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19/09/2006 - 12h01

Análise: Bush e Ahmadinejad fazem "duelo" no "faroeste diplomático" da ONU

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Oito horas deverão separar os discursos nesta terça-feira de George W. Bush e Mahmoud Ahmadinejad durante a assembléia geral das Nações Unidas, em Nova York.

Os disparos retóricos serão a coisa mais próxima de um duelo entre os presidentes dos Estados Unidos e Irã. E talvez seja o máximo para contentar a platéia mundial, bem menos do que o debate de televisão proposto por Ahmadinejad no mês passado e que o governo Bush rejeitou prontamente dizendo que não passava de uma jogada de publicidade.

De qualquer forma, os dois dirigentes querem ganhar pontos nesta assembléia geral, que terá o impasse envolvendo o programa nuclear iraniano como um dos temas cruciais. Serão mais de 70 discursos de dirigentes mundiais, mas seguramente existe mais ansiedade em relação aos pronunciamentos de Bush e Ahmadinejad.

O presidente americano antecipou que seus recados ao regime de Teerã serão pedra de toque de seu discurso.

Impaciência

Bush prometeu que usará seu pronunciamento para advertir o Irã no sentido de que acate a resolução das Nações Unidas para suspender seu programa de enriquecimento de urânio.

Em uma coletiva na sexta-feira, o presidente estava impaciente e ressaltou que as conversações envolvendo Teerã e países europeus estão se arrastando.

Apesar da impaciência, ceticismo e duras palavras contra o Irã, a previsão é de que no seu discurso da terça-feira, Bush expresse seu apoio a estas negociações. Qual é a alternativa que ele tem neste momento diante da resistência a sanções dentro do Conselho de Segurança da ONU, em particular da Rússia e China?

O prazo estabelecido pelo Conselho de Segurança para a suspensão do enriquecimento de urânio pelo Irã venceu em 31 de agosto, mas a conversa continua, com sinais ambíguos emitidos pelas autoridades de Teerã.

Figura poderosa

Ë difícil prever quais serão os sinais de Ahmadinejad no seu discurso da terça-feira.

No ano passado, ele emergiu da condição de obscuro linha-dura para a de um dos mais visíveis oponentes do governo Bush. No seu pronunciamento de debutante na assembléia geral da ONU em 2005, Ahmadinejad foi intrigante, para dizer o mínimo, com o tom místico de suas palavras. Ele disse mais tarde para um clérigo iraniano que sentira que havia uma "aura" de santidade o cercando durante o discurso.

Nunca se sabe. É possível que Ahmadinejad use o cenário das Nações Unidas para algum gesto conciliatório. Mas o mais provável é que qualquer palavra na assembléia geral sobre a questão nuclear não seja a última palavra iraniana. Algo pode ser dito com mais segurança.

No geral, como diz o analista Karim Sadjadpour, do International Crisis Group, baseado em Bruxelas, "Ahmadinejad é visto como uma figura mais poderosa do que se antecipara quando ele foi eleito".

Faroeste

Mas enquanto Bush e Ahmadinejad não trocam tiros no faroeste diplomático de Nova York, o presidente francês Jacques Chirac faz os seus disparos.

Na segunda-feira, em uma entrevista à rádio francesa, ele confirmou que não resiste a um duelo com o presidente americano. Chirac pressionou o Conselho de Segurança a suavizar suas ameaças de sanções contra o Irã, quando no ar está um balão de ensaio lançado por Teerã de que pode suspender o seu enriquecimento de urânio não antes, mas durante negociações.

É verdade que, nas últimas semanas, os Estados Unidos e seus aliados europeus suavizaram sua abordagem na crise nuclear iraniana, mas a sugestão francesa parece ir além da dose de paciência de Washington.

O xerife Bush não deve estar muito satisfeito com o pistoleiro Chirac antes da saraivada no duelo indireto com o arquiinimigo Ahmadinejad.
 

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