Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/09/2006 - 16h28

Estados mais ricos fazem greve contra Morales na Bolívia

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

Grupos de oposição e diversos setores públicos e privadas - como produtores de gás, petróleo e madeira e funcionários dos setores bancário, de saúde e de transportes - prometeram paralisar os departamentos (estados) de Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Beni e Pando, tidos como os mais ricos da Bolívia, nesta sexta-feira.

Contando com apoio decisivo dos respectivos governantes dos estados, que representam cerca de 50% do PIB do país, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, os organizadores da chamada "paralisação cívica" protestam contra as regras de votação da assembléia constituinte, instaurada no mês passado.

Para os líderes políticos da oposição, como os integrantes do partido Podemos, ao exigir apenas maioria absoluta (50% mais um dos votos), o partido oficial, o MAS (Movimento ao Socialismo), do presidente Evo Morales, terá poderes para redigir, como pretende, uma carta magna "originária" - soberana aos três Poderes - e com prioridade para os interesses indígenas e não para os demais.

O protesto desta região, chamada de "meia lua", ocorre sete meses depois da posse de Evo Morales e uma semana após a realização de diferentes manifestações sociais no país.

Debate

"É muito pouco provável que o governo ouça nossas queixas. Então, seremos obrigados a aumentar a pressão, com greves mais seguidas", disse, pelo telefone, um assessor do Comitê Pró-Santa Cruz, organizador dos protestos no departamento de Santa Cruz de la Sierra.

O presidente do Comitê Cívico de Beni, Alberto Melgar, disse à imprensa boliviana que o objetivo da greve é pedir a "participação de todos" no debate da nova constituição.

O presidente do Comitê Cívico de Tarija, Francisco Navajas, afirmou que a paralisação pretende mostrar ao governo que comete um "erro" ao tentar a hegemonia do país.

Nestes quatro estados venceu o "sim" à autonomia (administrativa e financeira do governo central) no referendo realizado em julho. Mas nos bastidores do governo Morales, a expectativa é de que a paralisação desta sexta-feira não tenha a adesão esperada por seus organizadores.

"Vamos esperar amanhã para avaliar", disse um interlocutor do governo. "Mas temos certeza de que são minoria no país e que vão acabar desistindo de tanta resistência ao bem dos indígenas".

Minutos antes do início da greve, marcada para terminar às 20h (horário local), sete movimentos sociais, que apóiam o governo, entre eles organizações indígenas, afirmaram que não vão aderir à greve nestes quatro departamentos. Eles argumentam que não foram convocados para a reunião da última segunda-feira quando a paralisação foi decidida.

Além disso, querem "defender" a constituinte. O vice-presidente Alvaro García Linera disse que o protesto pretende "dividir" o país, mas isso não ocorrerá. "Nós falamos a esse partido (Podemos) que está acostumado a presentear riquezas naturais que existem bolivianos que vão defender sua pátria", disse ele, segundo o jornal La Razón.

Nesta queda de braço, a presidente da Assembléia Constituinte, Silvia Lazarte, disse à imprensa boliviana: "Nao é só porque o Podemos não quer que vamos parar as discussões sobre a nova carta".

Os debates na assembléia constituinte, informou, continuarão, normalmente, nesta sexta-feira. Um claro sinal de que, como afirmaram analistas bolivianos, não existem negociações entre os manifestantes - que estão na região conhecida "Oriente" do país - e o governo, instalado no "Ocidente", onde concentra-se maior número de indígenas, índices de pobreza e eleitores de Morales.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página