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11/09/2006 - 12h05

Bush tenta capitalizar perigo terrorista no 11/9

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

O quinto aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001 é uma oportunidade redonda para grandes exercícios de retrospectiva e de perspectiva.

No seu esforço de futurologia, o historiador da Universidade de Harvard, Niall Ferguson, observa que a história será um "juiz bondoso" com George W. Bush por seu sucesso para deter a ameaça jihadista. Já o historiador de Princeton, Sean Wilentz, arremata que Bush será visto "possivelmente como o pior presidente da história americana" por sua resposta aos atentados, o desastre no Iraque e às divisões que causou dentro do seu país e no mundo.

A revista The Economist prefere ser mais econômica nas suas pinceladas históricas. Ela salienta que num ponto todos concordam: graças ao 11 de setembro ninguém poderá rebaixar George W. Bush a uma mera nota de rodapé.

Claro que o presidente está preocupado com seu legado histórico, mas neste aniversário redondo dos atentados ele tem desafios mais imediatos em meio a uma maratona de reminiscências que incluem visitas aos três locais alvejados pelo terror em 2001 (Manhattan, Pentágono e Pensilvânia) e um discurso solene à nação nesta segunda-feira à noite, que se segue a uma saraivada de pronunciamentos diante de platéias simpáticas, nos quais o nome de Osama Bin Laden voltou a ser mencionado com freqüência.

O caráter das reminiscências é supostamente apolítico e de fato é prerrogativa de Bush liderar as solenidades em nome de todos os americanos. Era o presidente em 2001. É o presidente neste 11 de setembro. Mas, como lembrou o jornal New York Times, a reminiscência tem o objetivo de "reajustar o relógio" para um tempo distante - antes da invasão do Iraque em 2003 - quando Bush era retratado como um resoluto (e não teimoso ou incompetente ou desonesto) comandante-em-chefe.

Desgaste

O investimento no futuro para Bush é mais a curto prazo: as eleições para o Congresso em novembro, nas quais a maioria republicana está perigosamente ameaçada, pelo menos na Câmara, em parte justamente devido ao desgaste sofrido pelo governo com sua empreitada iraquiana. Com este desgaste, a idéia é, na medida do possível, mudar de assunto e falar da chamada guerra mais ampla contra o terror, tratando o Iraque como uma das frentes de batalha. A palavra-de-ordem é que a "América está mais segura" desde os atentados de 2001.

A realidade interfere nesta estratégia de relações públicas da Casa Branca.

Mesmo as reminiscências sobre o 11 de setembro não são tão gloriosas como Bush gostaria e precisa. Há um debate vigoroso nos últimos dias sobre a incompetência de inteligência do governo para impedir os ataques (e aqui os estilhaços atingem também o governo anterior, de Bill Cllinton) e a constatação de que, como se já não bastasse o atoleiro no Iraque, as coisas não marcham bem no Afeganistão com o ressurgimento do Talebã.

Conforme manda o figurino, tanto o vice-presidente Dick Cheney como a secretária de Estado Condoleezza Rice usaram suas entrevistas nos programas dominicais de televisão para uma defesa agressiva das guerras no Afeganistão e Iraque, embora 54% dos entrevistados em uma pesquisa New York Times/CBS tenham dito que o envolvimento americano naqueles dois países estava criando mais terroristas.

John Kerry

A oposição democrata vai à carga e não cede o terreno obsequiosamente para a narrativa oficial. Basta ver o discurso feito no sábado pelo senador John Kerry, o candidato derrotado por Bush nas eleições presidenciais de 2004.

Kerry pediu o envio de mais tropas americanas para o Afeganistão enquanto acusava o governo Bush de tentar salvar a maioria republicana no Congresso, alimentando o medo da opinião pública de futuros ataques terroristas, ao invés de consertar o que ele definiu como o desastre iraquiano.

Portanto, nesta data redonda do 11 de setembro - pretexto para retrospectivas e perspectivas históricas- existe o foco no imediato, ou seja, nas eleições para o Congresso, que devem acontecer em menos de dois meses.

Estas eleições poderão ser decididas pelo sucesso do governo republicano para mais uma vez capitalizar o perigo terrorista - que impediu que Bush se transformasse em uma nota de rodapé nas enciclopédias - ou na insistência da oposição democrata de que a guerra no Iraque tornou o país mais inseguro por ter distraído as atenções e desviado recursos da luta contra a rede al-Qaeda e suas florescentes subsidiárias.
 

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