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11/09/2006 - 14h52

Cerimônias de 11/9 acionam "gatilho do medo" em Nova York

BRUNO GARCEZ
da BBC, em Nova York

Os inúmeros eventos para marcar os cinco anos dos atentados de 11 de Setembro, que mataram 2.749 pessoas em Nova York, acabam agindo como um "gatilho do medo" entre os nova-iorquinos que sofreram traumas com a tragédia.

É essa a opinião de Joel McLough, diretor da Families Forward, uma entidade ligada à Faculdade de Medicina da New York University, que presta auxílio médico e psicológico a famílias que perderam parentes nos atentados realizados há cinco anos.

"Uma das características do estresse pós-traumático é o senso de que você está sob risco constante. Os eventos para marcar os cinco anos dos ataques, os vários filmes sobre o tema e diversas atividades ligadas ao atentado são capazes de despertar medo e ansiedade, podem agir como um gatilho, um lembrete", diz McLough.

Nessa temporada, afirma, é comum que muitos revivam algumas de suas costumeiras fobias e se sintam hipersensíveis. "Isso pode se dar quando a pessoa embarca em um avião ou mesmo quando entra em um elevador."

A Families Forward atende a centenas de pessoas regularmente. De acordo com McLough, indivíduos de todas as faixas etárias acabam sendo igualmente atingidas.

"Adultos podem ser tão vulneráveis quanto crianças. Crianças, inclusive, têm muitas vezes uma forte capacidade de resistência e adaptação. Mas damos especial atenção a elas, principalmente quando mudam de colégio, pois procuramos acompanhar como irão lidar com momentos estressantes de suas vidas e a troca de escola costuma ser um deles", conta o diretor da Families Forward.

Pesquisa

Uma pesquisa recém-divulgada pelo jornal 'The New York Times" mostrou que os nova-iorquinos se sentem mais inseguros do que o resto dos habitantes dos EUA.

Um total de 69% dos moradores da cidade diz se sentir muito preocupado com a possibilidade de um novo atentado. Um forte contraste com a média nacional, que é de 22%.

O total de habitantes que se sente despreparado para um possível atentado é de 51%. A média nacional fica um pouco abaixo desse índice, com 44%.

"Faz sentido que os nova-iorquinos, que foram os mais afetados por essa tragédia, tenham uma sensação de que uma fatalidade paira sobre eles", afirma McLough.

Fatores do medo

Os fatores que metem medo nos nova-iorquinos vão desde a presença de aviões no céu até a política externa do governo do presidente George W. Bush.

"Às vezes um sujeito está vendo um avião passando lá em cima, e as pessoas já começam a olhar para ver o que está acontecendo. O pessoal está com esse trauma de um novo ataque. E parece que sempre vai existir. Basta qualquer coisinha, para todo mundo ficar com medo", conta o brasileiro Bernando de Oliveira, que mora na cidade há 21 anos.

O estudante Benjamin Glazer, que mora no subúrbio de Nova York, conta que costuma se preocupar quando embarca em um vôo internacional, algo que não sentia antes dos atentados.

"Quando estou em um vôo internacional, a idéia de que alguma mais séria pode ocorrer passa pela minha cabeça. É uma conseqüência desagradável, mas passamos a ver o mundo de forma diferente após 11 de setembro."

Ramo Sher, que ganha a vida vendendo livros sobre os atentados como souvenires no local que abrigava as torres do World Trade Center, diz que, a despeito de seu trabalho, prefere não relembrar o dia dos ataques.

"Eu vi e ouvi o segundo avião bater conta uma das torres. É assustador lembrar o som da colisão. Vi as pessoas pulando. O mais angustiante era que não podíamos fazer nada para ajudar. Por muito tempo fiquei com medo de avião. A lembrança daquele dia é amedrontadora. Prefiro não pensar a respeito."

Política externa

Para muitos em Nova York e em outras partes dos Estados Unidos, em vez de reforçar a segurança dos americanos, o governo do presidente George W.Bush está minando-a cada vez mais, através de sua política externa.

É o que pensa David Potorti, diretor da organização September the 11th Families for a Peaceful Tomorrow --entidade que visa dar apoio às vítimas dos ataques cometidos há cinco anos. "A atual administração não contribuiu para nossa segurança. Eu certamente não me sinto mais seguro e temo por meus filhos e pela futura geração."

De acordo com ele, que perdeu um irmão nos atentados do World Trade Center, pouco após os atentados, os Estados Unidos tinham tudo a seu favor para combater a ameaça terrorista com pleno apoio de outros países, mas desperdiçaram uma excelente chance.

"Pessoas no Irã e no Egito fizeram vigília e acenderam velas por nós. Isso nunca tinha ocorrido. Nossa resposta foi a pior possível. Em vez de estender a mão, nosso governo preferiu ameaçar outros países, dizendo 'ou você está conosco ou está com os terroristas'", afirma.

"Como foi que transformamos tanta boa vontade em medo e ressentimento? A política externa americana acabou dando poder a elementos extremistas. Hoje em dia, definitivamente não me sinto mais seguro e temo por meus filhos e pelas gerações futuras."

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