dona da principal reserva de gás do país. Ali, medidas alfandegárias da Argentina, limitando as compras do outro lado da fronteira, provocaram a manifestação de comerciantes e indígenas bolivianos.
O resultado foi a suspensão, parcial - já normalizada -, do envio de gás ao norte da Argentina.
Na semana passada, num protesto semelhante, a Assembléia do Povo Guarani (APG), que reúne cerca de 100 mil indígenas que vivem na mesma região, voltou a ameaçar fechar a bomba de uma empresa que envia gás ao Brasil.
Esta semana, em Santa Cruz de la Sierra, símbolo da região industrial do país, o Comitê Pró-Santa Cruz (avesso à nacionalização do gás e às reformas agrária e educativa), anunciou que vai "vigiar" as medidas do governo e a assembléia constituinte.
A assembléia foi inaugurada no dia seis de agosto e depois de várias negociações o partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo)conquistou a maioria dos votos para aprovar os projetos. As diferenças sobre as bases para a votação das medidas na assembléia e a nacionalização dos hidrocarbonetos têm sido outra dor de cabeça para Morales.
No entanto, para os analistas, os protestos confirmam que os desafios de Evo Morales vão muito além das discussões com o Brasil e as empresas de petróleo sobre a nacionalização dos hidrocarbonetos, a principal bandeira de sua campanha e do início de sua administração.
Morales enfrenta maior onda de protestos de seu governo
MARCIA CARMOda BBC Brasil, em Buenos Aires
O presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrenta a maior onda de protestos em seu país desde que assumiu o poder, em janeiro passado, de acordo com analistas bolivianos ouvidos pela BBC Brasil.
Motoristas de ônibus e de táxis, professores, servidores da previdência social e trabalhadores e indígenas dos departamentos (Estados) ricos em gás, como Tarija, reclamam por diversos motivos.
Ex-líder dos produtores da folha de coca, de mineiros e indígenas, Morales não tem o controle, segundo os analistas, de todos os movimentos sociais, historicamente fragmentados na Bolívia.
"Estamos vendo o renascimento dos protestos sociais, que podem ser o retorno dos tradicionais conflitos na Bolívia", disse o cientista político René Mayorga, do Centro Boliviano de Estudos Multidisciplinários, CEBEM, de La Paz. "E se continuarem ou se tornarem mais intensos, estes protestos podem chegar, uma vez mais, a ameaçar a governabilidade do país".
Para Mayorga, as manifestações, registradas esta semana, eram "previsíveis". Muitos reclamam por motivos antigos e outros, argumentou, esperam menos discurso e mais medidas concretas do governo.
O cientista político Gonzalo Chávez Alvarez, diretor de mestrado da Universidade Católica da Bolívia, acredita que o país vive uma "hiperinflação" de expectativas. Mas, na sua opinião, os protestos ainda não comprometem a estabilidade do governo.
Protestos
Chávez Alvarez explica que os movimentos sociais na Bolívia são mais fortes do que no Brasil e podem parar o país. “Vamos ver se Evo Morales terá capacidade para gerar governabilidade”, disse.
Na sua opinião, para manter a governabilidade na Bolívia, o presidente precisa estar atento a três setores: Congresso Nacional, governos dos departamentos e os “poderosos” movimentos sociais.
Na noite de terça-feira, após horas de negociações, o governo conseguiu convencer os motoristas a suspenderem a greve que estava programada para dois dias e que terminaria nesta quarta-feira. Mas a paralisação já tinha afetado as principais cidades na maioria do país, e principalmente La Paz.
A Confederação Sindical de Motoristas da Bolívia conseguiu a promessa do governo de reavaliar, por exemplo, a cobrança de multas por infração, indexadas pelo dólar. Os sindicalistas dizem que esta e outras medidas geram prejuízos ao setor.
Nesta quarta-feira, segundo os jornais bolivianos, professores da rede privada aderiram ao protesto iniciado na véspera pelos profissionais de ensino da rede pública.
Eles pararam, de acordo com fontes do governo e dos sindicatos, as escolas de todo o país. A manifestação foi contra a nova lei de educação.
Gás
O governo enfrenta ainda os protestos dos comerciantes - e indígenas - nas regiões de fronteira, como em Tarija, dona da principal reserva de gás do país. Ali, medidas alfandegárias da Argentina, limitando as compras do outro lado da fronteira, provocaram a manifestação de comerciantes e indígenas bolivianos.
O resultado foi a suspensão, parcial - já normalizada -, do envio de gás ao norte da Argentina.
Na semana passada, num protesto semelhante, a Assembléia do Povo Guarani (APG), que reúne cerca de 100 mil indígenas que vivem na mesma região, voltou a ameaçar fechar a bomba de uma empresa que envia gás ao Brasil.
Esta semana, em Santa Cruz de la Sierra, símbolo da região industrial do país, o Comitê Pró-Santa Cruz (avesso à nacionalização do gás e às reformas agrária e educativa), anunciou que vai "vigiar" as medidas do governo e a assembléia constituinte.
A assembléia foi inaugurada no dia seis de agosto e depois de várias negociações o partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo)conquistou a maioria dos votos para aprovar os projetos. As diferenças sobre as bases para a votação das medidas na assembléia e a nacionalização dos hidrocarbonetos têm sido outra dor de cabeça para Morales.
No entanto, para os analistas, os protestos confirmam que os desafios de Evo Morales vão muito além das discussões com o Brasil e as empresas de petróleo sobre a nacionalização dos hidrocarbonetos, a principal bandeira de sua campanha e do início de sua administração.
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