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13/09/2006 - 14h23

Evento da ONU discutirá ajuda a países com 'fuga de cérebros'

PABLO UCHOA
da BBC Brasil, em Londres

A possibilidade de países ricos cooperarem com países mais pobres que vêem parte de seus profissionais qualificados imigrarem ao exterior promete gerar divergências em um evento na sede da ONU (Organização das Nações Unidas), nestas quinta-feira e sexta-feira.

Segundo Gregory Maniatis, conselheiro da instituição, a possiblidade de conceder ajuda financeira ou de outra natureza é vista com bons olhos por muitas nações desenvolvidas que se beneficiam da mão-de-obra qualificada estrangeira e é defendida pela ONU.

Mas enquanto os países fornecedores de mão-de-obra usam a expressão "fuga de cérebros" para se referir à saída de seus profissionais qualificados, as nações mais ricas do mundo preferem o termo "circulação de cérebros" – mais brando – para se referir ao mesmo fenômeno.

"(Os países ricos) vêem a migração de um ponto de vista mais gerencial, de controlar os fluxos de migração, enquanto nós percebemos o mesmo fenômeno de maneira mais integral", diz o embaixador Sérgio Florêncio, representante do Brasil no evento Diálogo de Alto sobre Migrações e Desenvolvimento.

"Nós defendemos que é preciso olhar também a dimensão dos direitos humanos e do desenvolvimento."

Fuga "benéfica"

A ONU quer aproveitar o evento para promover a idéia de que a fuga de cérebros pode beneficiar países fornecedores de mão-de-obra, se eles receberem compensações pelo investimento em profissionais que emigrarão no futuro.

Um estudo do Banco Mundial mostrou que até 90% das pessoas com educação superior de determinados países vivem no estrangeiro.

Segundo a ONU, cerca de 60% dos trabalhadores qualificados de países latino-americanos mais pobres – como Haiti, Guiana e Trinidad e Tobago – vivem nas nações industrializadas.

Essa proporção é de até 55% em nações africanas como Angola, Burundi, Gana, Quênia, Ilhas Maurício, Moçambique, Serra Leoa, Uganda e Tanzânia.

Mas é consenso que, na maioria dos casos, a perspectiva de emigração é o que leva milhares de pessoas a abraçar carreiras profissionais que de outra maneira não seguiriam.

A questão é quem paga a conta da formação dos profissionais que abandonam seus países.

Saúde

O especialista da ONU Gregory Maniatis cita o exemplo dos profissionais de saúde, que têm vistos facilitados para muitos países desenvolvidos, inclusive a Grã-Bretanha.

Dos 3,2 mil médicos que se formam anualmente em Gana, 900 emigram. Na África do Sul, os médicos emigrantes são 9 mil dos 33 mil graduados por ano.

"Se a resposta do governo (ao problema da fuga de cérebros) for proibir a imigração, ou tentar fazer com que os países receptores parem de recrutar, as pessoas deixarão de ser médicos no longo prazo", defende.

"Não é melhor que países receptores ajudem a construir escolas e estabeleçam canais de cooperação para formar profissionais que atendam a todos?"

Semelhante proposta - simpática por exemplo à Grã-Bretanha - não deveria afetar diretamente o Brasil, segundo estudos recentes considerados pela ONU.

Apenas 2,2% dos brasileiros com educação superior optam por emigrar, segundo o Banco Mundial. Um estudo recente da Unicamp estimou o fluxo em 140 mil a 160 mil pessoas por ano.

A proporção também é baixa em países populosos como Índia (4,3%), China (3,8%) e Indonésia (2,1%).

Especialistas dizem que esses países na verdade se beneficiam da "fuga (ou circulação) de cérebros", porque o conhecimento adquirido no exterior é compartilhado com profissionais que permaneceram na terra natal.

Remessas

O embaixador Sérgio Florêncio disse que o Brasil insistirá na necessidade de "reduzir substancialmente" os custos para que profissionais no estrangeiro enviem dinheiro para seus países de origem.

Em alguns casos, disse o embaixador, os custos chegam a 20% das remessas.

Brasileiros no exterior enviaram ao Brasil cerca de US$ 5,6 bilhões (cerca de R$ 12,5 bilhões) em 2004, colocando o país na oitava posição mundial em termos de volume financeiro recebido desta maneira.

Em termos globais, as remessas somam cerca de US$ 225 bilhões (quase R$ 500 bilhões) por ano, respondendo por 15% a 20% do PIB de países mais pobres.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, propôs que a discussão dos temas seja ampliada em um fórum permanente sobre migrações e desenvolvimento, que ainda não existe no sistema multilateral de consultas.

Para Annan, as questões refletem "uma nova era de mobilidade".
 

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